Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
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—A gente consegue i<strong>de</strong>ntificar os homossexuais por aqui —, minha esposa acrescentou. — Há alguma coisa<br />
diferente neles. Eu sempre os reconheço.<br />
Nós éramos amigos há cerca <strong>de</strong> cinco anos quando recebi um telefonema <strong>de</strong> Mel perguntando se po<strong>de</strong>ríamos<br />
nos encontrar no Marriott Hotel, perto do Aeroporto O'Hare. Cheguei na hora marcada, sentei-me sozinho no<br />
restaurante por uma hora e meia lendo o jornal, o cardápio, o verso dos pacotinhos <strong>de</strong> açúcar e tudo mais que<br />
consegui encontrar. Nada do Mel. Exatamente quando me levantei para ir embora, irritado com o transtorno, ele<br />
entrou apressado. Desculpou-se, quase tremendo. Ele fora ao Marriott errado e então ficou preso em um<br />
engarrafamento no tráfego <strong>de</strong> Chicago. Tinha apenas uma hora antes do seu vôo. Eu po<strong>de</strong>ria sentar-me um pouco<br />
mais com ele para ajudá-lo a acalmar-se? "Naturalmente."<br />
Aturdido com os acontecimentos da manhã, Mel parecia oprimido e perturbado, à beira das lágrimas. Ele<br />
fechou os olhos, respirou profundamente várias vezes e começou a conversa com uma frase que nunca esquecerei.<br />
— Philip, talvez você já tenha imaginado que eu sou gay.<br />
A idéia não tinha nunca cruzado a minha mente. Mel tinha uma esposa amorosa e <strong>de</strong>dicada e dois filhos.<br />
Ensinava no Seminário Fuller, era pastor da Igreja Evangélica da Aliança, fazia filmes e escrevia best-sellers<br />
cristãos. Mel, gay? Só se o papa fosse muçulmano.<br />
Naquela ocasião, apesar da minha vizinhança, eu não conhecia nenhuma pessoa gay. Não sabia nada a respeito<br />
<strong>de</strong>ssa subcultura. Fazia piadas e contava histórias a respeito da Parada do "Orgulho Gay" (que passava pela<br />
minha rua) aos meus amigos suburbanos, mas não tinha conhecidos homossexuais, muito menos amigos. A<br />
idéia era repugnante.<br />
Agora estava ouvindo que um dos meus melhores amigos tinha um lado secreto que eu não conhecia. Recostei<br />
na ca<strong>de</strong>ira, respirei fundo algumas vezes e pedi a Mel que me contasse sua história.<br />
Não estou traindo a confiança <strong>de</strong> Mel contando a sua história, porque ele já a levou a público em seu livro<br />
Stranger at the Gate: To be Gay and Christian in America [Estranho no portão: ser gay e cristão na América]. O<br />
livro menciona sua amiza<strong>de</strong> comigo e também conta a respeito <strong>de</strong> alguns cristãos conservadores com os quais ele<br />
trabalhou escrevendo os livros <strong>de</strong>les: Francis Schaeffer, Pat Robertson, Oliver North, Billy Graham, W. A.<br />
Criswell, Jim e Tammy Faye Bakker, Jerry Falwell. Nenhuma <strong>de</strong>ssas pessoas conhecia a vida secreta <strong>de</strong> Mel na<br />
ocasião em que trabalhara com elas e, <strong>de</strong> maneira bastante compreensível, algumas <strong>de</strong>les se sentem zangadas com<br />
ele agora.<br />
Devo esclarecer que não tenho nenhum <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> mergulhar nas importantes questões teológicas e morais do<br />
homossexualismo. Escrevo a respeito <strong>de</strong> Mel por um único motivo: minha amiza<strong>de</strong> com ele <strong>de</strong>safiou fortemente<br />
minha noção <strong>de</strong> como a graça afetaria minha atitu<strong>de</strong> para com pessoas "diferentes", mesmo quando essas<br />
diferenças são sérias e, talvez, insolúveis.<br />
Fiquei sabendo por Mel que o homossexualismo não é uma escolha <strong>de</strong> vida casual, como eu supunha. Conforme<br />
Mel diz em seu livro, ele sentia <strong>de</strong>sejos homossexuais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a adolescência; tentou com força reprimir esses<br />
<strong>de</strong>sejos e, quando adulto, buscou fervorosamente uma "cura". Jejuou, orou e foi ungido para receber a cura.<br />
Passou por rituais <strong>de</strong> exorcismo dirigidos por protestantes e também católicos. Matriculou-se em terapias rígidas,<br />
que sacudiam o seu corpo com eletricida<strong>de</strong> toda vez que se sentia estimulado por fotografias <strong>de</strong> homens. Em uma<br />
ocasião, tratamentos químicos o drogaram, <strong>de</strong>ixando-o um tanto abobalhado. Acima <strong>de</strong> tudo, Mel <strong>de</strong>sejava<br />
<strong>de</strong>sesperadamente não ser gay.<br />
Lembro-me <strong>de</strong> um telefonema que me acordou <strong>de</strong> madrugada. Sem se preocupar em apresentar-se, Mel disse<br />
com voz categórica: — Estou sobre o parapeito <strong>de</strong> um quinto andar olhando para o Oceano Pacífico. Você tem<br />
<strong>de</strong>z minutos para me dizer por que eu não <strong>de</strong>veria pular. Não era uma brinca<strong>de</strong>ira para chamar a atenção. Mel<br />
quase tivera sucesso em uma sangrenta tentativa <strong>de</strong> suicídio há pouco tempo. Eu lhe roguei, usando todos os<br />
argumentos pessoais, existenciais e teológicos que consegui imaginar em meu estado <strong>de</strong> sonolência. <strong>Graça</strong>s a<br />
Deus, Mel não pulou.<br />
Também me lembro <strong>de</strong> uma cena triste alguns anos <strong>de</strong>pois na qual Mel me trouxe algumas lembranças <strong>de</strong> seu<br />
amante. Mostrou-me um suéter <strong>de</strong> lã azul e me pediu que o jogasse na lareira. Ele havia pecado e agora estava<br />
arrependido, dizia, e estava abandonando aquela vida e voltando para a sua esposa e família. Nós nos alegramos e<br />
oramos juntos.<br />
Lembro-me <strong>de</strong> outra cena triste quando Mel <strong>de</strong>struiu seu cartão <strong>de</strong> membro do Califórnia Bath Club. Uma<br />
misteriosa enfermida<strong>de</strong> estava começando a aparecer entre a população gay da Califórnia, e centenas <strong>de</strong>les<br />
estavam abandonando o clube. —Não estou fazendo isto por medo da doença, mas porque sei que é a coisa certa a<br />
fazer —, Mel me disse. Ele pegou uma tesoura e cortou em pedaços o cartão <strong>de</strong> plástico duro.<br />
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