Download - Mestrado em Música e Artes Cênicas - UFG
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A VALORIZAÇÃO DA CONDIÇÃO HUMANA NO<br />
PROCESSO DE PERFORMANCE MUSICAL: UMA<br />
POSSIBILIDADE DE CONSTITUIÇÃO DE UM SUJEITO<br />
DE SUA PRÓPRIA ATITUDE ESTÉTICA<br />
Daniel Vieira<br />
zharbo@gmail.com<br />
Palavras-chave: Cuidado de si: Performance musical: Estética da existência.<br />
Em concordância com o pensamento complexo de Morin (2003), a Filosofia como vocação<br />
reflexiva pode e deve convergir a uma pluralidade de pontos de vistas sobre a condição humana.<br />
Tal condição passa a ser consciente que de que o conhecimento da própria humanidade não<br />
se processa de maneira compartimentada, porém se apropriará de sua própria consciência humanística<br />
e ética. Ad<strong>em</strong>ais, sinaliza que a consciência do hom<strong>em</strong> sobre si se estabelece a partir da<br />
linguag<strong>em</strong> de dupla articulação e esta, ao mesmo t<strong>em</strong>po, v<strong>em</strong> constituir a cultura que tornou fato<br />
a autoprodução da condição humana. Morin menciona que o entendimento da cultura é fundamental<br />
para valorização dessa condição, de maneira que o círculo conceitual passa a dirigir o raciocínio<br />
apontando para a autorreflexão, e esta podendo ser atingida por meio da vivência com as<br />
artes. Literatura, cin<strong>em</strong>a, teatro e música naturalmente pod<strong>em</strong> conduzir a um processo de autorreflexão,<br />
como se t<strong>em</strong> mencionado.<br />
Nessa linha de pensamento, falando, porém, como músico/pianista que procura conscient<strong>em</strong>ente<br />
sua realidade no fazer diário da performance musical, acrescento a ideia de que a música,<br />
como arte, deve favorecer à possibilidade de reencontro entre o ato realizado e vivenciado<br />
com o humano que se faz presente no momento do ato estético. Refiro-me, <strong>em</strong> recente publicação<br />
(VIEIRA, 2011), a esse reencontro entre a condição humana com o ato artístico como encantamento.<br />
Dessa ideia de encantamento, cito dois aspectos que se tornam urgentes para mim: o primeiro<br />
é referente à adoção incondicional de um princípio estético, o segundo é a progressão paulatina<br />
na concepção de que o reencontro do eu, no ato artístico, como no ato humano, é o caminho<br />
para a fruição da própria condição humana a partir da música. O próprio reencontro do intérprete<br />
musical, como performer, seria qual o impacto criado se fosse invertida a ord<strong>em</strong> dessa experiência<br />
na busca de sua própria fruição.<br />
Tal posicionamento delineia uma novidade para a própria concepção de uma obra musical,<br />
pois buscas ontológicas e universais abririam espaço para o reconhecimento de um êthos ou mesmo<br />
de um páthos humano, e esse passaria a conduzir o interesse à necessidade da música como<br />
meio de reencontro. Porém, o estado de encantamento próprio à natureza estética da música valorizaria<br />
o ato da performance como ato estético <strong>em</strong> si – de si para si.<br />
Essa possibilidade relacionada à corporação da condição humana na performance musical<br />
conduz a um círculo de conteúdo hermenêutico de si para si. Hermenêutica, por sua vez, pode ser<br />
associada com o estudo da compreensão humana, visto não buscar pela compreensão da obra interpretada,<br />
mas procurar pelo significado e sentido como interpretação (LIMA, 2005). Dessa forma,<br />
na busca hermenêutica, o intérprete deve resgatar a “especificidade de sua trajetória, a historicidade<br />
que se insurge ao objeto, o seu modo de pensar e agir que <strong>em</strong>erge, naturalmente, dessa<br />
compreensão” (LIMA, 2005, p. 95). Necessário l<strong>em</strong>brar que <strong>em</strong> situação de performance musical,<br />
o objeto não existe s<strong>em</strong> a ação ativa do seu próprio sujeito. Com isso, amplio a noção de her-<br />
Comunicações Orais 19