Monopólios Digitais
Concentração e Diversidade na Internet
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<strong>Monopólios</strong><br />
<strong>Digitais</strong><br />
A lei alemã<br />
Em junho de 2017, o Parlamento da Alemanha (Bundestag) aprovou o Network Enforcement Act 1 (NetzDG,<br />
na sigla em alemão), uma regulação das plataformas online que façam distribuição de conteúdo e tenham<br />
mais de 2 milhões de usuário no país. A regulação entrou em vigor em janeiro de 2018 e trata de como<br />
essas empresas devem responder a conteúdos que indubitavelmente violem o Código Criminal alemão, 2 excluindo-os<br />
em 24 horas. Em casos complexos, o bloqueio ou exclusão do conteúdo pode ocorrer em até uma<br />
semana. Caso não cumpram com a lei, as plataformas podem ser multadas em até 50 milhões de euros.<br />
Pela NetzDG, os provedores são obrigados a estabelecer um procedimento transparente para lidar com<br />
reclamações sobre conteúdo ilegal e estão sujeitos a obrigações de registro e documentação. Os reclamantes<br />
e usuários devem ser informados imediatamente sobre as decisões tomadas com relação aos conteúdos<br />
postados por eles. O conteúdo excluído deve ser armazenado, para manter as evidências, por pelo menos dez<br />
semanas. Além disso, as empresas enquadradas na lei devem manter um agente responsável por lidar com<br />
conteúdo ilegal no território, para responder tanto às autoridades como aos processos civis. A cada dois anos,<br />
um relatório sobre reclamações recebidas e seu tratamento deve ser entregue às autoridades alemãs.<br />
Ainda, as experiências, melhores práticas e soluções tecnológicas, incluindo ferramentas que permitam<br />
a detecção automática, devem ser compartilhadas, especialmente para beneficiar particularmente<br />
as plataformas menores com recursos e conhecimentos limitados.<br />
A lei foi duramente criticada. A organização internacional de defesa da liberdade de expressão, Artigo 19,<br />
escreveu: “A ARTIGO 19 está profundamente preocupada com a lei que vai prejudicar severamente a liberdade<br />
de expressão na Alemanha, e que está estabelecendo um perigoso exemplo para outros países que, com<br />
mais vigor, criminalizam críticos, dissidentes, incluindo jornalistas e defensores de direitos humanos” 3 .<br />
O Relator Especial das Nações Unidas para a Proteção da Liberdade de Expressão, David Kaye, também<br />
criticou duramente o projeto de lei, em nota enviada ao governo alemão em 2017. Para Kaye, a então<br />
proposição iria muito além de seus objetivos e imporia grande responsabilidade aos operadores de plataformas.<br />
Além disso, as regras seriam incompatíveis com declarações internacionais de direitos humanos,<br />
como o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.<br />
Segundo Kaye, pela norma, plataformas online seriam obrigada a excluir informações por causa<br />
de critérios "vagos e ambíguos". Ele lembrou que muitas informações só podem ser entendidas a partir<br />
do contexto, de forma que seria altamente complexo para as plataformas avaliarem todos os casos. As<br />
ameaças de criminalização, multas altas e prazos curtos também pressionariam as plataformas a remover<br />
conteúdos potencialmente legítimos, levando a uma interferência inadequada na liberdade de<br />
expressão e privacidade, atribuição que deveria ser de tribunais ou instituições independentes.<br />
Em abril de 2018, diversos países como Reino Unido, França, Malásia 4 discutiam projetos de lei para,<br />
assim como a Alemanha, regular plataformas online centradas em distribuição de conteúdo para tentar conter<br />
discursos de ódio e a desinformação. Conforme registrado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras, Rússia<br />
e África do Sul, entre outros países, estão desenhando formas de conter a desinformação, com impacto na<br />
liberdade de expressão online, mas também em outros meios e profissionais de comunicação 5 .<br />
1 https://cdn.netzpolitik.org/wp-upload/2017/03/1703014_NetzwerkDurchsetzungsG.pdf<br />
2 https://www.technologylawdispatch.com/2017/03/social-mobile-analytics-cloud-smac/german-federal-minister-of-justice-introduces-new-bill-to-eradicate-criminal-content-on-social-networks/<br />
3 https://www.article19.org/wp-content/uploads/2017/09/170901-Legal-Analysis-German-NetzDG-Act.pdf<br />
4 http://www.wired.co.uk/article/malaysia-fake-news-law-uk-india-free-speech<br />
5 https://rsf.org/pt/noticia/fake-news-pretexto-para-censura-pelos-predadores-da-liberdade-de-imprensa<br />
conteúdo não ilegal, os produtores de conteúdo devem ser informados sobre tais decisões<br />
e ter a oportunidade de contestá-las. Os sistemas de notificação devem ser claros<br />
e as empresas devem garantir que as decisões de remoção de conteúdo sejam precisas<br />
e fundamentadas, especialmente quando as ferramentas automatizadas forem<br />
usadas. As empresas devem ainda implementar salvaguardas efetivas e apropriadas,<br />
incluindo supervisão e verificação humana, no pleno respeito dos direitos fundamen-<br />
LEGISLAÇÃO<br />
INTERNACIONAL<br />
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