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Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

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sobrevivência dos mais aptos, <strong>de</strong> quem é o melhor.<br />

A culpa revela um anseio pela graça. Uma organização em Los Angeles opera a Apology Sound-Off Line (linha<br />

do Pedido <strong>de</strong> Desculpas), 11 um serviço telefônico que dá às pessoas uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confessar seus erros<br />

pelo preço <strong>de</strong> uma chamada telefônica. As pessoas que não crêem mais em padres confiam agora os seus pecados<br />

a uma máquina que fala. Cerca <strong>de</strong> duzentas chamadas anônimas são feitas todos os dias, <strong>de</strong>ixando mensagens <strong>de</strong><br />

sessenta segundos. O adultério é uma confissão comum. Algumas pessoas confessam atos criminosos: estupros,<br />

abuso sexual infantil e até mesmo homicídios. Um alcoólatra em recuperação <strong>de</strong>ixou a mensagem: "Gostaria <strong>de</strong><br />

me <strong>de</strong>sculpar com todas as pessoas que eu magoei em meus <strong>de</strong>zoito anos <strong>de</strong> vício". O telefone toca. "Apenas<br />

quero dizer que sinto muito", soluça uma jovem. Ela diz que acabou <strong>de</strong> provocar um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> automóvel on<strong>de</strong><br />

cinco pessoas morreram. "Eu gostaria <strong>de</strong> trazê-las <strong>de</strong> volta."<br />

Um colega apanhou o agnóstico ator W. C. Fields lendo a Bíblia em seu vestiário. Embaraçado, Fields<br />

escon<strong>de</strong>u o livro e explicou: "Estou apenas procurando erros". Provavelmente, ele estava procurando a graça.<br />

Lewis Sme<strong>de</strong>s, 12 um professor <strong>de</strong> Psicologia no Seminário Teológico Fuller, escreveu um livro inteiro fazendo<br />

correlações entre vergonha e graça (intitulado a<strong>de</strong>quadamente <strong>de</strong> Shame and Grace, "Vergonha e <strong>Graça</strong>"). Diz<br />

ele: "A culpa não era o meu problema principal, segundo eu achava. O que mais sentia era uma noção total <strong>de</strong><br />

indignida<strong>de</strong> que não conseguia ligar a quaisquer pecados concretos dos quais fosse culpado. Eu precisava mais do<br />

que perdão; <strong>de</strong>sejava ter um sentimento <strong>de</strong> que Deus me aceitava, me possuía, me segurava, me confirmava, e que<br />

nunca me largaria mesmo se não ficasse muito impressionado com o que tinha nas mãos".<br />

Sme<strong>de</strong>s continua dizendo que i<strong>de</strong>ntificou três fontes comuns <strong>de</strong> vergonha <strong>de</strong>formadora: a cultura secular, a<br />

religião sem a graça e os pais rejeitadores. A cultura secular nos diz que a pessoa <strong>de</strong>ve ter boa aparência, sentir-se<br />

bem e fazer o bem. A religião sem a graça nos diz que <strong>de</strong>vemos seguir as regras ao pé da letra e que o fracasso<br />

provoca rejeição eterna. Os pais rejeitadores — "Você não tem vergonha?" — convencem-nos <strong>de</strong> que nunca<br />

conseguiremos a aprovação <strong>de</strong>les.<br />

Como os habitantes das cida<strong>de</strong>s que já não percebem mais o ar poluído, nós respiramos, inconscientes, a<br />

atmosfera da falta <strong>de</strong> graça. Já no pré-primário e no jardim-<strong>de</strong>-infância somos testados, avaliados e <strong>de</strong>pois<br />

colocados em filas <strong>de</strong> "adiantados", "normais" ou "lentos". Dali em diante recebemos notas que indicam nossa<br />

capacida<strong>de</strong> na matemática, nas ciências, na leitura e também na "convivência" e na "cidadania". Os papéis dos<br />

testes voltam com os erros <strong>de</strong>stacados. Tudo isso nos prepara para o mundo real com sua classificação constante,<br />

uma versão adulta do jogo do jardim-<strong>de</strong>-infância <strong>de</strong>nominado "o rei da montanha".<br />

O serviço militar pratica a não-graça na sua forma mais pura. Depois <strong>de</strong> receber um título, um uniforme, um<br />

salário e um código <strong>de</strong> comportamento, cada soldado sabe exatamente on<strong>de</strong> está em relação aos outros:<br />

cumprimente e obe<strong>de</strong>ça aos superiores,. dê or<strong>de</strong>ns aos inferiores. As empresas são mais sutis — um pouco. A<br />

Ford classifica os empregados segundo uma escala <strong>de</strong> 1 (escriturários e secretárias) a 27 (presi<strong>de</strong>nte da diretoria).<br />

Você tem <strong>de</strong>, pelo menos, atingir o grau 9 para ter direito a uma vaga no estacionamento; o grau 13 proporciona<br />

benefícios tais como uma janela, plantas e um intercomunicador; os escritórios do grau 16 são equipados com<br />

banheiros privativos.<br />

Cada instituição, ao que parece, funciona na não-graça e insiste no fato <strong>de</strong> que merecemos nossas regalias. Os<br />

<strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> justiça, os programas <strong>de</strong> clientes das companhias <strong>de</strong> vôo e as imobiliárias não po<strong>de</strong>m operar<br />

pela graça. O governo mal conhece essa palavra. O time <strong>de</strong> futebol recompensa aqueles que fazem bons passes e<br />

marcam gols; não há lugar para aqueles que fracassam; as revistas especializadas publicam o nome dos mais<br />

ricos; ninguém, porém, sabe o nome das quinhentas pessoas mais pobres <strong>de</strong> seu país ou cida<strong>de</strong>.<br />

A anorexia é um produto direto da falta <strong>de</strong> graça: exibe o i<strong>de</strong>al da beleza <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los esqueléticas, e as<br />

adolescentes vão jejuar até a morte na tentativa <strong>de</strong> atingir esse i<strong>de</strong>al. Uma peculiar tendência da civilização<br />

oci<strong>de</strong>ntal mo<strong>de</strong>rna, a anorexia não tem história e raramente ocorre em lugares como a África mo<strong>de</strong>rna (on<strong>de</strong> as<br />

mais rechonchudas, e não as magras, são admiradas).<br />

Tudo isto acontece nos Estados Unidos, uma socieda<strong>de</strong> supostamente igualitária. Outras socieda<strong>de</strong>s refinaram<br />

a arte da não-graça por meio <strong>de</strong> sistemas sociais rígidos baseados em classe, raça ou casta. A África do Sul<br />

costumava dividir os cidadãos por quatro categorias sociais: brancos, negros, pardos e asiáticos (quando os<br />

investidores japoneses objetaram, o governo inventou uma nova categoria: "brancos honorários"). O sistema <strong>de</strong><br />

castas da Índia era tão cheio <strong>de</strong> labirintos que, na década <strong>de</strong> 1930, os britânicos <strong>de</strong>scobriram uma nova casta que<br />

não conheceram nos três séculos <strong>de</strong> sua presença ali: com a obrigação <strong>de</strong> lavar as roupas dos intocáveis, essas<br />

pobres criaturas criam que podiam contaminar as castas mais elevadas olhando para elas, por isso só saíam à noite<br />

e evitavam todo e qualquer contato com outras pessoas.<br />

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