16.04.2013 Views

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>República</strong> Fernan<strong>do</strong> Amaral:<br />

— Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr.<br />

Primeiro-Ministro, Sr. Presidente <strong>do</strong> Supremo Tribunal de<br />

Justiça, Srs. Membros <strong>do</strong> Governo, meus ilustres convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s, Srs.<br />

Deputa<strong>do</strong>s: Há dias, de um nosso conceitua<strong>do</strong> jornal, respiguei<br />

parte de um escrito de um lapidário <strong>da</strong> nossa língua que a trata<br />

com a leveza poética e o carinho espontâneo que ressaltam <strong>da</strong><br />

evidência de um burilar delica<strong>do</strong>.<br />

Nele se dizia:<br />

As palavras são como as máquinas. Chegam a uma altura que<br />

têm de ser substituí<strong>da</strong>s. Fizeram o seu percurso, cumpriram<br />

a sua história. Ro<strong>da</strong>ram nos eixos <strong>da</strong> rotina, gastaram-se a<br />

tempo e fora de tempo. Perderam o senti<strong>do</strong> côncavo e<br />

maleável para acolher novas reali<strong>da</strong>des.<br />

Assim escreveu o distinto jornalista Padre António Rego.<br />

Mas se no renovar <strong>da</strong> língua, no refrescar <strong>da</strong> língua, muitas <strong>da</strong>s<br />

suas folhas caíram, foi, tão-só, para que ela resultasse mais fortaleci<strong>da</strong><br />

e pujante pelo nascimento e apropriação de muitas outras<br />

que, no respeito <strong>da</strong> sua matriz, fazem dela o mais vigoroso e<br />

imprescindível veículo <strong>da</strong> expressão <strong>da</strong> nossa cultura.<br />

Mas há palavras que são tronco. Há palavras que são raízes. Há<br />

palavras que são cerne <strong>da</strong> existência de um povo porque transportam<br />

ideias que são o sustentáculo <strong>da</strong> sua sobrevivência e<br />

garantem a pereni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> seu futuro.<br />

Foram razão <strong>da</strong> sua origem, foram alimento <strong>do</strong> seu passa<strong>do</strong>,<br />

são a justificação <strong>do</strong> seu presente e serão a força <strong>do</strong> seu<br />

futuro.<br />

Estas não caem, não secam, não perdem senti<strong>do</strong>, e porque são<br />

raízes ou tronco colhem ou transportam a seiva, sempre renova<strong>da</strong>,<br />

que é força, energia e vi<strong>da</strong> de uma vontade, de um querer, que<br />

tem assomos de infinito na consciência projecta<strong>da</strong> de um crescimento<br />

sem termo.<br />

Elas poderão, pela violência, ser agrilhoa<strong>da</strong>s, proscritas, introduzi<strong>do</strong>s<br />

no «lagar <strong>do</strong>loroso <strong>do</strong> silêncio». Poderão ser dilacera<strong>da</strong>s,<br />

esfarpela<strong>da</strong>s, proibi<strong>da</strong>s..., que sempre ressurgirão como um grito,<br />

como uma chama, em explosão de alegria, rompen<strong>do</strong> barreiras,<br />

vencen<strong>do</strong> ostracismos.<br />

É que elas traduzem as ideias que dão vi<strong>da</strong> ao pensamento e<br />

orientam a inteligência nos caminhos <strong>da</strong> lucidez ao serviço <strong>do</strong><br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1987<br />

Fernan<strong>do</strong> Amaral<br />

Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />

311<br />

homem, <strong>da</strong> definição <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s povos, na garantia<br />

<strong>da</strong> sobrevivência <strong>da</strong> própria Humani<strong>da</strong>de.<br />

Elas são a energia vital <strong>da</strong> emancipação e fazem parte <strong>do</strong> património<br />

indissolúvel de ca<strong>da</strong> homem como atributo <strong>da</strong> sua própria digni<strong>da</strong>de.<br />

De entre muitas outras, permiti, Srs. Deputa<strong>do</strong>s, que proclame as<br />

que justificam, aqui e agora, a nossa presença, com to<strong>do</strong> o peso<br />

<strong>da</strong>s nossas convicções, <strong>do</strong>s nossos sentimentos, <strong>do</strong>s nossos desejos,<br />

projectos e sonhos: independência, liber<strong>da</strong>de, justiça, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de,<br />

democracia.<br />

Independência, que fora projecto consegui<strong>do</strong> nos campos de São<br />

Mamede. Aí se começou a escrever o primeiro dia de Portugal<br />

com a juventude e audácia que dá razão às exigências mais<br />

profun<strong>da</strong>s de um querer ser que foi, é e será eternamente. Por ela<br />

fomos e somos um Povo que, rompen<strong>do</strong> a história, se consagrou<br />

no respeito que os outros lhe tributam e se afirmou por um testemunho<br />

tão vivo que merece a admiração reitera<strong>da</strong> <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>.<br />

Liber<strong>da</strong>de, que é desejo infrene de realização total. E porque<br />

nunca inteiramente consegui<strong>da</strong>, sempre será renova<strong>da</strong> na luta<br />

permanente de uma aventura aliciante de alargar os seus limites,<br />

aprofun<strong>da</strong>r o seu senti<strong>do</strong>, elevar ca<strong>da</strong> vez mais alto a nobreza <strong>do</strong><br />

seu pulsar. E se em nome dela se têm cometi<strong>do</strong> condenáveis<br />

atropelos, sobram-nos exigências para a depurar de tu<strong>do</strong> quanto<br />

possa manchar a sua beleza. O seu fascínio mobiliza<strong>do</strong>r é componente<br />

<strong>da</strong>s nossas exigências profun<strong>da</strong>s.<br />

Justiça, que é grito instante de gerações em busca de uma socie<strong>da</strong>de<br />

mais harmoniosa, onde ca<strong>da</strong> qual, pelo reconhecimento <strong>do</strong>s seus<br />

direitos, se não sinta posterga<strong>do</strong> para a valeta <strong>do</strong> desprezo ou <strong>da</strong><br />

marginalização, sofren<strong>do</strong> a agressão <strong>do</strong>s privilégios que aos outros<br />

são concedi<strong>do</strong>s enquanto lhe são recusa<strong>do</strong>s os seus próprios direitos.<br />

Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, que é força anímica a congregar homens responsáveis<br />

e livres na satisfação <strong>do</strong> bem comum. Homens que se<br />

<strong>do</strong>am, numa disponibili<strong>da</strong>de inteira, sem reservas, sem cálculo,<br />

servin<strong>do</strong> a justiça com amor e a ver<strong>da</strong>de com coragem.<br />

Democracia, que é a identificação <strong>do</strong> nosso destino na sua expressão<br />

pluralista, onde o confronto <strong>da</strong>s forças sociais e políticas, alicerça<strong>da</strong>s<br />

na independência, reafirman<strong>do</strong> a liber<strong>da</strong>de, na fun<strong>da</strong> preocupação<br />

pela justiça, vai despertan<strong>do</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>des que, ganhan<strong>do</strong> o presente,<br />

realizam o futuro. Futuro que tem si<strong>do</strong> e é um desafio assumi<strong>do</strong><br />

à nossa vontade política, à nossa capaci<strong>da</strong>de de imaginação, ao<br />

nosso senti<strong>do</strong> de organização, para definirmos programas e<br />

realizarmos reformas que correspon<strong>da</strong>m aos avanços deseja<strong>do</strong>s pelo<br />

nosso povo na conquista <strong>do</strong> espaço a que tem direito.<br />

E não nos faltará coragem para os executar.<br />

Muitos são os problemas que respeitam a esse desafio. Muitos e<br />

complexos, mas cuja solução constitui um imperativo, que não<br />

pode nem deve ser iludi<strong>do</strong>. É que no seu centro está o homem na<br />

plenitude <strong>da</strong> sua digni<strong>da</strong>de, já que ele «é o fun<strong>da</strong>mento, a causa<br />

e a finali<strong>da</strong>de de to<strong>da</strong>s as instituições sociais».

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!