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Monopólios Digitais

Concentração e Diversidade na Internet

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<strong>Monopólios</strong><br />

<strong>Digitais</strong><br />

conjunto da web, como forma de ampliar as rendas, decorrentes da majoração dos<br />

fluxos de dados pelo acesso a informações e serviços cada vez mais “pesados” 2 . No<br />

Brasil, o quadro é de pacotes não limitados ou com altas franquias (que na prática não<br />

limitam o consumo) para os usuários de banda larga fixa e de franquias mais limitadas<br />

para quem navega usando conexões móveis.<br />

Esse acesso só existe porque a web constitui uma “utilidade social” (HERSCO-<br />

VICI, 2009) organizada a partir das redes que se constituem na Internet. Os usuários<br />

acessam informação diretamente, mas o fazem cada vez mais a partir de redes ou<br />

repassando, compartilhando e alimentando redes próprias e derivadas. Coloca-se aí<br />

um aparente paradoxo: o bem informação é público e de fruição coletiva, mas a estruturação<br />

da Internet sob a lógica capitalista se dá sob intensa tentativa de apropriação<br />

em dinâmicas de escassez artificial pelos agentes do mercado e de consolidação<br />

da imposição de formas de consumo privado pelos usuários, mesmo que dentro de<br />

espaços de interação coletiva.<br />

A lógica econômica da Internet de “clube” permanece, em se considerando<br />

a necessidade de pagar pelo acesso. Mas, mesmo ultrapassando essa barreira para<br />

os conectados, em que pese a oferta de conteúdos gratuitos, a dinâmica de exigir<br />

uma “credencial” para usufruir de um espaço ou serviço se multiplica, seja essa um<br />

cadastro (para ler uma matéria em um site noticioso), a criação de um perfil (em uma<br />

rede social) ou até mesmo o pagamento por um serviço (como Netflix e Spotify). A lógica<br />

da web é marcada, assim, pela constante tensão entre este esforço dos grandes<br />

provedores de conteúdo e intermediários de constituir “jardins murados” (a partir da<br />

escassez artificial e da tentativa de controlar o acesso a outros conteúdos “dentro<br />

desses jardins”) e a possibilidade dos usuários produzirem e publicarem conteúdos<br />

de fácil acesso para quem está conectado.<br />

Essa multiplicidade de informações disponíveis criou um problema inverso ao<br />

da radiodifusão: o obstáculo não está em produzir, mas em conseguir agregar conteúdos<br />

constituindo referência para serem lidos ou acessados. A web levou a economia da<br />

atenção a um novo patamar, tratando não apenas da fruição de notícias ou obras audiovisuais,<br />

mas da realização das mais variadas atividades. Isso conferiu aos intermediários<br />

papel fundamental, o que se refletiu no ascenso dos portais. Mesmo o conteúdo<br />

carregado de maneira tratada como ilegal precisou de sites e sistemas centralizados,<br />

como no caso dos sites históricos Napster e Megaupload. Em um segundo momento,<br />

entram em cena novos atores: as plataformas. Por meio de diversos serviços, elas passaram<br />

a ser portas de entrada e filtros importantes seja da fruição de conteúdos seja<br />

da interação com os demais usuários. Os mecanismos de busca e as redes sociais são<br />

dois bons exemplos. Nas aplicações, esse papel passou a ser desempenhado pelas<br />

lojas virtuais, como “Play Store” e “Apple Store”.<br />

CONCENTRAÇÃO<br />

E DIVERSIDADE<br />

NA CAMADA DE<br />

APLICAÇÕES E<br />

CONTEÚDOS NO<br />

BRASIL<br />

88<br />

Para entender a cadeia de valor da camada de aplicações e conteúdos, vamos nesse<br />

trabalho, para efeito explicativo, estruturá-la em etapas e subetapas, da forma que segue 3 :<br />

2 No Brasil, por exemplo, operadoras tentaram pressionar o Congresso a aprovar uma lei que institucionalizasse<br />

a prática. Mas a iniciativa enfrentou resistência de entidades da sociedade civil e de usuários<br />

e até o momento de fechamento desse documento não havia avançado.<br />

3 Essas cadeias serão analisadas em detalhe nos estudos de caso de que tratam o capítulo 7.

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