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Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

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prece<strong>de</strong> a coroa que usamos".<br />

King registrou a sua luta com o perdão em "Cartas da Ca<strong>de</strong>ia da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Birmingham". Fora da ca<strong>de</strong>ia,<br />

pastores sulistas estavam <strong>de</strong>nunciando-o como comunista, multidões estavam gritando "enforquem o negro!" e<br />

policiais estavam sacudindo cassetetes contra os seus partidários <strong>de</strong>sarmados. King conta que precisou jejuar por<br />

diversos dias para obter a disciplina espiritual necessária para perdoar seus inimigos.<br />

Forçando o mal a aparecer em público, King estava tentando alcançar um reservatório nacional <strong>de</strong> coragem<br />

moral, um conceito que eu e meus amigos não estávamos equipados para compreen<strong>de</strong>r. Muitos historiadores<br />

apontam um acontecimento como o momento único no qual o movimento obteve finalmente uma massa crítica <strong>de</strong><br />

apoio para a causa dos direitos civis. Ocorreu em Selma, no Alabama, quando o <strong>de</strong>legado Jim Clark soltou os<br />

seus policiais contra os ativistas negros <strong>de</strong>sarmados.<br />

Os policiais montados incitaram seus cavalos para correr pela multidão da passeata a<strong>de</strong>ntro, manejando seus<br />

cassetetes, quebrando cabeças e <strong>de</strong>rrubando corpos ao chão. Enquanto os brancos nas laterais berravam e<br />

aplaudiam, os policiais jogavam gás sobre os participantes histéricos da passeata. Muitos americanos tiveram a<br />

primeira visão da cena quando a televisão interrompeu o filme dominical Judgment at Nuremberg [Julgamento<br />

em Nuremberg], para apresentar o noticiário. O que o público viu transmitido ao vivo <strong>de</strong> Alabama tinha uma<br />

semelhança horrível com aquilo a que estavam assistindo no filme a respeito da Alemanha nazista. Oito dias<br />

<strong>de</strong>pois o presi<strong>de</strong>nte Lyndon Johnson submeteu à votação o Ato dos Direitos <strong>de</strong> 1965 ao Congresso dos Estados<br />

Unidos.<br />

King havia <strong>de</strong>senvolvido uma estratégia sofisticada <strong>de</strong> guerra com graça, sem pólvora. Nunca se recusou a<br />

encontrar-se com seus adversários. Opunha-se à política, mas não às personalida<strong>de</strong>s. O que é mais importante: ele<br />

atacava a violência com a não-violência, e o ódio com o amor. "Não vamos procurar satisfazer a nossa se<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

liberda<strong>de</strong> bebendo do cálice da amargura e do ódio", ele exortava seus discípulos. "Não po<strong>de</strong>mos permitir que<br />

nossos protestos criativos <strong>de</strong>generem em violência física. Novamente, temos <strong>de</strong> atingir as majestosas alturas <strong>de</strong><br />

enfrentar a força física com a força da alma."<br />

Andrew Young, companheiro <strong>de</strong> King, lembra-se daqueles dias turbulentos como um período quando eles<br />

procuravam salvar "os corpos dos homens negros e as almas dos homens brancos". Seu verda<strong>de</strong>iro alvo, dizia<br />

King, não era <strong>de</strong>rrotar o homem branco, mas "<strong>de</strong>spertar um sentimento <strong>de</strong> vergonha <strong>de</strong>ntro do opressor e <strong>de</strong>safiar<br />

seu falso senso <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong>... O fim é a reconciliação; o fim é a re<strong>de</strong>nção; o fim é a criação da comunida<strong>de</strong><br />

bem-amada". E foi o que Martin Luther King Jr. finalmente conseguiu, até mesmo em racistas intransigentes<br />

como eu. O po<strong>de</strong>r da graça <strong>de</strong>sarmou minha própria malda<strong>de</strong> teimosa.<br />

Hoje, quando olho para minha infância, sinto vergonha, remorso e também arrependimento. Levou anos para<br />

Deus quebrar minha armadura <strong>de</strong> racismo espalhafatoso — fico imaginando se alguns <strong>de</strong> nós não dão vazão às<br />

suas formas mais sutis — e agora vejo esse pecado como um dos mais malignos, com talvez o maior impacto<br />

social. Ouço muitas conversas hoje a respeito da classe inferior e da crise na América urbana. Os técnicos culpam<br />

as drogas, o <strong>de</strong>clínio dos valores, a pobreza e a <strong>de</strong>rrocada do núcleo familiar. Fico me perguntando se todos esses<br />

problemas não seriam conseqüências <strong>de</strong> uma causa mais profunda, subjacente: nosso pecado <strong>de</strong> racismo com<br />

séculos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Apesar da radioativida<strong>de</strong> moral e social do racismo, <strong>de</strong> alguma forma a nação permaneceu unida, e as pessoas<br />

<strong>de</strong> todas as cores finalmente juntaram-se ao processo <strong>de</strong>mocrático, até mesmo no Sul. Já há alguns anos, Atlanta<br />

tem tido prefeitos afro-americanos. E, em 1976, os americanos viram a cena extraordinária <strong>de</strong> George Wallace<br />

aparecendo diante da li<strong>de</strong>rança negra do Alabama para <strong>de</strong>sculpar-se pelo seu comportamento passado para com os<br />

negros, um pedido que ele repetiu na televisão.<br />

A atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Wallace — ele precisava dos votos dos negros em uma disputa apertada para governador — foi<br />

mais fácil <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r do que a reação. Os lí<strong>de</strong>res negros aceitaram seu pedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas e os cidadãos negros<br />

o perdoaram, votando nele maciçamente. Quando Wallace foi à Igreja Batista em Montgomery, on<strong>de</strong> King havia<br />

lançado o movimento dos direitos civis, para pedir <strong>de</strong>sculpas, os lí<strong>de</strong>res que lhe vieram oferecer perdão incluíam<br />

Coretta Scott King, Jesse Jackson e o irmão <strong>de</strong> Medgar Evers, que fora assassinado.<br />

Até a igreja <strong>de</strong> minha infância apren<strong>de</strong>u a arrepen<strong>de</strong>r-se. Quando a vizinhança mudou, a freqüência à igreja<br />

começou a <strong>de</strong>clinar. Quando assisti a um culto há alguns anos, fiquei assustado por encontrar apenas algumas<br />

centenas <strong>de</strong> freqüentadores espalhados no gran<strong>de</strong> santuário que, na minha infância, costumava ficar abarrotado<br />

com mil e quinhentas pessoas. A igreja parecia amaldiçoada, arruinada. Ela havia experimentado novos<br />

pastores e novos programas, mas nada funcionava. Embora os lí<strong>de</strong>res buscassem a participação dos afroamericanos,<br />

poucos na vizinhança aceitavam o convite.<br />

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