Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo
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Meu estudo da vida <strong>de</strong> Jesus me convenceu <strong>de</strong> que, sejam quais forem as barreiras que tivermos <strong>de</strong> transpor ao<br />
tratar com pessoas "diferentes", elas não se po<strong>de</strong>m comparar com o que um Deus santo — que habitava no<br />
Santíssimo Lugar, e cuja presença expelia violentamente fogo e fumaça do topo da montanha, provocando a<br />
morte <strong>de</strong> qualquer pessoa impura que se aproximasse — teve <strong>de</strong> vencer quando <strong>de</strong>sceu para se juntar a nós sobre<br />
o planeta Terra. Uma prostituta, um rico aproveitador, uma mulher en<strong>de</strong>moninhada, um soldado romano, uma<br />
samaritana com hemorragia e outra samaritana com vários maridos ficaram maravilhados porque Jesus recebeu a<br />
reputação <strong>de</strong> ser "amigo <strong>de</strong> pecadores". Como escreveu Helmut Thielicke:<br />
Jesus tinha o po<strong>de</strong>r 3 <strong>de</strong> amar prostitutas, valentões e rufiões... Ele foi capaz disso apenas porque via através<br />
da sujeira e da crosta da<br />
<strong>de</strong>generação; seus olhos captavam a origem divina que está oculta por toda parte — em cada homem!...<br />
Primeiro, e principalmente, Ele<br />
nos dá novos olhos...<br />
Quando Jesus amava 4 uma pessoa qualquer carregada <strong>de</strong> culpa e a ajudava, via nela um filho <strong>de</strong> Deus<br />
<strong>de</strong>sviado. Via um ser humano a quem seu Pai amava e por quem se entristecia por ele andar em caminhos<br />
errados. Ele o via como Deus o planejara originalmente e<br />
queria que ele fosse e, portanto, olhava, por baixo da camada superficial da sujeira e da imundície, para o<br />
verda<strong>de</strong>iro homem. Jesus não<br />
i<strong>de</strong>ntificava a pessoa com o seu pecado, antes via nesse pecado alguma coisa estranha, alguma coisa que<br />
realmente não fazia parte da pessoa, alguma coisa que simplesmente a acorrentava e a dominava e da qual Ele<br />
a libertaria e a traria <strong>de</strong> volta para o seu verda<strong>de</strong>iro eu. Jesus foi capaz <strong>de</strong> amar os homens porque Ele os<br />
amava da maneira certa através da camada <strong>de</strong> lama.<br />
Po<strong>de</strong>mos ser abominações, mas ainda somos o orgulho e a alegria <strong>de</strong> Deus. Todos nós na igreja precisamos <strong>de</strong><br />
"olhos curados pela graça" para ver o potencial nos outros para a mesma graça que Deus tão prodigamente nos<br />
conce<strong>de</strong>u. "Amar uma pessoa", disse Dostoiévski, 5 "significa vê-la como Deus pretendia que ela fosse".<br />
O romancista católico crê que você <strong>de</strong>strói sua liberda<strong>de</strong> com o pecado; acho que o leitor mo<strong>de</strong>rno crê<br />
que o pecado traz liberda<strong>de</strong>. Não existe muita possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entendimento entre os dois.<br />
Flannery O`Connor<br />
CAPÍTULO 14<br />
BRECHAS<br />
Robert Hughes, 1 historiador e crítico <strong>de</strong> arte, conta a história <strong>de</strong> um con<strong>de</strong>nado à prisão perpétua em uma ilha <strong>de</strong><br />
segurança máxima na costa da Austrália. Um dia, sem nenhuma provocação, ele se voltou contra um companheiro<br />
<strong>de</strong> prisão e o espancou até <strong>de</strong>ixá-lo sem sentidos. Por esse motivo, as autorida<strong>de</strong>s o mandaram <strong>de</strong> volta ao<br />
continente para outro julgamento, no qual ele <strong>de</strong>u um testemunho direto e impassível do crime. Não <strong>de</strong>monstrou<br />
nenhum sinal <strong>de</strong> remorso e negou ter tido qualquer ressentimento da vítima. — Por que, então? — perguntou o<br />
juiz, admirado. — Qual foi o seu motivo?<br />
O prisioneiro respon<strong>de</strong>u que estava enjoado da vida na ilha, um lugar <strong>de</strong> notória brutalida<strong>de</strong>, e não via motivos<br />
para continuar vivendo. — Sim, sim, eu compreendo tudo isso — disse o juiz. — Posso enten<strong>de</strong>r por que você se<br />
afogaria no oceano. Mas por que matar?<br />
— Bem, eu penso assim — disse o prisioneiro. — Sou católico. Se eu cometesse suicídio iria diretamente para<br />
o inferno. Mas, se eu matasse alguém, po<strong>de</strong>ria voltar aqui para Sidney e confessar o meu crime a um padre antes<br />
da execução. Desse jeito, Deus me perdoaria.<br />
A lógica do prisioneiro australiano era a imagem reflexa do Príncipe Hamlet, que não assassinaria o rei em<br />
suas orações na capela para que este não fosse perdoado por seus atos infames, indo diretamente para o céu.<br />
Qualquer pessoa que escreva a respeito da graça tem <strong>de</strong> enfrentar suas brechas evi<strong>de</strong>ntes. No poema <strong>de</strong> W. H.<br />
Au<strong>de</strong>n: 2 "For Time Being" [Para todo o sempre], o rei Hero<strong>de</strong>s astutamente capta as conseqüências lógicas da<br />
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