Monopólios Digitais
Concentração e Diversidade na Internet
Concentração e Diversidade na Internet
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Monopólios</strong><br />
<strong>Digitais</strong><br />
de central é colocar pessoas em contato (seja em “um mesmo lado”, como os usuários do<br />
Facebook, ou com o “outro lado”, na interação entre usuários e anunciantes, por exemplo).<br />
Esse efeito de rede nem sempre é positivo (a presença de muitas pessoas pode ser vista<br />
como algo ruim em uma rede social), mas em geral, e para os principais agentes, o é.<br />
Não é por acaso que as plataformas surgem como líderes no mercado brasileiro,<br />
assim como no internacional. O YouTube é popular porque reúne um conjunto<br />
enorme de vídeos publicados por usuários, e tem essas obras lá pela sua audiência,<br />
em um movimento de mútuo reforço. O Facebook cresce em número de usuários pelo<br />
fato de cada vez mais pessoas, organizações e atividades passarem pelo seu interior.<br />
Muitas pessoas e organizações deixam de ter websites para adotar apenas um perfil<br />
ou uma página. A própria empresa estimula isso com oficinas formando pessoas em<br />
como usar a ferramenta. Esse atributo dificulta enormemente o surgimento de novos<br />
concorrentes ou a sua estabilização 34 .<br />
Tal mudança não é impossível, como a história da rede social Orkut mostra.<br />
Mas até o presente momento, o efeito de rede vem funcionando bem para o Facebook<br />
no mercado de redes sociais, assim como para outros, como o Twitter ou o Pinterest.<br />
Um outro exemplo, entre os brasileiros, é o Palco MP3. Como uma plataforma de música<br />
independente, a base já adquirida de artistas com canções publicadas estimula a<br />
procura do público, o que, por sua vez, retroalimenta a audiência.<br />
Coleta e exploração de dados pessoais<br />
A capacidade que tais aplicativos e sites têm de coletar e explorar dados pessoais<br />
se coloca como outra barreira. Facebook e Google são empresas fortemente<br />
calcadas em cima da reunião de informações sobre os usuários de seus serviços.<br />
Snowden chamou-as de “Empresas de vigilância” (Surveillance Companies) (MURDOCK,<br />
2018). Tal capacidade dificulta a entrada de novos concorrentes de diversas maneiras.<br />
Em primeiro lugar, dá a essas plataformas uma capacidade de publicidade personalizada<br />
muito mais “eficiente” do que a realizada por veículos tradicionais. Essa capacidade<br />
está na raiz do crescimento das receitas auferidas com publicidade. Em segundo<br />
lugar, o impulsionamento de conteúdos depende diretamente dessas informações e<br />
do mapeamento de públicos. Essa é uma nova forma de marketing que vem atraindo<br />
recursos, que deixam de ser investidos em outras destinações.<br />
CONCENTRAÇÃO<br />
E DIVERSIDADE<br />
NA CAMADA DE<br />
APLICAÇÕES E<br />
CONTEÚDOS NO<br />
BRASIL<br />
120<br />
O banco de dados gigantesco das plataformas permite a elas também ter uma<br />
capacidade muito maior de verificar a efetividade de seus serviços e de antecipar necessidades.<br />
Isso é uma vantagem competitiva enorme a estes atores. No caso específico<br />
da camada de conteúdos e aplicações, o lançamento pelo Facebook do Watch (serviço<br />
próprio de vídeo) e pelo Google do YouTube TV (canal de streaming ao vivo) são<br />
exemplos importantes. Esses dois concorrentes dispõem de um conhecimento sobre<br />
os gostos de seus usuários que um canal normal de TV (como Record ou Bandeirantes)<br />
não possui caso queira competir de fato no mercado de streaming pago.<br />
34 O caso do Snapchat é emblemático. Embora a rede social apresente bons índices de crescimento da<br />
sua base de usuários, e tenha sido vista por pesquisadores como uma possível ameaça ao Facebook,<br />
isso ainda não se confirmou. Ao contrário, o diferencial do Snapchat (o formato Stories) hoje já é mais<br />
usado no Facebook e no Instagram do que no próprio Snapchat.