Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
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CAPÍTULO 18<br />
SABEDORIA DE SERPENTE<br />
Martin Lutner King Jr.<br />
Na minha infância, na década <strong>de</strong> 50, o diretor da escola começava o dia com uma oração lida no<br />
intercomunicador. Na escola jurávamos fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a uma nação "à sombra <strong>de</strong> Deus". Na Escola Dominical<br />
jurávamos fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> às duas ban<strong>de</strong>iras: a americana e a crista. Jamais me ocorreu que a América pu<strong>de</strong>sse um dia<br />
apresentar aos cristãos um novo <strong>de</strong>safio-, como "agraciar" uma socieda<strong>de</strong> cada vez mais hostil a eles.<br />
Até a recente história americana — a versão oficial pelo menos — os dois parceiros, igreja e Estado,<br />
dançavam a mesma valsa. A religião é tão penetrante que os Estados Unidos já foram <strong>de</strong>scritos como uma nação<br />
com a alma <strong>de</strong> uma igreja. The Mayflower Compact [O pacto do Mayflower] especificava que o alvo dos<br />
peregrinos era "assegurado para 1 a glória <strong>de</strong> Deus e avanço da fé cristã e honra <strong>de</strong> nosso Rei e pátria". Nossos<br />
fundadores pensavam que a fé religiosa era essencial para uma <strong>de</strong>mocracia funcionar. Nas palavras <strong>de</strong> John<br />
Adams, "nossa constituição 2 foi feita apenas para um povo moral e religioso. Ela é totalmente ina<strong>de</strong>quada para o<br />
governo <strong>de</strong> qualquer outro povo".<br />
Na maior parte <strong>de</strong> nossa história, até a Suprema Corte fazia eco ao consenso cristão. Em 1931, a corte<br />
<strong>de</strong>clarava: "Somos um povo cristão, 3 garantindo reciprocamente uns aos outros direito igual <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> religiosa<br />
e reconhecendo com reverência o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus". Em 1954, Earl Warren, um presi<strong>de</strong>nte<br />
do Supremo Tribunal famoso entre os conservadores, disse em um discurso: "Creio 4 que ninguém po<strong>de</strong> ler a<br />
história do nosso país sem perceber que a Bíblia e o espírito do Salvador têm sido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, nossos<br />
mentores". As constituições das colônias originais, ele acrescentou, apontavam todas para o mesmo objetivo:<br />
"uma terra governada por princípios cristãos".<br />
- Nós vivemos entre lembretes diários <strong>de</strong> nossa herança cristã. Os próprios nomes das agências do governo — o<br />
serviço civil e o ministério da justiça — apresentam implicações religiosas. Os americanos reagem rapidamente a<br />
<strong>de</strong>sastres, protegem os direitos dos incapacitados, param para ajudar motoristas encalhados, doam bilhões <strong>de</strong><br />
dólares para carida<strong>de</strong> — estes e muitos outros "hábitos do coração" refletem uma cultura nacional que cresceu a<br />
partir <strong>de</strong> raízes cristãs. Apenas alguém que viaja para o estrangeiro po<strong>de</strong> apreciar o fato <strong>de</strong> que nem todas as<br />
culturas incluem tais nuanças da graça.<br />
Sob a superfície, naturalmente, a história conta uma história diferente. Os americanos nativos quase foram<br />
exterminados neste país "cristão". Mulheres tiveram negados seus direitos básicos. "Bons cristãos" no Sul<br />
espancavam seus escravos sem uma pontinha <strong>de</strong> remorso. Tendo sido criado no Sul, sei que os afro-americanos<br />
como um grupo não olham para trás com nostalgia para os "piedosos" dias <strong>de</strong> nossa história primitiva. "Eu teria<br />
sido um escravo naquele tempo", John Perkins nos relembra. Para essas minorias, a mensagem da graça se<br />
per<strong>de</strong>u.<br />
Atualmente, poucas pessoas confun<strong>de</strong>m a igreja e o Estado nos Estados Unidos. E a mudança aconteceu com<br />
uma rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar sem fôlego qualquer um que nasceu nos últimos trinta anos, ficando a imaginar <strong>de</strong> que<br />
consenso cristão estou falando. É incrível que as palavras "à sombra <strong>de</strong> Deus" foram acrescentadas ao Juramento<br />
<strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> apenas em 1954, e a frase "Em Deus nós confiamos" veio a ser o lema oficial da nação em 1956.<br />
Des<strong>de</strong> então, a Suprema Corte baniu as orações nas escolas e alguns professores tentaram proibir seus alunos <strong>de</strong><br />
escrever a respeito <strong>de</strong> alguns temas religiosos. O cinema e a televisão raramente mencionam os cristãos, exceto<br />
para <strong>de</strong>preciá-los, e os tribunais rotineiramente arrancam símbolos religiosos dos lugares públicos.<br />
Gran<strong>de</strong> parte da violência aos direitos religiosos brota da rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>riva cultural. Harold O. J. Brown,<br />
um dos primeiros ativistas evangélicos contra o aborto, diz que ele e outros enfrentaram a <strong>de</strong>cisão no caso Roe x<br />
Wa<strong>de</strong> como um grito para <strong>de</strong>spertar no meio da noite. Os cristãos consi<strong>de</strong>ravam a Suprema Corte como um grupo<br />
<strong>de</strong> sábios muito digno <strong>de</strong> confiança que tiraram suas conclusões do consenso moral do restante do país.<br />
Subitamente, a bomba caiu, uma <strong>de</strong>cisão que dividiu o país ao longo das linhas <strong>de</strong> frente.<br />
Outras <strong>de</strong>cisões do tribunal — estabelecendo o "direito <strong>de</strong> morrer", re<strong>de</strong>finindo o casamento, protegendo a<br />
pornografia — fizeram os cristãos conservadores cambalearem. Agora os cristãos estão muito mais propensos a<br />
consi<strong>de</strong>rar o Estado como antagonista da igreja, não seu amigo. James Dobson 5 capta o tom quando diz: "Nada<br />
menos do que uma gran<strong>de</strong> guerra civil <strong>de</strong> valores alastra-se hoje por toda a América do Norte. Dois lados<br />
imensamente diferentes e pontos <strong>de</strong> vista incompatíveis estão presos em um amargo conflito que permeia cada<br />
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