11.05.2013 Views

Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

Maravilhosa Graça - Noiva de Cristo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

morrer em paz.<br />

Simon Wiesenthal, um arquiteto com vinte e poucos anos, agora um prisioneiro em um surrado uniforme com<br />

a Estrela <strong>de</strong> Davi amarela, sentiu o imenso fardo esmagador <strong>de</strong> sua raça sobre ele. Olhou pela janela para o pátio<br />

banhado <strong>de</strong> sol. Olhou para uma mosca ver<strong>de</strong> zumbindo sobre o corpo do homem moribundo, atraída pelo cheiro.<br />

"Finalmente, tomei uma resolução", Wiesenthal escreve, "e sem uma palavra <strong>de</strong>ixei o recinto".<br />

Sunflower tira o perdão da teoria e o iança no meio da história viva. Resolvi reler o livro porque o dilema<br />

que Wiesenthal enfrentou tinha muitos paralelos com os dilemas morais que ainda estão rasgando o mundo em<br />

pedaços em lugares como Iugoslávia, Ruanda e Oriente Médio.<br />

A primeira parte do livro <strong>de</strong> Wiesenthal conta a história que eu acabei <strong>de</strong> resumir. A outra meta<strong>de</strong> registra as<br />

reações diante <strong>de</strong>ssa história <strong>de</strong> astros como Abraham Heschel, Martin Marty, Cynthia Ozick, Gabriel Mareei,<br />

Jacques Maritain, Herbert Marcuse e Primo Levi. No final, Wiesenthal voltou-se para eles pedindo suas opiniões<br />

para saber se havia agido corretamente.<br />

O oficial da SS, Karl, morreu logo, sem o perdão <strong>de</strong> um ju<strong>de</strong>u, mas Simon Wiesenthal viveu até ser libertado<br />

<strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> extermínio pelas tropas americanas. A cena no hospital o perseguiu como um fantasma. Depois<br />

da guerra, Wiesenthal visitou a mãe do oficial em Stuttgart, esperando <strong>de</strong> alguma forma exorcizar da memória<br />

aquele dia. Em vez disso, a visita apenas tornou o oficial mais humano, pois a mãe falou com ternura da<br />

juventu<strong>de</strong> piedosa <strong>de</strong> seu filho. Wiesenthal não teve coragem <strong>de</strong> lhe contar como ele havia terminado os seus dias.<br />

Através dos anos, Wiesenthal perguntou a muitos rabinos e sacerdotes o que <strong>de</strong>veria ter feito. Finalmente, mais<br />

<strong>de</strong> vinte anos <strong>de</strong>pois da guerra, ele escreveu a história e a enviou às mais iluminadas mentes éticas que conhecia:<br />

ju<strong>de</strong>us, católicos, protestantes e pessoas sem religião. "O que você teria feito em meu lugar?", perguntava.<br />

Dos trinta e dois homens e mulheres que respon<strong>de</strong>ram, apenas seis disseram que Wiesenthal havia errado em<br />

não perdoar o alemão. Dois cristãos apontavam para o contínuo <strong>de</strong>sconforto <strong>de</strong> Wiesenthal como agulhadas da<br />

consciência que só po<strong>de</strong>riam ser acalmadas com o perdão. Um <strong>de</strong>les, um negro que havia servido na Resistência<br />

Francesa, disse: "Eu consigo enten<strong>de</strong>r sua recusa em perdoar. Está totalmente <strong>de</strong> acordo com o espírito da Bíblia,<br />

com o espírito da Antiga Lei. Mas há uma Nova Lei, a <strong>de</strong> <strong>Cristo</strong>, expressa nos Evangelhos. Como cristão, acho<br />

que você <strong>de</strong>veria ter perdoado".<br />

Outros ficaram em cima do muro, mas a maioria dos interrogados concordou com Simon Wiesenthal que ele<br />

havia feito o que era certo. Que autorida<strong>de</strong> moral ou legal ele tinha para perdoar crimes cometidos contra outras<br />

pessoas?, perguntavam. Um escritor citava o poeta Dry<strong>de</strong>n: "O perdão, aos injuriados pertence".<br />

Alguns poucos interrogados ju<strong>de</strong>us disseram que a enormida<strong>de</strong> dos crimes nazistas excedia toda possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> perdão. Herbert Gold, um escritor e professor americano, <strong>de</strong>clarou: "A culpa <strong>de</strong>sse horror jaz tão<br />

profundamente sobre os alemães <strong>de</strong>ssa época que nenhuma reação pessoal diante <strong>de</strong>la é injustificável". Outro<br />

disse: "Os milhões <strong>de</strong> pessoas inocentes que foram torturadas e assassinadas teriam <strong>de</strong> ser restituídas à vida para<br />

que eu pu<strong>de</strong>sse perdoar". A romancista Cynthia Ozick foi veemente: "Que o homem da SS morra sem absolvição.<br />

Que ele vá para o inferno". Um escritor cristão confessou: "Acho que o teria estrangulado em sua cama".<br />

Alguns poucos comentaristas questionaram toda a noção <strong>de</strong> perdão. Uma professora <strong>de</strong>sprezou o perdão como<br />

um ato <strong>de</strong> prazer sensual, o tipo <strong>de</strong> coisa que os amantes fazem <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma briga antes <strong>de</strong> voltar para a cama.<br />

Não tem cabimento, ela disse, em um mundo <strong>de</strong> genocídio e holocausto. Perdoe, e tudo po<strong>de</strong>rá ser facilmente<br />

repetido.<br />

Quando li The Sunflower pela primeira vez, <strong>de</strong>z anos atrás, fui tomado <strong>de</strong> surpresa pela quase unanimida<strong>de</strong><br />

das respostas. Esperava mais dos teólogos cristãos ao falar <strong>de</strong> misericórdia. Mas, <strong>de</strong>sta vez, quando reli as<br />

eloqüentes respostas à pergunta <strong>de</strong> Wiesenthal, fui atingido pela lógica terrível, cristalina, da falta <strong>de</strong> perdão. Em<br />

um mundo <strong>de</strong> atrocida<strong>de</strong>s in<strong>de</strong>scritíveis, o perdão realmente parece injusto, <strong>de</strong>sonesto, irracional. Indivíduos e<br />

famílias precisam apren<strong>de</strong>r a perdoar, sim, mas como fazer tais princípios elevados aplicarem-se a um caso como<br />

o da Alemanha nazista? Como o filósofo Herbert Marcuse disse: "Não se po<strong>de</strong>, e não se <strong>de</strong>ve, andar alegremente<br />

por aí matando e torturando e, então, quando chega a hora, simplesmente pedir e receber perdão".<br />

É esperar <strong>de</strong>mais que os elevados i<strong>de</strong>ais éticos do evangelho — no qual o perdão se encontra no âmago —<br />

sejam transportados para o mundo brutal da política e diplomacia internacional? Neste mundo, que chance tem<br />

uma coisa tão etérea como o perdão? Essas perguntas me atormentavam enquanto relia a história <strong>de</strong> Wienthal e<br />

ouvia as incessantes más notícias da antiga Iugoslávia.<br />

Meus amigos ju<strong>de</strong>us têm falado com admiração da ênfase cristã sobre o perdão. Eu o tenho apresentado como<br />

nossa arma mais po<strong>de</strong>rosa para <strong>de</strong>sarmar o contra-ataque da não-graça. Mesmo assim, como o gran<strong>de</strong> mestre<br />

ju<strong>de</strong>u Joseph Klausner 2 <strong>de</strong>stacou no início <strong>de</strong>ste século, a gran<strong>de</strong> insistência dos cristãos em tais i<strong>de</strong>ais nos<br />

45

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!