22.02.2019 Views

Monopólios Digitais

Concentração e Diversidade na Internet

Concentração e Diversidade na Internet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Monopólios</strong><br />

<strong>Digitais</strong><br />

O Relatório “Um Mundo e Muitas Vozes” (UNESCO, 1983) pontua a tendência à<br />

concentração no setor de comunicações em razão da dinâmica capitalista. E sistematiza<br />

essas formas de concentração em três grandes modalidades. “A industrialização tende<br />

a estimular a concentração da comunicação, mediante a formação de monopólios ou<br />

oligopólios, em matéria de coleta, armazenamento e difusão de informação. A concentração<br />

age em três direções: a) integração horizontal e vertical de empresas que agem<br />

no setor informativo e recreativo; b) participação de empresas pertencentes a ramos<br />

industriais diferentes e interessadas na expansão dos meios de comunicação social (cadeias<br />

de hotéis e de restaurantes, companhias aéreas, construtores de automóveis ou<br />

empresas de mineração interessadas na imprensa, na produção de filmes e até mesmo<br />

no teatro); c) fusão e interpenetração de diversas indústrias da informação (criação de<br />

grandes conglomerados que abarcam vários meios de comunicação social)” (p.168).<br />

Badgikian (2004) descreve o processo de concentração e centralização na área<br />

de comunicações em uma série de fusões que chegou aos “grandes cinco”: Time Warner,<br />

Disney, Viacom, News Corporation e Bertelsmann”. “Os grandes conglomerados<br />

de mídia não querem diversidade política e social maior porque isso iria diluir as suas<br />

audiências e, por consequência, reduzir as taxas que cobram pelos comerciais que<br />

produzem suas altas taxas de lucro” (p. 260). Nos anos 1980, essas fusões ainda se<br />

davam no interior do segmento. Com a intersecção entre os serviços tradicionais de<br />

comunicação (radiodifusão, mídia impressa, publicidade) e de telecomunicações (telefonia,<br />

audiovisual pago e dados) naquilo que passou a ser chamado de “convergência<br />

midiática”. Do ponto de vista metodológico, a complexidade do fenômeno da convergência<br />

fez com que Garnham (1996) apontasse que a discussão sobre ele deve considerar,<br />

ao menos, cinco dimensões: 1. Convergência de redes e canais de distribuição;<br />

2. Convergência dos formatos de mídia; 3. Convergência dos modos de consumo dos<br />

meios de comunicação; 4. Convergência dos modos de pagamento; e 5. Convergência<br />

dos mercados domésticos e comerciais.<br />

Esses movimentos de concentração se chocam com as promessas de liberdade,<br />

diversidade e benefícios envoltas às TICs, especialmente à Internet. A disseminação da<br />

rede veio acompanhada sempre de expectativas de que ela poderia ser um instrumento-chave<br />

para democratizar o acesso ao conhecimento e ao exercício da liberdade de expressão,<br />

como expresso na afirmação do criador do WWW, Tim Berners-Lee citada neste<br />

estudo. A Internet ampliou possibilidades tanto no âmbito do acesso, ao disponibilizar<br />

uma gama de informações inimaginável, cujo maior exemplo é a Wikipedia, enciclopédia<br />

colaborativa que se transformou em um dos sites mais acessados do mundo, quanto na<br />

qualidade do consumo e de informações e bens culturais. Governos passaram a prover<br />

serviços aos cidadãos por meio da web. Mecanismos de busca permitem encontrar uma<br />

diversidade ampla de informações sobre as temáticas mais distintas.<br />

Coletivos utilizaram a Rede de modo a potencializar iniciativas conjuntas cidadãs<br />

e mobilizações que resultaram inclusive em grandes transformações, como o<br />

uso de tecnologias como um apoio importante às mobilizações de rua na chamada<br />

“Primavera Árabe” (CASTELLS, 2017). Redes sociais permitiram a interação de pessoas<br />

pelas mais diversas formas, a construção de comunidades de interesse ou por causas.<br />

A esfera pública virtual foi pensada como um substituto de urnas e praças públicas,<br />

onde cidadãos pudessem debater e deliberar diretamente, em uma democracia digital<br />

radicalizada. Pessoas e coletivos deram visibilidade a temas e combateram injustiças<br />

DIVERSIDADE,<br />

PLURALIDADE<br />

E DIVERSIDADE<br />

NA INTERNET<br />

49

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!