Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
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Deus não é limitado ao tempo, dizem-nos os teólogos. Deus criou o tempo assim como um artista escolhe um<br />
meio <strong>de</strong> trabalho, e fica solto <strong>de</strong>le. Ele vê o futuro e o passado em uma espécie <strong>de</strong> eterno presente. Se for correta<br />
essa teoria a respeito <strong>de</strong> Deus, os teólogos ajudaram a explicar como Deus po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> "amada" uma pessoa<br />
inconstante, volúvel e temperamental como eu. Quando Deus olha para o gráfico da minha vida, não vê gran<strong>de</strong>s<br />
mudanças <strong>de</strong> direção para o bem ou para o mal, mas, antes, uma linha firme no bem; a bonda<strong>de</strong> do Filho <strong>de</strong> Deus<br />
capturada em um momento do tempo e aplicada por toda a eternida<strong>de</strong>.<br />
Como disse John Donne, 20 o poeta do século XVII:<br />
Pois no Livro da Vida, o nome <strong>de</strong> Maria Madalena foi tão logo registrado, por toda a sua incontinência,<br />
como o da Virgem bendita, por toda a sua integrida<strong>de</strong>; e o nome <strong>de</strong> Paulo, que brandiu sua espada contra<br />
<strong>Cristo</strong>, como o <strong>de</strong> Pedro, que brandiu a sua em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>le; pois o Livro da Vida não foi escrito<br />
sucessivamente, palavra após palavra, linha após linha, mas foi entregue como um Livro, tudo junto.<br />
Cresci com a imagem <strong>de</strong> um Deus matemático que pesava meus atos bons e maus em um conjunto <strong>de</strong> balanças<br />
e sempre me consi<strong>de</strong>rava em falta. Não sei como me esqueci do Deus dos evangelhos, um Deus <strong>de</strong> misericórdia e<br />
generosida<strong>de</strong> que continua encontrando maneiras <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedaçar as leis implacáveis da não-graça. Deus rasga as<br />
tabuadas e apresenta a nova matemática da graça, a palavra mais surpreen<strong>de</strong>nte, mais assustadora, mais<br />
inesperada da nossa língua.<br />
A graça surge <strong>de</strong> tantas formas diferentes que tenho dificulda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>fini-la. Estou pronto, contudo, a tentar<br />
alguma coisa como uma <strong>de</strong>finição da graça divina. <strong>Graça</strong> significa que não há nada que possamos fazer para<br />
Deus nos amar mais — nenhuma quantida <strong>de</strong> renúncia, nenhuma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento recebido em<br />
seminários e faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> teologia, nenhuma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cruzadas em benefício <strong>de</strong> causas justas. E a graça<br />
significa que não há nada que possamos fazer para Deus nos amar menos — nenhuma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> racismo ou<br />
orgulho, pornografia ou adultério, ou até mesmo homicídio. A graça significa que Deus já nos ama tanto quanto é<br />
possível um Deus infinito nos amar.<br />
Há uma cura simples para pessoas que duvidam do amor <strong>de</strong> Deus e questionam a graça divina: voltar para a<br />
Bíblia e examinar o tipo <strong>de</strong> pessoas que Deus ama. Jacó, que se atreveu a se envolver em uma luta física com<br />
Deus e mesmo <strong>de</strong>pois que fora ferido nessa luta tornou-se o epônimo do povo <strong>de</strong> Deus, os "filhos <strong>de</strong> Israel". A<br />
Bíblia fala <strong>de</strong> um homicida e um adúltero que ganhou reputação como o maior rei do Antigo Testamento, um<br />
"homem segundo o coração <strong>de</strong> Deus". E <strong>de</strong> uma igreja dirigida por um discípulo que praguejou e jurou que não<br />
conhecia Jesus. E <strong>de</strong> um missionário sendo recrutado das fileiras dos torturadores <strong>de</strong> cristãos. Eu recebo<br />
correspondência da Anistia Internacional e, quando examino as fotos <strong>de</strong> homens e mulheres que foram<br />
espancados, pisoteados, espetados, cuspidos e eletrocutados, pergunto a mim mesmo: "Que espécie <strong>de</strong> ser humano<br />
po<strong>de</strong>ria fazer isso a outro ser humano?". Então, leio o livro <strong>de</strong> Atos e encontro o tipo <strong>de</strong> pessoa que po<strong>de</strong>ria fazer<br />
uma coisa <strong>de</strong>ssas — agora um apóstolo da graça, um servo <strong>de</strong> Jesus <strong>Cristo</strong>, o maior missionário da história. Se<br />
Deus po<strong>de</strong> amar esse tipo <strong>de</strong> pessoa, talvez, apenas talvez, Ele também possa amar pessoas como eu.<br />
Não posso mo<strong>de</strong>rar minha <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> graça porque a Bíblia me força a torná-la o mais abrangente possível.<br />
Deus é "o Deus <strong>de</strong> toda a graça", 21 nas palavras do apóstolo Pedro. E graça significa que não há nada que eu possa<br />
fazer para Deus me amar mais, e nada que eu possa fazer para Deus me amar menos. Significa que eu, até mesmo<br />
eu que mereço o contrário, sou convidado a tomar o meu lugar à mesa da família <strong>de</strong> Deus.<br />
Por instinto, sinto que <strong>de</strong>vo fazer alguma coisa para ser aceito. A graça soa como uma surpreen<strong>de</strong>nte nota <strong>de</strong><br />
contradição, <strong>de</strong> liberação e, todos os dias, eu <strong>de</strong>vo orar <strong>de</strong> novo para ter a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir sua mensagem.<br />
Eugene Peterson traça um contraste entre Agostinho e Pelágio, dois oponentes teológicos do século IV.<br />
Pelágio era educado, convincente e todos gostavam <strong>de</strong>le. Agostinho <strong>de</strong>sperdiçou sua juventu<strong>de</strong> na imoralida<strong>de</strong>,<br />
tinha um estranho relacionamento com sua mãe e fez muitos inimigos. Mas Agostinho começou com a graça <strong>de</strong><br />
Deus e acertou, enquanto Pelágio partiu dos esforços humanos e errou. Agostinho buscou apaixonadamente a<br />
Deus; Pelágio trabalhou metodicamente para agradar a Deus. Peterson continua dizendo que os cristãos ten<strong>de</strong>m a<br />
ser agostinianos na teoria e pelagianos na prática. Trabalham obsessivamente para agradar outras pessoas e até<br />
mesmo a Deus.<br />
Todos os anos, na primavera, eu me torno vítima do que os noticiários esportivos diagnosticam <strong>de</strong> "Loucura <strong>de</strong><br />
Março". Não consigo resistir à tentação <strong>de</strong> ligar a TV no jogo final <strong>de</strong> basquete, no qual as duas únicas<br />
sobreviventes <strong>de</strong> um torneio <strong>de</strong> sessenta e quatro equipes se encontram para a final do campeonato universitário.<br />
Esse importantíssimo jogo sempre parece terminar com um garoto <strong>de</strong> <strong>de</strong>zoito anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> pronto para fazer um<br />
arremesso, com apenas um segundo para terminar o jogo.<br />
Ele dribla nervosamente. Se ele per<strong>de</strong>r essa jogada, sabe que será o bo<strong>de</strong> expiatório do campus, o bo<strong>de</strong><br />
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