Monopólios Digitais
Concentração e Diversidade na Internet
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<strong>Monopólios</strong><br />
<strong>Digitais</strong><br />
discriminar no momento do tratamento dos dados 19 (SANDVIG et al., 2016).<br />
A opacidade mantida pelas plataformas digitais tem motivado diversos questionamentos.<br />
O primeiro deles é sobre a formação de bolhas (PARISER, 2011), ou seja,<br />
a exposição de usuários a posições parecidas com as suas e a reprodução destes fluxos.<br />
O segundo, vinculado a esse, foi sobre a difusão das chamadas “fake news”, cuja<br />
problemática já foi discutida anteriormente, especialmente sobre o risco das reações<br />
resultarem em violações da liberdade de expressão dos usuários. O tema ganhou especial<br />
atenção no Brasil, inclusive com projetos de lei visando criminalizar a prática e<br />
com iniciativas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para coibir “notícias falsas” durante<br />
as eleições de 2018.<br />
A resposta desproporcional do principal órgão eleitoral do país ocorre no âmbito<br />
de uma preocupação de autoridades e da classe política com a influência do Facebook<br />
e de outras plataformas na próxima disputa eleitoral do país, seguindo o debate<br />
mundial disparado pela polêmica do papel da empresa na eleição de Donald Trump,<br />
nos Estados Unidos. No Brasil, o WhatsApp também é uma rede social cujo impacto<br />
vem sendo discutido, tanto por ser a mais popular do país quanto pela sua arquitetura,<br />
que dificulta a identificação da origem das mensagens 20 , além da dificuldade de monitoramento<br />
do alcance de textos.<br />
Ainda na esfera eleitoral, uma novidade permitida pela minirreforma aprovada<br />
em outubro de 2017 (Lei No 13.488/17) foi a propaganda paga por meio do impulsionamento<br />
de conteúdos por candidatos. Até o pleito municipal de 2016, este tipo de<br />
prática era proibido, podendo só candidatos manterem site, perfis em redes sociais<br />
e enviarem mensagens aos eleitores. Além de beneficiar apenas Facebook e Google,<br />
tal medida beneficia os candidatos com mais recursos em detrimento daqueles com<br />
estrutura mais modesta. Outro impacto preocupante para o debate democrático nas<br />
eleições é a possibilidade de mensagens impulsionadas individualizadas ou direcionadas<br />
a grupos muito específicos, dificultando o controle de concorrentes e eleitores<br />
sobre as propostas e promessas dos candidatos (PITA, 2017).<br />
Boa parte dessas lógicas de intermediação, e das problemáticas decorrentes<br />
dela, abrange também o YouTube. Na página inicial do usuário, aparecem vídeos recomendados<br />
a partir do processamento do algoritmo do sistema. Também há funcionalidades<br />
como filtros por tema e a identificação daquilo com visibilidade no momento<br />
(trending). A arquitetura de rede é mais verticalizada, com os canais e seus seguidores,<br />
mas cada usuário pode assinar listas (playlists) e seguir outros perfis.<br />
GRAU DE<br />
DIVERSIDADE E<br />
PLURALIDADE<br />
136<br />
Esses filtros são centrais para que os vídeos circulem e chamem a atenção dos<br />
espectadores. Pela sua dimensão de repositório, o YouTube funciona também com<br />
uma lógica sob demanda, tanto a partir de buscas no interior da plataforma quanto em<br />
outros mecanismos, como o do próprio Google. Ou seja, diferentemente do Facebook,<br />
em que o usuário passa tempo “rolando o feed” para ver o que sua rede produziu ou<br />
19 Em 2009, a empresa Hewlett-Packard sofreu forte questionamento público após indícios de que um<br />
algoritmo de reconhecimento facial não identificava faces negras sob determinadas condições.<br />
20 Diferentemente do Facebook, em que uma publicação compartilhada mantém o registro da sua<br />
origem, no Whatsapp o encaminhamento de um texto ocorre apenas com a cópia desse, sem qualquer<br />
informação sobre de onde este vem.