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Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

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precisa apren<strong>de</strong>r uma lição. Não quero incentivar o comportamento irresponsável. Vou <strong>de</strong>ixá-la em banho-maria<br />

por um tempo; vai-lhe fazer bem. Ela precisa apren<strong>de</strong>r que suas atitu<strong>de</strong>s têm conseqüências. Fui ofendido— não<br />

preciso dar o primeiro passo. Como posso perdoar se ele nem mesmo está arrependido?'Eu controlo meus<br />

argumentos até que aconteça alguma coisa que <strong>de</strong>rrube a minha resistência. Quando, finalmente, amoleço a ponto<br />

<strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r o perdão, isso parece uma capitulação, um salto da lógica fria para um sentimento piegas.<br />

Por que, afinal, <strong>de</strong>i um salto <strong>de</strong>sses? Já mencionei um fator que me motiva como cristão: na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> filho<br />

do Pai, recebo or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> perdoar. Mas os cristãos não têm o monopólio do perdão. Por que alguns <strong>de</strong> nós, cristãos<br />

e não cristãos igualmente, escolhemos esta atitu<strong>de</strong> nada natural? Posso i<strong>de</strong>ntificar pelo menos três motivos<br />

pragmáticos, e quanto mais penso nesses motivos para o perdão, mais reconheço neles uma lógica que parece<br />

fundamental, e não apenas "difícil".<br />

Primeiro, o perdão é a única alternativa que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ter o ciclo da culpa e da dor, interrompendo a ca<strong>de</strong>ia da<br />

ausência <strong>de</strong> graça. No Novo Testamento, a palavra grega mais comum utilizada para o perdão significa,<br />

literalmente, soltar, jogar para longe, libertar-se.<br />

Prontamente admito que o perdão é injusto. O hinduísmo, com sua doutrina do karma, mostra um senso muito<br />

mais gratificante <strong>de</strong> justiça. Os mestres hindus calcularam com precisão matemática quanto tempo leva para que<br />

seja feita justiça a uma pessoa: a fim <strong>de</strong> equilibrar o castigo por todos os meus erros nesta vida e nas vidas futuras,<br />

6.800.000 encarnações seriam suficientes.<br />

O casamento dá um vislumbre do processo do karma operando. Duas pessoas obstinadas vivem juntas, dão nos<br />

nervos uma da outra e perpetuam a luta pelo po<strong>de</strong>r por meio <strong>de</strong> um cabo-<strong>de</strong>-guerra emocional. — Não consigo<br />

acreditar que você esqueceu o aniversário <strong>de</strong> sua própria mãe —, diz alguém.<br />

—Espere um pouco, você não ficou encarregado <strong>de</strong> tomar conta do calendário?<br />

—Não tente passar a culpa para mim, ela é sua mãe.<br />

—Sim, mas eu lhe pedi na semana passada que me lembrasse. Por que você não me lembrou?<br />

—Você está louco, ela é sua mãe. Você não é capaz <strong>de</strong> lembrar o aniversário <strong>de</strong> sua própria mãe?<br />

—Por que eu <strong>de</strong>veria? É obrigação sua me lembrar<br />

O diálogo vazio prossegue por, digamos, 6.800.000 ciclos até que, finalmente, um dos cônjuges diz: — Chega!<br />

Vou interromper essa ca<strong>de</strong>ia. E a única maneira <strong>de</strong> fazê-lo é por meio do perdão: Sinto<br />

muito. Você me perdoa?<br />

A palavra ressentimento expressa o que acontece se o ciclo continua ininterrupto. Ela significa, literalmente,<br />

"sentir <strong>de</strong> novo": o ressentimento apega-se ao passado, libera-o muitas e muitas vezes, arranca cada nova casca,<br />

<strong>de</strong> modo que a ferida nunca sara. Este padrão, sem dúvida, começou com o primeiro casal na terra. "Pense em<br />

todas as altercações que Adão e Eva <strong>de</strong>vem ter tido no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> seus novecentos anos", escreveu Martinho<br />

Lutero. 1 "Eva diria: 'Você comeu a maçã', e Adão replicaria: 'Você a <strong>de</strong>u para mim'."<br />

Dois romances escritos por autores premiados com o Nobel exemplificam o padrão em um cenário mo<strong>de</strong>rno.<br />

Em Love in the Time of Cholera [Amor no tempo do cólera], Gabriel Garcia Márquez 2 retrata um casamento que<br />

se <strong>de</strong>sintegra por causa <strong>de</strong> um sabonete. Era obrigação da mulher manter a casa em or<strong>de</strong>m, inclusive na<br />

responsabilida<strong>de</strong> da provisão <strong>de</strong> toalhas, papel higiênico e sabonete no banheiro. Um dia ela se esqueceu <strong>de</strong><br />

colocar o sabonete, um esquecimento que o seu marido classificou exageradamente: "Estive tomando banho por<br />

quase uma semana sem sabonete", e ela o negou com vigor. Embora fosse verda<strong>de</strong> que realmente tinha esquecido,<br />

o orgulho estava em jogo e ela não voltaria atrás. Durante os sete meses seguintes eles dormiram em quartos<br />

separados e comeram em silêncio.<br />

"Mesmo <strong>de</strong>pois que ficaram idosos e plácidos", escreve Marquez, "tinham muito cuidado em tocar no assunto,<br />

pois as feridas mal cicatrizadas po<strong>de</strong>riam começar a sangrar <strong>de</strong> novo como se tivessem sido infligidas ontem".<br />

Como po<strong>de</strong> um sabonete acabar com um casamento? Porque nenhum dos parceiros foi capaz <strong>de</strong> dizer: "Chega.<br />

Isto não po<strong>de</strong> continuar. Sinto muito. Perdoe-me".<br />

The Knot of Vipers [Ninho <strong>de</strong> Víboras], <strong>de</strong> François Mauriac, 3 conta uma história semelhante <strong>de</strong> um velho<br />

homem que passa as últimas décadas — décadas! — <strong>de</strong> seu casamento dormindo no corredor. Uma brecha se<br />

abrira há trinta anos porque o marido não havia <strong>de</strong>monstrado bastante preocupação quando a filha <strong>de</strong> cinco anos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> ficou doente. Agora, nem o marido nem a mulher queriam dar o primeiro passo. Todas as noites ele<br />

espera que ela se aproxime, mas ela não aparece. Todas as noites ela fica acordada esperando que ele se aproxime,<br />

e ele não aparece. Nenhum dos dois vai interromper o ciclo que começou há vários anos. Nenhum <strong>de</strong>les vai<br />

perdoar.<br />

Em suas memórias <strong>de</strong> uma família realmente <strong>de</strong>sarranjada, The Liar's Club [O Clube dos Mentirosos], Mary<br />

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