Monopólios Digitais
Concentração e Diversidade na Internet
Concentração e Diversidade na Internet
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<strong>Monopólios</strong><br />
<strong>Digitais</strong><br />
Do lado dos produtores de informação, a intermediação também é problemática.<br />
As exigências e regras para acessar as audiências passam a ser definidas por estes<br />
agentes. Na Internet, mesmo com regulações nos planos nacional e internacional (sejam<br />
elas em leis e regulamentos ou em protocolos e padrões), as plataformas ganharam<br />
enorme poder para gerir suas comunidades globais. A derrubada do alcance orgânico<br />
das páginas, apontada nesse trabalho como prática anticoncorrencial, é um dos exemplos.<br />
Ela teve como impacto imediato a redução do alcance destas fontes de informação.<br />
Além disso, a intermediação submete todos os autores de páginas (entre esses,<br />
diversos produtores de conteúdo, de veículos tradicionais a alternativos) à lógica<br />
paga, ao exigir o patrocínio dos posts para que eles cheguem aos seus seguidores ou<br />
a públicos-alvo específicos. Em 2017, jornais tradicionais dos Estados Unidos questionaram<br />
a queda significativa do alcance de suas postagens (FOLHA DE S. PAULO, 2017).<br />
Em 2018, foi a vez dos veículos brasileiros se somarem às queixas, como a decisão da<br />
Folha de deixar de publicar na plataforma. Em razão de reclamações como estas, o<br />
Facebook criou uma área de parcerias com a mídia e vem tentando dialogar com os<br />
principais grupos de comunicação do mundo. Contudo, a empresa não tomou medidas<br />
efetivas que alterassem as restrições às páginas.<br />
Ao instituir a discriminação pelo vetor econômico, o Facebook mina as condições<br />
de expressões com poucos recursos (aí inclusas iniciativas sem fins lucrativos, inclusive<br />
de minorias que já não estão representadas nos canais tradicionais) de participar ativamente<br />
da circulação de conteúdos no seu interior. Isso representa uma relação de forças<br />
extremamente desigual para o balanço do debate democrático na rede, que não pode<br />
ser ditado pelo lucro e pela força do dinheiro. Ao contrário, a noção de direito humano à<br />
comunicação prevê o Estado como ente ativo para equilibrar as forças em disputa política<br />
e cultural na sociedade. Enquanto esse debate já existe na radiodifusão (com medidas<br />
como cotas de canais e produções, direito de antena para partidos ou financiamento da<br />
mídia alternativa), ele é muito incipiente no ambiente digital.<br />
Os controladores de páginas buscam estratégias de superação dessas limitações.<br />
Contudo, as alterações constantes nos critérios do feed dificultam este movimento<br />
de adaptação. Em maio de 2017, o Facebook anunciou uma alteração para<br />
diminuir a visibilidade de sites “caçadores de cliques” (KURZ, 2017). Mas quem define o<br />
que é isso? Certamente há um terreno fértil para confusões e posts sem esse tipo de<br />
intenção serem classificados como tal, especialmente porque a seleção se dá de forma<br />
automatizada por algoritmos. O risco para a liberdade de expressão - e, consequentemente,<br />
para a diversidade online - é significativo. Outra mudança já mencionada foi a<br />
promovida em dezembro de 2017, para atingir os sites “caçadores de engajamento”,<br />
como os que pedem likes ou realizam enquetes. E se uma organização quiser fazer<br />
uma votação com sua rede usando a plataforma?<br />
Os critérios para a derrubada ou promoção do alcance de determinadas páginas<br />
não são nada transparentes, deixando o usuário sem saber por que determinado conteúdo<br />
aparece na sua timeline e outro não. Até mesmo a ferramenta que permite escolher<br />
ver postagens por ordem cronológica ou as chamadas “principais histórias” muda automaticamente<br />
para a segunda modalidade, legitimando a seleção operada pelo algoritmo.<br />
Esses sistemas se configuram com aquilo que Frank Pasquale chama de “caixas-pretas”<br />
(PASQUALE, 2015), não sendo raros os estudos que registram como algoritmos podem<br />
GRAU DE<br />
DIVERSIDADE E<br />
PLURALIDADE<br />
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