REPRESENTAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE ENSINO ... - PUC-SP
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A responsabilidade recai mais uma vez sobre outros fatores e atores sociais,<br />
pois é a professora que tem o mérito de conseguir que ela se exponha oralmente e,<br />
especificamente na questão da responsabilidade, seu vocabulário (da aluna),<br />
segundo ela, será enriquecido pela adoção de vários livros, cuja responsabilidade de<br />
escolha será unicamente da professora.<br />
Ainda no campo das experiências vividas pela aluna e das verdades<br />
construídas baseadas em sua vivência, Ana Paula, falando de sua trajetória de<br />
aprendiz de inglês, trouxe para a aula em um determinado momento suas<br />
impressões em relação à forma como foi tratado seu conhecimento prévio, assunto<br />
tratado no seguinte excerto:<br />
O professor não tem como valorizar o que o aluno já traz. Eu tava num<br />
curso, ele não poderia fugir da matéria, só porque eu sei mais, ou dar uma aula<br />
a mais para mim, alguma coisa à parte. Não. (...) então, quer dizer, em um<br />
curso de inglês para começar você é nivelado. Todos os alunos acabam<br />
sendo nivelados. Se é do básico, todo mundo vai começar do zero.<br />
(Entrevista 2)<br />
A partir deste trecho da fala de Ana Paula posso inferir que ela acreditava que<br />
seu conhecimento prévio não havia sido valorizado pelo professor, incidindo no<br />
sentimento de que as identidades – dela e dos colegas – não estavam sendo<br />
respeitadas em sua individualidade, suas vozes não estavam sendo ouvidas. Se ela<br />
sabia mais, poderia ser estimulada a ser mediadora para os que sabiam menos.<br />
Posso inferir também que é possível que ela esperasse, ou desejasse uma ação<br />
diferenciada em relação ao próprio conhecimento, o que aparece em “dar uma aula<br />
a mais para mim, alguma coisa a parte”. A questão da valorização e da expectativa<br />
por uma ação diferenciada parece ter sido frustrada, visto que ela afirma “O<br />
professor não tem como valorizar o que o aluno já traz”.<br />
Um outro aspecto é a questão da (des)valorização do tempo, intimamente<br />
ligada à questão anterior:<br />
Teve um dia que eu fiquei uma aula inteira nos dias da semana. Porque um<br />
não sabia escrever, outro não sabia falar e tinham que decorar, segunda,<br />
terça, quarta, quinta, e sexta, entenderam? Uma semana inteira, uma aula<br />
inteira. Uma coisa que eu nem teria que passar por ele. (Entrevista 2)<br />
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