menêutica vinculando-a à natureza da humanidade que envolve a prática musical de maneira que sujeito e objeto são ligados pela própria música, sobretudo <strong>em</strong> seu caráter poético-estético – ambição pós-estruturalista. Certamente, isso conduz a uma nova consideração do humano como condicionador dessa experiência estética, tornando-se iminente uma probl<strong>em</strong>atização do sujeito. Uma estética de si, hermenêutica da vida, v<strong>em</strong> a ser a ação direcionadora para o reencontro com o seu próprio valor ético, de forma a considerar “sua vida uma obra que seja portadora de certos valores estéticos e que corresponda a certos critérios de estilo” (FOUCAULT, 2010b, p. 199). O entendimento dessa experiência encontra-se no simples ato de vivê-la. O desafio, como atitude estética requerida na experiência da performance musical, é a conversão de sua condição hermenêutica na própria existência do sujeito para o si do ato realizado. Subjetivação e estetização, para Foucault, caracterizam um processo de socialização que não constitui o sujeito numa “perfeita obra de arte”, mas conduz a iniciativa de uma “transformação de si por si próprio” (FOUCAULT, 2010). Em minha Tese de Doutorado (VIEIRA, 2012), a fim de construir um escopo teórico concernente ao sujeito envolvido numa atitude estética, num processo situacional de performance, centralizei o foco de reflexão para a minha ação, como sujeito/ individuo de atitude estética sob um olhar amparado no curso proferido por Michel Foucault entre 1981-1982 no Collège de France, intitulado “A Hermenêutica do Sujeito” que é diretamente vinculado ao princípio do cuidado de si. O cuidado de si apresenta um conjunto de procedimentos que atuam progressivamente sobre o eu. Pensar nesses procedimentos de estetização sublinha a espontaneidade que atua tal qual o sentido da subjetivação. O cuidado de si conduz a uma subjetivação da alma do sujeito que busca por um movimento de ascese. Entenda-se subjetivação da alma como uma possibilidade de realização física de um corpo de reflexões cabíveis que levam a consciência de si, como constituição de si, tornando aquele sujeito como indivíduo de si. Assim, a ascese caracteriza-se pela possibilidade de aprimoramento que visa um domínio sobre si para depois ampliar-se sobre os outros dentro do grupo a que se pertence. Essa constituição de si não ocorre s<strong>em</strong> a participação do outro, tampouco ocorre s<strong>em</strong> o conhecimento consciente da sua própria orig<strong>em</strong> valorizado como a priori, sendo fundamental a apropriação dessa condição de forma que essa compleição é dada com a possibilidade de exercícios de uma escrita/escuta e leitura de si, a partir do outro desdobrado sobre si para consigo. Em acréscimo, Foucault (2010) coloca a seguinte questão: “Qual é, pois, a ação do outro que é necessária à constituição do sujeito por ele mesmo?” A intervenção a essa questão parece óbvia: sua ação é a de mediador. Essa função de mediador v<strong>em</strong> condicionada de saberes possíveis que se tornam formadores de uma tradição. Como processo de reflexão, o desvio aqui tomado é oblíquo. De certo modo, a questão da constituição de si, do cuidado de si, é relacionada à preocupação de que nunca o interesse da estética da existência, como um aspecto do cuidado de si, propõe a cada um cuidar apenas de seu mundo pessoal s<strong>em</strong> o vínculo com as alteridades. Mesmo que o seu relacionamento, nessa linha pós-moderna, seja realizado por meio da linguag<strong>em</strong> de interação entre os alteres envolvidos, a constituição é <strong>em</strong>pírica, isto é, um movimento de ascese é proveniente desse inter-relacionamento, pois a humanidade, por sua natureza, é prática, e essa prática, <strong>em</strong> termos de narrativa, s<strong>em</strong>pre deve ser vivenciada e relatada. A centralidade objetivada concerne na figura do músico performer. O cuidado de si, portanto, e a subjetivação que lhe é decorrente, como estética da existência buscam o resgate da trajetória específica do sujeito, gerando para si uma ação reflexiva, convertida do olhar do outro como alteridade. Naturalmente, esse processo reflexivo constitui-se num aprimoramento da própria ação estética, de maneira que a conversão de si para si mesmo gera-se como um movimento ético sustentado, particularmente, pela tradição de performance que torna-se o contexto para a própria ação e constituição do sujeito. 20 Anais do XII S<strong>em</strong>p<strong>em</strong>
REFERÊNCIAS FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos: ética, sexualidade, política. Organização: Manoel Barros da Motta. Tradução: Elisa Monteiro, Inês Autran Dourado Barbos. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010b. ______. A Hermenêutica do Sujeito: Curso dado no Collège de France (1981-1982). Tradução: Márcio Alves da Fonseca, Salma Tannus Muchail. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. LIMA, Sonia A. Performance: Investigação Hermenêutica no Processo de Interpretação Musical. In: RAY, Sonia (Org). Performance musical e suas Interfaces. Goiânia: Vieira, 2005, p. 91-114. MORIN, Edgar. A cabeça b<strong>em</strong>-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. VIEIRA, Daniel. ‘Boisinhos’ e ‘Lobosinhos’ de Heitor Villa-Lobos: O cuidado de si no processo de performance como crítica para a constituição de um sujeito de atitude estética. UFRGS. Porto Alegre. 2012. Tese de Doutorado. ______. Do encantamento para a apropriação artística: experiência e performance musical, filosofia e hermenêutica, estética e ética. Revista do Conservatório de <strong>Música</strong> da UFPel. Pelotas, nº 4, 2011. p. 194-217. Comunicações Orais 21
- Page 1 and 2: XII SEMPEM Seminário Nacional de P
- Page 3 and 4: XII SEMPEM - Seminário Nacional de
- Page 5 and 6: XII SEMPEM - Seminário Nacional de
- Page 7 and 8: Sexta-Feira (05 de outubro) - COMUN
- Page 9 and 10: Dra. Maria Helena Bezerra Cavalcant
- Page 11 and 12: Mesa 3 “Canções: Ressignificaç
- Page 13 and 14: Já um ensino coletivo possibilita
- Page 15 and 16: Os bons resultados nas apresentaç
- Page 17 and 18: A MUSICOTERAPIA COMUNITÁRIA, O HOM
- Page 19: A VALORIZAÇÃO DA CONDIÇÃO HUMAN
- Page 23 and 24: Nível Superior), no período entre
- Page 25 and 26: OS MODOS DE SER E AGIR DO PIANISTA
- Page 27 and 28: Considerações O estudo sobre a pr
- Page 29 and 30: PESQUISA DE REPERTÓRIO PIANÍSTICO
- Page 31 and 32: O movimento contrário no trecho ab
- Page 33 and 34: REFERÊNCIAS ALMEIDA PRADO. Kinders
- Page 35 and 36: Por outro lado, alguns compositores
- Page 37 and 38: Na Figura 3 o decrescendo é destac
- Page 39 and 40: Ressonâncias e Reminiscências da
- Page 41 and 42: Recorte 2: Introdução na moda de
- Page 43 and 44: MUSIKKORPS DA WEHRMACHT E A FUNÇÃ
- Page 45 and 46: Também cumpriria a função de imp
- Page 47 and 48: O método de aprendizado por cópia
- Page 49 and 50: TRÊS ESTUDOS DE CONCERTO PARA VIOL
- Page 51 and 52: REFERÊNCIAS BARBOSA, Valdinha e DE
- Page 53 and 54: Na realidade, diversos estudos têm
- Page 55 and 56: “ESTUDO I” FOR SOLO CLARINET BY
- Page 57 and 58: help to create an explosive intensi
- Page 59 and 60: A FIGURA ALEGÓRICA DO DEFEITO NO D
- Page 61 and 62: Considerações finais Observando a
- Page 63 and 64: Média-análise Macroanálise Comun
- Page 65 and 66: MACRO ANÁLISE Ritmo Melodia A obra
- Page 67 and 68: Figura 3: J. Ovalle, I. Legenda, c.
- Page 69 and 70: A PRODUÇÃO DO GLISSANDO COMO TÉC
- Page 71 and 72:
Figura 2: Posição da mão ao abri
- Page 73 and 74:
forma aumentar o intervalo até che
- Page 75 and 76:
DIFICULDADES MOTORAS NA CONSTRUÇÃ
- Page 77 and 78:
exemplo, a superação das dificuld
- Page 79 and 80:
sendo necessária, portanto, a manu
- Page 81 and 82:
Figura 2: Transgradação pontual,
- Page 83 and 84:
EXPERIMENTO COMPOSICIONAL UTILIZAND
- Page 85 and 86:
O contorno melódico e a interaçã
- Page 87 and 88:
va como solista autônoma e algumas
- Page 89 and 90:
MELOPOÉTICA: MÉTRICA, RITMO, COLO
- Page 91 and 92:
A métrica foi perfeitamente encaix
- Page 93 and 94:
REFERÊNCIAS FERREIRA, Ascenso. Poe
- Page 95 and 96:
1710. Além de apresentar diálogo
- Page 97 and 98:
Arban - Método de Conservatório C
- Page 99 and 100:
Figura 6: Exercício de staccato tr
- Page 101 and 102:
MARIZ, Vasco. Claudio Santoro. Rio
- Page 103 and 104:
lismo quando dedica um capítulo pa
- Page 105 and 106:
RELAÇÕES ENTRE TEXTO E MÚSICA NA
- Page 107 and 108:
DANUSER, Hermann (Hg.). Musikalisch
- Page 109 and 110:
tico (processo holístico), consequ
- Page 111 and 112:
AS BANDAS DE MÚSICA ESCOLARES EM A
- Page 113 and 114:
A pesquisa será de natureza qualit
- Page 115 and 116:
3. planejamento das atividades a se
- Page 117 and 118:
CORO TERAPÊUTICO: PROPOSTA PARA CO
- Page 119 and 120:
Segundo o dicionário Michaelis, es
- Page 121 and 122:
Metodologia Esta pesquisa orienta-s
- Page 123 and 124:
ENSINO SUPERIOR DE MÚSICA À DIST
- Page 125 and 126:
Segundo relatos do entrevistado, é
- Page 127 and 128:
será o benefício para o cliente,
- Page 129 and 130:
O RECITAL COMO AVALIAÇÃO DE APREN
- Page 131 and 132:
Figura 1: Estabelecimento de crité
- Page 133 and 134:
Figura 5: Credibilidade na avaliaç
- Page 135 and 136:
O ENSINO DE VIOLÃO NA ESCOLA BRASI
- Page 137 and 138:
DINIZ, André. Almanaque do Choro:
- Page 139 and 140:
ia social e podem ser verificados e
- Page 141 and 142:
KIEFER, Bruno. História da música
- Page 143 and 144:
eferenciam técnicas dos primórdio
- Page 145 and 146:
A MÚSICA BRASILEIRA PARA PIANO NO
- Page 147 and 148:
REFERÊNCIAS CARDASSI, Luciane. O P
- Page 149 and 150:
máticos do violão são utilizados
- Page 151 and 152:
A PERCUSSÃO MÚLTIPLA NA MÚSICA S
- Page 153 and 154:
situação pesquisada. Assim, ao me
- Page 155 and 156:
DISTONIA FOCAL NA EMBOCADURA DOS IN
- Page 157 and 158:
Considerações Finais O presente t
- Page 159 and 160:
ções, permitindo o enraizamento d
- Page 161 and 162:
O CONCEITO DE SILÊNCIO EM H. J. KO
- Page 163 and 164:
edundância, de elementos que se re
- Page 165 and 166:
Figura 1: Trecho de Canção e Dan
- Page 167 and 168:
DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM M
- Page 169 and 170:
notas longas. Apesar dessas dificul
- Page 171 and 172:
O USO INSTRUMENTAL DA VOZ EM AGNUS,
- Page 173 and 174:
Figura 1: Pequenos arabescos em tor
- Page 175 and 176:
REFERÊNCIAS BERIO, Luciano. Agnus.
- Page 177 and 178:
O trabalho conjunto do par colabora
- Page 179 and 180:
XII SEMPEM - Seminário Nacional de
- Page 181:
Trio Kronus Gerson Amaral, trompete