Monopólios Digitais
Concentração e Diversidade na Internet
Concentração e Diversidade na Internet
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<strong>Monopólios</strong><br />
<strong>Digitais</strong><br />
ficação desse grau de variedade seja mais adequada de forma combinada, identificando<br />
tanto tendências gerais quanto específicas de cada um dos segmentos. Esse será o<br />
esforço desta subseção, em que serão consideradas distintas dimensões da diferença,<br />
passando pelo tipo de serviço, pela finalidade da atividade, pela natureza do conteúdo,<br />
pelos gêneros e formatos e por outros aspectos.<br />
Uma primeira tendência geral diz respeito à finalidade dos conteúdos disseminados.<br />
Um olhar geral sobre aplicações, sites, páginas e canais revela uma hegemonia<br />
do entretenimento. Nas aplicações, GloboPlay, Netflix, Spotify, Palco MP3 e Deezer são<br />
serviços com essa lógica. Entre os sites, Live.com, Globo.com, Uol.com, Yahoo.com, Xvideos.com,<br />
MSN.com, Explicandoo.com.br e Otvfoco.com.br também operam com esse objetivo. Entre as<br />
páginas mais acessadas, 27 das 32 vinculadas à circulação de conteúdos trabalham<br />
integral ou parcialmente 17 com entretenimento (84%). Nos canais do YouTube, são 46<br />
dos 50 mais populares, perfazendo percentual ainda maior: 92%.<br />
Não se trata aqui de demonizar o entretenimento. Contudo, cabe sim uma<br />
problematização da proporção da sua hegemonia e dos efeitos que esse tem para a<br />
diversidade e o pluralismo na web. Conforme discutido anteriormente, o domínio do<br />
entretenimento é uma das características da indústria cultural consolidada no século XX<br />
e que parece permanecer no ambiente online. Há nesse grande universo manifestações<br />
musicais diversas e dramaturgia de qualidade (como no Globo Play e no Netflix), mas o<br />
traço geral aponta para conteúdos homogeneizados, pouco ou nada críticos e que geram<br />
pouco engajamento cognitivo e reflexivo das audiências sobre suas realidades.<br />
Mesmo dentro do entretenimento, o que se vê são as manifestações hegemônicas<br />
da indústria cultural. Entre os artistas, por exemplo, as páginas de Facebook<br />
e canais de YouTube mais populares são aqueles vinculados a cantores como Jorge e<br />
Mateus, Paula Fernandes, Lucas Lucco, Anitta, Gustavo Lima e Ivete Sangalo. Em termos<br />
de estilo, predominam aqueles mais trabalhados por gravadoras, selos e pela<br />
indústria de promoção: sertanejo e pop.<br />
Há, como em outros aspectos, exceções. É o caso de Os Cretinos, companhia<br />
de dança focada em coreografias para hits. Outros dois canais são relevantes por se<br />
constituírem como alternativos no campo da música: Kondzilla e GR6 Explode. Entretanto,<br />
do ponto de vista de formatos e do próprio conteúdo, ambos reproduzem outro<br />
estilo dominante na indústria de música nacional (embora valha destacar seu caráter<br />
de cultura periférica): o funk. Aline Barros e Bruna Karla são casos específicos, uma vez<br />
que a indústria de música gospel é forte, embora por vezes passe ao largo de canais<br />
tradicionais. O grande número de cristãos no país e os circuitos próprios, estimulados<br />
(ou muitas vezes impostos) como parte da prática religiosa, garantem uma visibilidade<br />
importante para essas e outras cantoras.<br />
Acresce-se uma preocupação também pelo que não figura entre os mais populares<br />
na camada e, portanto, apesar de serem produzidos, não são consumidos massivamente<br />
e não influenciam um conjunto largo de usuários. Um destes formatos é o de<br />
sites jornalísticos, que são minoria, ainda que vinculados a conglomerados tradicionais<br />
de mídia de visão muito semelhante. Tampouco há conteúdos de viés mais educativo,<br />
GRAU DE<br />
DIVERSIDADE E<br />
PLURALIDADE<br />
17 Alguns portais, como UOL, e sites, como Globo.com, Live.com, MSN.com e Yahoo.com<br />
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