11.05.2013 Views

Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Quando você perdoa alguém, você secciona o erro da pessoa que o cometeu. Você separa essa pessoa do<br />

ato ruim. Você a recria. Em um momento você a i<strong>de</strong>ntifica radicalmente como a pessoa que errou contra você.<br />

No outro, você muda a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>la. Ela é refeita em suas lembranças.<br />

Você não pensa nela agora como a pessoa que o feriu, mas, sim, como a pessoa que precisa <strong>de</strong> você. Você<br />

não a sente agora como a pessoa que se alienou <strong>de</strong> você, mas, sim, como a pessoa que pertence a você. Antes<br />

você a consi<strong>de</strong>rava como uma pessoa po<strong>de</strong>rosa no mal, mas agora você a vê como fraca em suas necessida<strong>de</strong>s.<br />

Você recriou o passado <strong>de</strong>la refazendo-a numa pessoa cujo erro tornou o seu passado doloroso.<br />

Sme<strong>de</strong>s acrescenta muitas advertências. Perdão não é o mesmo que indulto, ele adverte: você po<strong>de</strong> perdoar<br />

uma pessoa que errou contra você e, ainda assim, insistir em um castigo justo para esse erro. Mas, se você<br />

consegue obrigar-se a perdoar, você irá liberar o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> cura tanto em você como na pessoa que o ofen<strong>de</strong>u.<br />

Um amigo meu que trabalha com os problemas da cida<strong>de</strong> questiona se o perdão daqueles que não se<br />

arrepen<strong>de</strong>m faz sentido. Este homem vê diariamente os resultados do mal no abuso <strong>de</strong> crianças, nas drogas, na<br />

violência e na prostituição. "Se eu sei que uma coisa é errada e 'perdôo' sem discriminar o erro, o que estou<br />

fazendo?", ele pergunta. "Estou potencialmente capacitando-o, em vez <strong>de</strong> libertar."<br />

Meu amigo me contou histórias <strong>de</strong> pessoas com as quais trabalha, e eu concordo que algumas <strong>de</strong>las parecem<br />

além do alcance do perdão. Mas não posso esquecer a cena emocionante do bispo perdoando Jean Valjean, que<br />

não admitiu o erro. O perdão tem o seu próprio po<strong>de</strong>r extraordinário que vai além da lei e da justiça. Antes <strong>de</strong> ler<br />

Os Miseráveis, li O Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monte <strong>Cristo</strong>, um romance <strong>de</strong> Alexandre Dumas, compatriota <strong>de</strong> Hugo, que conta a<br />

história da estranha vingança <strong>de</strong> um homem injustiçado contra os quatro homens que tramaram contra ele. O<br />

romance <strong>de</strong> Dumas agradou ao meu senso <strong>de</strong> justiça; o <strong>de</strong> Hugo, <strong>de</strong>spertou em mim o senso da graça.<br />

A justiça tem uma espécie racional e correta <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. O po<strong>de</strong>r da graça é diferente: não é temporal — é<br />

transformador, sobrenatural. Reginald Denny, o motorista <strong>de</strong> caminhão assaltado durante os tumultos no centrosul<br />

<strong>de</strong> Los Angeles, <strong>de</strong>monstrou este po<strong>de</strong>r da graça. Toda a nação assistiu ao ví<strong>de</strong>o gravado <strong>de</strong> um helicóptero<br />

on<strong>de</strong> dois homens quebraram a janela do seu caminhão com um tijolo, arrancaram-no da cabine, espancaram-no<br />

com uma garrafa quebrada e o chutaram até que o seu rosto ficou amassado. No tribunal, seus atormentadores<br />

mostraram-se beligerantes e nada arrependidos, não ce<strong>de</strong>ndo terreno. Com a mídia mundial acompanhado,<br />

Reginald Denny, com o rosto ainda inchado e <strong>de</strong>formado, <strong>de</strong>scartou-se dos seus advogados, aproximou-se das<br />

mães dos dois acusados, abraçou-as e lhes disse que os perdoava. As mães abraçaram Denny e uma <strong>de</strong>las<br />

<strong>de</strong>clarou: "Eu amo você".<br />

Não sei que efeito essa cena causou nos ru<strong>de</strong>s acusados, algemados ali perto. Mas sei que o perdão, e apenas o<br />

perdão, po<strong>de</strong> iniciar o <strong>de</strong>gelo na parte culpada. E também sei que efeito tem sobre mim quando um colega <strong>de</strong><br />

trabalho, ou minha esposa, me procura espontaneamente e me oferece perdão por alguma coisa errada que eu sou<br />

orgulhoso e teimoso <strong>de</strong>mais para confessar.<br />

O perdão — não merecido, não adquirido — po<strong>de</strong> cortar as cordas e soltar o fardo opressivo da culpa. O Novo<br />

Testamento mostra um Jesus ressurreto levando Pedro pela mão através <strong>de</strong> um ritual triplo <strong>de</strong> perdão. Pedro não<br />

precisava andar pela vida culpado, <strong>de</strong> olhos baixos como quem traiu o Filho <strong>de</strong> Deus. Definitivamente não. Sobre<br />

as costas <strong>de</strong> tais pecadores transformados <strong>Cristo</strong> edificou a sua igreja.<br />

O perdão quebra o ciclo da culpa e afrouxa a força opressora do pecado. Realiza as duas coisas por meio <strong>de</strong> uma<br />

notável ligação, colocando o perdoador do mesmo lado <strong>de</strong> quem cometeu o erro. Por meio disso, percebemos que<br />

não somos tão diferentes do culpado como gostaríamos <strong>de</strong> pensar. "Eu também sou diferente do que eu mesma<br />

me imagino. Saber disto é perdoar", disse Simone Weil. 9<br />

No início <strong>de</strong>ste capítulo, mencionei um pequeno grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates a respeito do perdão relacionado com o<br />

caso <strong>de</strong> Jeffrey Dahmer. Como acontece com muitas discussões <strong>de</strong>sse tipo, ela começou a <strong>de</strong>rivar das ilustrações<br />

pessoais para o abstrato e teórico. Discutimos horrorizados outros crimes, Bósnia e o Holocausto. Quase por<br />

aci<strong>de</strong>nte, a palavra "divórcio" apareceu e, para surpresa nossa, Rebecca falou.<br />

Rebecca é uma mulher sossegada, e nas semanas em que nos reunimos ela raramente abriu a boca. Ao<br />

mencionar o divórcio, entretanto, começou a contar a sua própria história. Ela havia-se casado com um pastor<br />

conhecido como lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> retiros. Contudo, tornou-se evi<strong>de</strong>nte que seu marido tinha um lado tenebroso. Ele<br />

chapinhava na pornografia e, em suas viagens para outras cida<strong>de</strong>s, visitava prostitutas. Às vezes, ele pedia perdão<br />

à esposa, às vezes, não. Depois <strong>de</strong> algum tempo, ele a <strong>de</strong>ixou por outra mulher, Julianne.<br />

Rebecca teve o crescente sentimento <strong>de</strong> que, se não perdoasse o ex-marido, um duro caroço <strong>de</strong> vingança<br />

passaria para os seus filhos. Durante meses ela orou. No princípio, suas orações pareciam tão vingativas quanto<br />

alguns Salmos: ela pedia a Deus que <strong>de</strong>sse ao ex-marido "o que ele merecia". Finalmente, ela chegou ao ponto <strong>de</strong><br />

42

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!