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Download - Mestrado em Música e Artes Cênicas - UFG

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A FIGURA ALEGÓRICA DO DEFEITO NO DISCO<br />

COM DEFEITO DE FABRICAÇÃO DE TOM ZÉ<br />

Guilherme Araújo Freire (UNICAMP)<br />

guilhermefreirea@gmail.com<br />

Palavras-chave: <strong>Música</strong> Popular; Indústria cultural; Experimentalismo; Vanguarda.<br />

Dinâmica globalizada da indústria cultural na década de 90<br />

Uma consequência do processo de globalização na produção musical brasileira ocorreu no<br />

início de 1990, quando houve um fortalecimento da indústria fonográfica no país, ocasionado pela<br />

considerável acréscimo do consumo <strong>em</strong> novos segmentos do mercado, como o sertanejo, o pagode<br />

e o axé. Com novas perspectivas de crescimento, as grandes gravadoras começaram a direcionar<br />

sua produção também ao exterior, iniciando um novo momento de conquista do mercado<br />

estrangeiro, investindo <strong>em</strong> versões estéticas mais universalizadas da produção de alguns artistas.<br />

Deste modo, na perspectiva das majors, “falar a língua do mercado globalizado v<strong>em</strong> se caracterizando<br />

<strong>em</strong> explorar as diferenças locais para que elas não apareçam como sendo muito diferentes<br />

do todo” (FENERICK, 2008: 133).<br />

Como estratégia para tal inserção, a linguag<strong>em</strong> da música pop e o tratamento técnico <strong>em</strong><br />

estúdios especializados serviram às grandes gravadoras para conferir<strong>em</strong> uma roupag<strong>em</strong> glamourizada<br />

<strong>em</strong> gêneros como sertanejo, axé e pagode, criando um produto caracterizado por padrões<br />

standardizados que “n<strong>em</strong> mesmo se identifica com a procedência singela do canto caipira, do frevo<br />

ou do samba carnavalesco” (TATIT, 2004: 236). Para Luiz Tatit, “essa sonoridade não trazia variação<br />

rítmica, sutilezas harmônicas, achados poéticos, arranjos diferenciados e n<strong>em</strong> mesmo se identificava<br />

com a procedência singela do canto caipira, do frevo ou do samba carnavalesco. Seu acabamento<br />

técnico era realizado <strong>em</strong> Los Angeles, com o propósito explícito de agradar a um público<br />

desprevenido que se relacionava com a canção ‘<strong>em</strong> bloco’” (TATIT, 2004: 236).<br />

A concepção artística de Tom Zé no disco Com defeito de Fabricação<br />

De certa maneira, o disco de Tom Zé Com defeito de Fabricação, parece caminhar na contramão<br />

dessa tendência homogeneizadora da indústria fonográfica. Através do uso explícito de<br />

sons ruidosos e estridentes oriundos de ferramentas industriais e de objetos do cotidiano, o compositor<br />

baiano cria uma sonoridade singular com imperfeições, que nada t<strong>em</strong> a ver com os padrões<br />

de beleza da canção de massa.<br />

Na ficha técnica do CD, encontram-se textos repletos de metáforas, que delineiam uma<br />

concepção artística alegórica. Partindo da ideia de que a maioria da população dos países de terceiro<br />

mundo se transforma <strong>em</strong> “andróides” que apresentam defeitos como criar, pensar, dançar e<br />

sonhar, hábitos e práticas supostamente incomuns nas sociedades racionalizadas do mundo desenvolvido,<br />

Tom Zé concebe um disco centrado nessa t<strong>em</strong>ática. Todas as faixas do disco são nomeadas<br />

com a palavra “defeito” (defeito #1 - gene, defeito #2 - curiosidade, etc) e cada uma<br />

t<strong>em</strong> uma proposta crítica direcionada aos que seriam os “patrões do primeiro mundo”. Assim, observamos<br />

que a ideia central do disco, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que dialoga criticamente com o fetiche<br />

de perfeição da indústria cultural, constrói uma inter-relação entre a estética da música po-<br />

Comunicações Orais 59

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