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Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

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Mel oscilava entre períodos <strong>de</strong> promiscuida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>. Às vezes, agia como um adolescente intoxicado<br />

<strong>de</strong> hormônios e outras, como um filósofo. —Aprendi a diferença entre sofrimento virtuoso e sofrimento<br />

provocado pela culpa —, ele me disse uma vez. —Os dois são reais, os dois são excruciantes, mas o último é<br />

muito pior. O sofrimento virtuoso, como o que as pessoas celibatárias sentem, sabe o que está faltando, mas não<br />

conhece o que per<strong>de</strong>u. O sofrimento pela culpa sabe tudo. Para Mel, o sofrimento pela culpa significava a<br />

consciência persistente <strong>de</strong> que, se escolhesse sair do armário, per<strong>de</strong>ria seu casamento como também sua carreira e<br />

ministério e muito provavelmente a sua fé.<br />

Apesar <strong>de</strong>sses sentimentos <strong>de</strong> culpa, Mel finalmente concluiu que suas opções se estreitaram em duas:<br />

insanida<strong>de</strong> ou integrida<strong>de</strong>. Acreditava que as tentativas <strong>de</strong> reprimir os <strong>de</strong>sejos homossexuais e viver no casamento<br />

heterossexual ou no celibato gay o levariam à insanida<strong>de</strong> (naquela ocasião, ele estava se tratando com um<br />

psiquiatra cinco dias por semana, a cem dólares por sessão). A integrida<strong>de</strong>, ele <strong>de</strong>cidiu, significava encontrar um<br />

parceiro gay e abraçar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> homossexual.<br />

A odisséia <strong>de</strong> Mel me confundiu e me perturbou. Minha esposa e eu ficamos acordados muitas longas noites com<br />

Mel discutindo o seu futuro. Juntos repassamos todas as passagens bíblicas relevantes e o que <strong>de</strong>viam significar.<br />

Mel continuava perguntando por que os cristãos <strong>de</strong>stacavam todas as referências às uniões entre o mesmo sexo<br />

enquanto ignoravam outros comportamentos mencionados nas mesmas passagens.<br />

A pedido <strong>de</strong> Mel, assisti à primeira marcha dos gays em Washington, em 1987. Fui, não como participante, e<br />

nem mesmo como jornalista, mas como amigo <strong>de</strong> Mel. Ele me queria por perto enquanto avaliava algumas das<br />

<strong>de</strong>cisões que pesavam sobre ele.<br />

Cerca <strong>de</strong> 300.000 participantes gays marcharam, e apenas uma minoria preten<strong>de</strong>u chocar o público usando<br />

roupas que nenhum telejornal mostraria. O dia <strong>de</strong> outubro era frio, e nuvens cinzentas <strong>de</strong>rramaram gotas <strong>de</strong> chuva<br />

sobre as colunas <strong>de</strong>sfilando pela capital.<br />

Em uma das laterais, bem na frente da Casa Branca, observei uma confrontação raivosa. Policiais montados<br />

formaram um círculo protetor ao redor <strong>de</strong> pequenos grupos que, graças a seus cartazes cor-<strong>de</strong>-laranja com<br />

ilustrações vivas do fogo do inferno, haviam conseguido atrair a atenção da maioria dos fotógrafos da imprensa.<br />

Embora estivessem superados em número numa proporção <strong>de</strong> mil e quinhentos para um, esses manifestantes<br />

cristãos estavam gritando palavras <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m inflamadas contra os ativistas gays.<br />

"Combustível do inferno! Fora!", o lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong>les gritava em um microfone. E os outros pegavam a <strong>de</strong>ixa: "Fora,<br />

fora...". Quando isso per<strong>de</strong>u a força, passaram para as frases: "Que vergonha! Que vergonha!". Entre as cantorias,<br />

os lí<strong>de</strong>res transmitiam mensagens cheirando a enxofre a respeito <strong>de</strong> Deus reservando o fogo do inferno mais<br />

quente para os sodomitas e outros pervertidos.<br />

"AIDS, AIDS, ela vai pegar vocês", era o último motejo no repertório dos que protestavam, a frase gritada<br />

com mais ardor. Tínhamos acabado <strong>de</strong> assistir a uma triste procissão <strong>de</strong> várias centenas <strong>de</strong> pessoas com AIDS:<br />

muitos em ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> rodas, com corpos esquálidos <strong>de</strong> sobreviventes <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> concentração. Ouvindo a<br />

cantilena, eu não conseguia imaginar como alguém po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>sejar esse <strong>de</strong>stino para outro ser humano.<br />

Da parte <strong>de</strong>les, os gays tinham uma reação mista contra os cristãos. Os <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iros sopravam beijinhos ou<br />

comentavam: "Fanáticos! Fanáticos! Que vergonha para vocês!". Um grupo <strong>de</strong> lésbicas extraiu risadas da<br />

imprensa gritando em uníssono contra os manifestantes: "Queremos suas esposas!".<br />

Entre os participantes da marcha havia pelo menos três mil que se i<strong>de</strong>ntificavam com diversos grupos<br />

religiosos: o movimento católico da "Dignida<strong>de</strong>", o grupo episcopal da "Integrida<strong>de</strong>" e até mesmo um grupinho<br />

<strong>de</strong> Mórmons e Adventistas do Sétimo Dia. Mais <strong>de</strong> mil participantes marcharam sob a ban<strong>de</strong>ira da Igreja da<br />

Comunida<strong>de</strong> Metropolitana (ICM), uma <strong>de</strong>nominação que professa uma teologia principalmente evangélica,<br />

exceto por sua postura a favor do homossexualismo. Este último grupo <strong>de</strong>u uma resposta comovente aos cristãos<br />

que protestavam: aproximaram-se, voltaram-se para eles e cantaram: "Jesus me ama, sim eu sei, pois a Bíblia<br />

assim o diz".<br />

A ironia inopinada nessa cena <strong>de</strong> confronto me atingiu. De um lado, estavam os cristãos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a doutrina<br />

pura (nem mesmo o Concilio Nacional das Igrejas aceitou a <strong>de</strong>nominação ICM em sua membresia). Do outro,<br />

estavam os "pecadores", muitos dos quais abertamente admitindo a prática homossexual. Mas o grupo mais<br />

ortodoxo vomitava ódio e o outro grupo cantava o amor <strong>de</strong> Jesus.<br />

Durante o fim <strong>de</strong> semana em Washington, Mel me apresentou a muitos lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> grupos religiosos. Não posso<br />

lembrar a quantos cultos assisti só no fim <strong>de</strong> semana. Para surpresa minha, a maior parte dos cultos utilizava os<br />

hinos e a liturgia dos evangélicos ortodoxos, e eu não ouvi nada suspeito teologicamente falando pregado do<br />

púlpito. "Muitos cristãos gays são teologicamente bastante conservadores", um dos lí<strong>de</strong>res me explicou.<br />

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