Download - Mestrado em Música e Artes Cênicas - UFG
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Desde suas primeiras obras, mesmo passando por algumas transformações de estilo e estética<br />
composicional, suas obras s<strong>em</strong>pre tiveram algumas particularidades implícitas, como, simplicidade<br />
rítmica, el<strong>em</strong>entarismo e unificação de conceitos dualistas, tônica-dominante, dissonância-consonância<br />
e outros presentes na música ocidental. Kater (1997) distingue suas obras <strong>em</strong> três<br />
períodos diferentes: obras tonais (1933-1939), obras dodecafônicas (1940-1953) e ensaios seriais<br />
e planimétricos (1960-2005). Dentre o período de 1964 a 1975, Hans-Joachim Koellreutter<br />
residiu no Japão e Índia, onde reafirmou ideais, antes já constituídos. Durante esses anos de composições<br />
e principalmente no terceiro período de sua produção musical, notou-se um crescente uso<br />
do silêncio como conceito estético.<br />
Muitos compositores deste período, também passaram a ter uma visão mais ampla além<br />
da herança europeia, incluindo outras culturas, especialmente do Oriente. Derivada do contato<br />
com a cultura japonesa, esta estética, caracteriza-se pela concentração extr<strong>em</strong>a de expressão,<br />
economia de meios, renúncia ao prazer sensorial, clareza, precisão, assimetria, passando ser vista<br />
como forma de expressão. A respeito do uso do silêncio nesta estética, Nattiez faz algumas<br />
considerações:<br />
...exist<strong>em</strong> pelo menos dois tipos de silêncios, o silêncio fora da música e o silêncio na música,<br />
e neste segundo grupo, três categorias: o silêncio considerado como obra musical, <strong>em</strong><br />
que se convida o auditor a escutar os sons que ele contém, os silêncios de expectativa da música<br />
clássica, e os silêncios considerados como valor <strong>em</strong> si na música moderna. (NATTIEZ,<br />
1984, p. 213)<br />
Abandonando totalmente a distinção tradicional de silêncio no fim de sua produção musical,<br />
Koellreutter explora o silêncio não mais como a não-existência de qualquer som físico e intencional<br />
e sim como seijaku, tendo por função, “calma interior e equilíbrio, como fundo originário da<br />
vivência espiritual, condição de ordenação e critério de conteúdo e valor” (Koellreutter, 1983, p.<br />
17). Conceitos aparent<strong>em</strong>ente contrários passam a ser meramente aspectos diferentes de um mesmo<br />
fenômeno, portanto, o som e o silêncio são compreendidos como a sintetização do campo sonoro<br />
e não mais como signos isolados, ganhando a mesma importância, fazendo parte de um todo.<br />
Estas características encontradas no Japão, do qual Koellreutter refere-se, Capra, nos mostra<br />
também incluída na física moderna, fazendo um paralelo com o misticismo oriental.<br />
Com o conceito de campo quântico a física moderna veio dar uma resposta inesperada à velha<br />
questão de saber se a matéria é formada pela junção de átomos individuais ou por um todo<br />
incindível. O campo é uma continuidade que está presente <strong>em</strong> todo o lado e, no entanto,<br />
quando assume o aspecto de partículas apresenta-se como descontínuo, com uma estrutura<br />
“granular”. Os dois conceitos, aparent<strong>em</strong>ente contraditórios, estão na realidade unificados<br />
e são tidos como diferentes aspectos de uma mesma realidade. Como acontece numa teoria<br />
relativista, a unificação de dois conceitos opostos surge de uma forma dinâmica: os dois<br />
aspectos da matéria transformam-se, incessant<strong>em</strong>ente, um no outro. O misticismo oriental<br />
apresenta uma unificação dinâmica s<strong>em</strong>elhante entre o vazio e as formas a que aquele dá<br />
orig<strong>em</strong>. (CAPRA, 1984, p. 178).<br />
Deste modo, a distinção entre matéria e espaço vazio – som e silêncio – é abandonada,<br />
quando descoberto que as partículas virtuais pod<strong>em</strong> ser criadas espontaneamente a partir do vazio<br />
e que nele, também desaparec<strong>em</strong> naturalmente. Para ele, o vazio é relacionado como a essência<br />
de todas as coisas, como para Koellreutter, o silêncio como essência dos sons. O vazio – silêncio<br />
-, não é um estado nulo, ele contém potencialidade para formar qualquer partícula – som - e<br />
estas partículas tornam-se manifestações transitórias do vazio. S<strong>em</strong>pre fazendo um paralelo entre<br />
sua estética com a física moderna, Koellreutter nos chama atenção para a relevância que as transformações<br />
na ciência o levaram a construir sua estética musical, “o som não pode ser separado do<br />
espaço aparent<strong>em</strong>ente vazio, <strong>em</strong> que ele ocorre. Da mesma forma como as partículas não pod<strong>em</strong><br />
ser separadas do espaço que as circunda.” (KOELLREUTTER, 1997, p. 105).<br />
O silêncio é a renúncia de qualquer intenção sonora. Entendendo silêncio, na estética do<br />
impreciso e do paradoxal, não apenas como ausência de som, mais também, como índice alto de<br />
162<br />
Anais do XII S<strong>em</strong>p<strong>em</strong>