Download - Mestrado em Música e Artes Cênicas - UFG
Download - Mestrado em Música e Artes Cênicas - UFG
Download - Mestrado em Música e Artes Cênicas - UFG
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O CONCEITO DE SILÊNCIO EM H. J. KOELLREUTTER<br />
Ana Letícia Crozetta Zomer (UDESC)<br />
analeticiazomer@gmail.com<br />
Luigi Antonio Irlandini (UDESC)<br />
cosmofonia.lai@gmail.com<br />
Palavras-chave: Silêncio; Estética; <strong>Música</strong> cont<strong>em</strong>porânea.<br />
Na estética da música europeia, o silêncio s<strong>em</strong>pre foi considerado como um sinônimo de<br />
pausa, um sinal de atenção, el<strong>em</strong>ento de articulação de frases, seções e variações, indicando suspensão.<br />
A notação de ausência de som corresponde a um determinado número de t<strong>em</strong>pos, equivalentes<br />
à grafia tradicional do período de prática comum. Contudo, o conceito de música e seus<br />
signos vêm se ampliando, sobretudo a partir do séc. XX, quando uma série de explorações e experiências<br />
levaram a música a novas tendências composicionais e ideológicas, havendo uma ampliação<br />
dos conceitos de consonância e dissonância, com o uso de cromatismos, mudança no tratamento<br />
rítmico (métricas inusitadas, polirritmias,...) e maior relevância tímbrica. Koellreutter<br />
reconhecia estas mudanças como características da estética musical da segunda metade do<br />
séc. XX, que por sua vez, foi profundamente influenciada pelas descobertas da física moderna.<br />
Sobre esta relação entre a física e a estética declara:<br />
O novo paradigma, ou seja, a nova imag<strong>em</strong> do mundo, resultante de descobertas na área<br />
da física e a reviravolta radical do pensamento humano obrigam constant<strong>em</strong>ente à revisão<br />
profunda e pormenorizada da estética da arte e, principalmente, da terminologia de<br />
que esta se serve. Acontece que, tanto a linguag<strong>em</strong> comum quanto a terminologia especializada<br />
tradicional, ou se tornaram inexatas <strong>em</strong> relação aos novos conceitos, ou se<br />
mostram totalmente inadequadas para a descrição da nova realidade artística e para a<br />
precisão com que dev<strong>em</strong> ser analisadas e avaliadas as obras de arte do passado e do<br />
presente. (KOELLREUTTER, 1989, p. 1)<br />
Deste modo, a partir da segunda metade do séc. XX, motivado pelo contato com a cultura<br />
oriental e por descobertas científicas na área da física, Hans-Joachim Koellreutter (1915 – 2005)<br />
- na estética, por ele denominada de relativista do impreciso e paradoxal - abandona a distinção<br />
tradicional entre som e silêncio. Diferente da pausa, o silêncio deixa de ser apenas a ausência de<br />
som e passa a ser visto como o plano gerador de ocorrências musicais <strong>em</strong> potencial, adquirindo<br />
um papel de destaque na estética musical do mesmo.<br />
A pesquisa procura discutir o conceito de silêncio na estética de Koellreutter, fazendo uma<br />
analogia com o misticismo oriental e o conceito de vazio da física moderna, baseando-se <strong>em</strong> leituras<br />
de escritos publicados e não-publicados sobre a vida e obra de Koellreutter e também leituras<br />
relativas a estética da música europeia do séc. XX, como indeterminação e aleatorismo. Devido à<br />
forte influência de el<strong>em</strong>entos científicos e orientais na estética de Koellreutter, leituras na área da<br />
física moderna, misticismo e estética oriental foram tornando-se necessárias. Deste modo, utilizouse<br />
neste trabalho uma abordag<strong>em</strong> de característica qualitativa, traçando analogias entre as leituras<br />
e as audições das obras de Koellreutter.<br />
Hans-Joachim Koellreutter nasceu <strong>em</strong> Freiburg, Al<strong>em</strong>anha, <strong>em</strong> 1915. Notório flautista e<br />
compositor, realizou inúmeras turnês pela Europa. Deixando seu país <strong>em</strong> decorrência de questões<br />
políticas, mudou-se para o Rio de Janeiro <strong>em</strong> 1937. No cenário brasileiro, ganhou destaque, sendo<br />
responsável por um grande número de iniciativas e ações no cenário musical e educacional da<br />
época.<br />
Pôsteres 161