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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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e aos modelos mentais que definiam a eficácia <strong>do</strong> poder e a sua<br />

manutenção num regime assente em processos autoritários.<br />

A ruptura histórica, política e social marca o início de uma<br />

dinâmica democrática.<br />

Numa socie<strong>da</strong>de democrática, as eleições, os parti<strong>do</strong>s, os sindicatos,<br />

as associações empresariais e as outras reali<strong>da</strong>des vivi<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

liber<strong>da</strong>de de expressão e de associação defendem em si mesmas e<br />

por si mesmas a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> democracia, tornan<strong>do</strong> inúteis as<br />

tentativas <strong>do</strong>s que ain<strong>da</strong> transportam sonhos ou vocações<br />

autoritárias, como ficou prova<strong>do</strong> em 1975. E como tornaria a ser<br />

prova<strong>do</strong> se idênticas tentativas surgissem no futuro, independente<br />

<strong>da</strong> sua origem ou natureza.<br />

Assegura<strong>da</strong> a institucionalização democrática, consuma<strong>do</strong> o corte<br />

com o passa<strong>do</strong> ditatorial, deixou de haver lugar para o conceito<br />

de ruptura. Em democracia não há rupturas. Há alternância de<br />

parti<strong>do</strong>s e de concepções no poder. Será sempre na garantia de<br />

alternância que a democracia encontrará a sua principal defesa<br />

contra as vocações autoritárias. Ao contrário <strong>da</strong> ditadura, não precisamos<br />

de alimentar o mito de uma revolução que continua.<br />

Apenas temos de verificar que a democracia continua.<br />

Esta é a ver<strong>da</strong>deira vitória <strong>do</strong> 25 de Abril, o objectivo que uniu os<br />

Portugueses há seis anos.<br />

Mas é possível, e até compreensível, que muitos Portugueses confrontem<br />

as reali<strong>da</strong>des com as expectativas cria<strong>da</strong>s em Abril de<br />

1974. A observação fria <strong>do</strong>s factos conduzirá porém, a uma conclusão<br />

não pessimista sobre a nossa capaci<strong>da</strong>de colectiva.<br />

Os problemas que os Portugueses tiveram de resolver, neste curto<br />

perío<strong>do</strong>, foram graves e muito complexos. Enquanto outros países<br />

europeus dispuseram de duas déca<strong>da</strong>s para realizar os seus programas<br />

de descolonização, Portugal foi força<strong>do</strong> a encontrar as<br />

soluções possíveis em pouco mais de um ano, sofren<strong>do</strong> o impacto<br />

considerável que representou a integração de centenas de<br />

milhares de desaloja<strong>do</strong>s.<br />

Enquanto na Europa a fase principal <strong>da</strong>s nacionalizações e <strong>da</strong><br />

reorganização <strong>da</strong>s relações económicas se processou imediatamente<br />

a seguir à guerra, com o apoio <strong>do</strong> Plano Marshall e com as<br />

populações prepara<strong>da</strong>s para os sacrifícios, Portugal suportou esse<br />

processo no quadro de uma intensa luta política e num ambiente<br />

social de grandes expectativas de consumo.<br />

E se é certo que vivemos várias crises políticas, não é menos<br />

ver<strong>da</strong>de que elas não foram, nos seus fun<strong>da</strong>mentos e nas suas<br />

manifestações, diferentes <strong>da</strong>s crises que, ao longo de trinta anos,<br />

deram forma às actuais reali<strong>da</strong>des políticas e partidárias <strong>do</strong>s países<br />

<strong>da</strong> Europa Ocidental.<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1980<br />

Ramalho Eanes<br />

Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />

135<br />

Foi muito o que se fez. Mas não basta para que se encarem com<br />

despreocupação os próximos anos. Resistimos eficazmente aos<br />

primeiros embates <strong>da</strong> crise económica, mas as dificul<strong>da</strong>des que se<br />

apresentam no horizonte internacional serão, certamente ain<strong>da</strong><br />

mais graves.<br />

Os problemas económicos, nos quais a crise de energia se conjuga<br />

com um surto inflacionista mundial, com a perturbação <strong>da</strong>s<br />

regras <strong>do</strong> comércio internacional e com a transição para novas<br />

tecnologias produtivas, são condicionamentos inevitáveis de qualquer<br />

programa político.<br />

A crise <strong>do</strong>s equilíbrios mundiais, tanto nos planos político e militar<br />

como no plano económico, provoca situações de eleva<strong>da</strong> tensão<br />

e pode rapi<strong>da</strong>mente evoluir até ao conflito. Esta é uma ameaça<br />

evidente que, se não for encara<strong>da</strong> com firmeza, sereni<strong>da</strong>de e ponderação,<br />

destruirá as socie<strong>da</strong>des e o quadro de relações em que o<br />

progresso é possível.<br />

Nestas perspectivas, a incerteza será a característica principal <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong> de 80. Novas reali<strong>da</strong>des, novas relações, novas coordena<strong>da</strong>s<br />

de acção, estão em rápi<strong>da</strong> gestação e desenvolvimento. A nossa<br />

capaci<strong>da</strong>de de as compreender e de para elas encontrar as respostas<br />

adequa<strong>da</strong>s compromete o futuro e até a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s nossos filhos.<br />

A resposta interna depende <strong>da</strong> solidez <strong>do</strong> consenso nacional.<br />

Consenso que implica a renúncia a soluções radicalizantes e<br />

bipoliza<strong>do</strong>ras que, inevitavelmente, gerariam situações de conflito<br />

permanente e agravariam os factores de crise. Seria impossível<br />

esperar obter uma resposta eficaz e oportuna, para uma crise que<br />

é complexa e global, se a nossa socie<strong>da</strong>de estiver tão dividi<strong>da</strong> que<br />

seja incapaz de se entender para as tarefas essenciais.<br />

A necessi<strong>da</strong>de de reforço <strong>da</strong> organização democrática não é apenas<br />

consequência <strong>da</strong> convicção de que a democracia é a forma<br />

superior de ordenamento <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de política. Essa activi<strong>da</strong>de é,<br />

também, um imperativo inerente à consciência <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

crise que temos de enfrentar.<br />

Por isso, não deixarei de defender o debate responsável orienta<strong>do</strong><br />

para as ideias, para os projectos e para os programas concretos,<br />

não deixarei de insistir na procura permanente <strong>do</strong> consenso eficaz,<br />

de mo<strong>do</strong> que se atinja, com segurança, com determinação e sem<br />

sobressaltos, a resposta nacional oportuna. Este consenso<br />

nacional indispensável há-de encontrar uma tradução adequa<strong>da</strong><br />

no plano político.<br />

Não penso que seja difícil a conjugação <strong>do</strong>s elementos e <strong>da</strong>s formações<br />

partidárias à volta <strong>do</strong> regime democrático saí<strong>do</strong> <strong>do</strong> 25 de<br />

Abril e <strong>do</strong> que ele representa em termos de justiça e paz social,<br />

segurança e bem-estar.<br />

Esta é a resposta natural em democracia. Esta é a resposta que<br />

não deixará de ser formula<strong>da</strong> pelos que recusam os extremismos

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