Histologia Básica, Texto e Atlas - 12ª Edição - Junqueira & Carneiro
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15 1 Trato Digestivo<br />
A camada muscular contém células musculares lisas<br />
orientadas em espiral, divididas em duas subcamadas, de<br />
acordo com o direcionamento principal. Na subcamada<br />
mais interna (próxima do lúmen), a orientação é geralmente<br />
circular; na subcamada externa, é majoritariamente<br />
longitudinal. Entre essas duas subcamadas observa-se<br />
o plexo nervoso mioentérico (ou plexo de Auerbach) e<br />
tecido conjuntivo contendo vasos sanguíneos e linfáticos.<br />
Assim, as contrações da camada muscular, geradas e coordenadas<br />
pelos plexos nervosos, impulsionam e misturam o<br />
alimento ingerido no trato digestivo. Esses plexos são compostos<br />
principalmente por agregados de células nervosas<br />
(neurônios viscerais multipolares) que formam pequenos<br />
gânglios parassimpáticos. Uma rede rica em fibras pré- e<br />
pós-ganglionares do sistema nervoso autônomo e algumas<br />
fibras sensoriais viscerais possibilitam comunicação entre<br />
esses gânglios. A quantidade de gânglios ao longo do trato<br />
digestivo é variável; eles são mais numerosos em regiões de<br />
maior motilidade.<br />
A serosa é formada por uma camada delgada de tecido<br />
conjuntivo frouxo, revestida por um epitélio pavimentoso<br />
simples denominado mesotélio. Na cavidade abdominal, a<br />
serosa que reveste os órgãos é denominada peritônio visceral<br />
e está em continuidade com o mesentério (membrana<br />
delgada revestida por mesotélio nos dois lados), que suporta<br />
os intestinos, e com o peritônio parietal, uma membrana<br />
serosa que reveste a parede da cavidade abdominal. Em<br />
locais em que o órgão digestivo está unido a outros órgãos<br />
ou estruturas, no entanto, a serosa é substituída por uma<br />
adventícia espessa, que consiste em tecido conjuntivo e<br />
tecido adiposo contendo vasos e nervos, sem o mesotélio.<br />
A determinação dessa camada ocorre durante a embriogênese,<br />
de acordo com o segmento e sua orientação.<br />
As principais funções do revestimento epitelial da<br />
mucosa do trato digestivo são: prover uma barreira seletivamente<br />
permeável entre o conteúdo do lúmen e os tecidos<br />
do organismo; facilitar o transporte e a digestão do alimento;<br />
promover a absorção dos produtos desta digestão;<br />
produzir hormônios que regulem a atividade do sistema<br />
digestivo. Algumas células contidas nesta camada produzem<br />
muco para lubrificação e proteção.<br />
Cabe ressaltar que a lâmina própria, localizada logo<br />
abaixo do epitélio, é uma zona rica em macrófagos e células<br />
linfoides, algumas das quais produzem anticorpos ativamente,<br />
Esses anticorpos são principalmente do tipo imunoglobulina<br />
A (IgA), que é secretada para o lúmen ligada<br />
a uma proteína produzida pelas células epiteliais do revestimento<br />
intestinal. Este complexo (SlgA) protege contra<br />
invasões virais e bacterianas. A SlgA existente nos tratos<br />
respiratório, digestivo e urinário é resistente à digestão por<br />
enzimas proteolíticas, podendo, portanto, coexistir com<br />
as proteases encontradas no lúmen. Além das células de<br />
defesa dispersas no tecido, há também nódulos linfoides<br />
na lâmina própria e na camada submucosa que protegem o<br />
organismo (em associação com o epitélio) da invasão bacteriana.<br />
A necessidade desse suporte imunológico é óbvia,<br />
porque todo o trato digestivo - com exceção da cavidade<br />
oral, esôfago e canal anal - é revestido por um epitélio simples,<br />
bastante vulnerável.<br />
~O <strong>Histologia</strong> aplicada<br />
Em algumas doenças, como o mf9acólon congênito (doença de<br />
Himhsprung), doença de Chagas (infecção pelo Tryponosomo cruz1) e<br />
diabetes, os plexos nervosos no trato digestivo são bastante alterados, e<br />
muitos dos seus neurônios são destruídos. Isso resulta em distúrbios da<br />
motilidade, com dilatações frequentes em algumas áreas. Ainda sobre<br />
inervação, o trato digestivo recebe uma grande quantidade de fibras do<br />
sistema nervoso autônomo, e esta distribuição contribui para os efeitos<br />
desencadeados pelo estresse emocional sobre o trato gastrintestinal -<br />
um fenômeno muito comum e importante em medicina pslcossomà·<br />
tica.<br />
... Cavidade oral<br />
A cavidade oral é revestida por um epitélio pavimentoso<br />
estratificado, queratinizado ou não, dependendo da<br />
região. A camada queratinizada protege a mucosa oral<br />
de agressões mecânicas durante a mastigação e pode ser<br />
observada na gengiva e no palato duro. A lâJnina própria<br />
nessas regiões contém várias papilas e repousa diretamente<br />
sobre o periósteo. Epitélio pavimentoso não queratinizado<br />
reveste o palato mole, lábios, bochechas e o assoalho da<br />
boca. A lâmina própria tem papilas similares às observadas<br />
na derme e é contínua com a submucosa, que contém<br />
glândulas salivares menores distribuídas difusamente. Nos<br />
lábios observa-se uma transição do epitélio oral não queratinizado<br />
para o epitélio queratinizado da pele.<br />
O palato mole contém, no seu centro, músculo estriado<br />
esquelético e numerosas glândulas mucosas e nódulos linfoides<br />
na submucosa.<br />
• língua<br />
A língua é uma massa de músculo estriado esquelético<br />
revestida por uma camada mucosa cuja estrutura varia de<br />
acordo com a região. As fibras musculares se entrecruzam<br />
em três planos; estão agrupadas em feixes, geralmente<br />
separados por tecido conjuntivo. A camada mucosa está<br />
fortemente aderida à musculatura, porque o tecido conjuntivo<br />
da lâmina própria penetra os espaços entre os feixes<br />
musculares. A superfície ventral (inferior) da língua é lisa,<br />
enquanto a superfície dorsal é irregular, recoberta anteriormente<br />
por uma grande quantidade de eminências pequenas<br />
denominadas papilas. O terço posterior da superfície<br />
dorsal da língua é separado dos dois terços anteriores por<br />
tuna região em forma de "V''. Posteriormente a essa região,<br />
a superfície da língua apresenta saliências compostas principalmente<br />
por dois tipos de agregados linfoides: pequenos<br />
grupos de nódulos e tonsilas linguais, nas quais os nódulos<br />
linfoides se agregam ao redor de invaginações da camada<br />
mucosa denominadas criptas (Figura 15.2).<br />
Papilas linguais<br />
Papilas são elevações do epitélio oral e lâmina própria<br />
que assumem diversas formas e funções. Existem quatro<br />
tipos (ver Figura 15.2): filiformes, fungiformes, foliadas e<br />
circunvaladas.