conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
É o regime <strong>da</strong> descentralização mas também o <strong>da</strong> coesão<br />
nacional. É o regime <strong>da</strong> justiça em que a justiça deve funcionar<br />
com prontidão e eficácia. É o regime <strong>da</strong> lei e não o <strong>do</strong> arbítrio ou<br />
<strong>do</strong> abuso. Não há autori<strong>da</strong>de democrática sem lei, nem lei sem<br />
autori<strong>da</strong>de democrática.<br />
É imperioso, face às transformações tão profun<strong>da</strong>s ocorri<strong>da</strong>s nos<br />
últimos anos, que o Esta<strong>do</strong> esteja apto a desempenhar as novas<br />
funções a que é chama<strong>do</strong>, mas, sobretu<strong>do</strong>, que conceba e organize<br />
de forma nova e mais eficaz as suas funções de sempre.<br />
Seria injusto não reconhecer o trabalho de modernização que,<br />
em muitos sectores de Administração, se tem vin<strong>do</strong> a fazer, nas<br />
últimas duas déca<strong>da</strong>s, com dedicação e competência. Mas não<br />
seria lúci<strong>do</strong> ficarmos por esse reconhecimento. Importa também<br />
dizer que é preciso fazer mais, melhor e, sobretu<strong>do</strong>, com maior<br />
rapidez.<br />
Enten<strong>da</strong>-se — é bom lembrá-lo — que a lógica primeira <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> é a defesa <strong>do</strong> interesse geral e <strong>do</strong> bem comum e não a <strong>da</strong><br />
satisfação de corporativismos ou a <strong>da</strong> cedência a grupos de<br />
pressão particulares, que contradigam essa lógica geral.<br />
Aplausos <strong>do</strong> PS, <strong>do</strong> PSD e <strong>do</strong> CDS-PP.<br />
Sr. Presidente, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: Estamos a comemorar os 20 anos<br />
<strong>da</strong>s primeiras eleições autárquicas que instauraram o poder local<br />
democrático. Trata-se de uma grande conquista <strong>do</strong> 25 de Abril, que<br />
mu<strong>do</strong>u Portugal para melhor. Ao assinalar a <strong>da</strong>ta, quero, desta tribuna,<br />
prestar homenagem aos autarcas de to<strong>do</strong>s os parti<strong>do</strong>s e de<br />
to<strong>do</strong>s os concelhos e freguesias <strong>do</strong> País.<br />
Aplausos gerais.<br />
O trabalho realiza<strong>do</strong> ao serviço <strong>da</strong>s populações honra o nosso<br />
regime democrático. As próximas eleições constituirão, estou<br />
certo, uma reafirmação <strong>da</strong> vitali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> nosso poder local e <strong>da</strong><br />
sua capaci<strong>da</strong>de de renovação.<br />
Neste final de século e com a experiência que acumulámos nas<br />
últimas déca<strong>da</strong>s, país aberto e plural que partilha com os seus<br />
parceiros europeus problemas e expectativas comuns, a democracia<br />
portuguesa encontrará, com o contributo de to<strong>do</strong>s, os caminhos<br />
<strong>da</strong> modernização e <strong>do</strong> seu aperfeiçoamento.<br />
Sr. Presidente, Srs. Deputa<strong>do</strong>s, minhas Senhoras e meus<br />
Senhores: Reencontra<strong>da</strong> a liber<strong>da</strong>de em 25 de Abril de 1974,<br />
fecha<strong>do</strong> o ciclo <strong>do</strong> Império, institucionaliza<strong>da</strong> a democracia, a<br />
integração de Portugal na Europa representou a grande opção de<br />
fun<strong>do</strong> e a decisão de maiores consequências para o nosso futuro<br />
colectivo. Sabemos, hoje, que foi feita na hora certa.<br />
Estamos na Europa não apenas porque somos europeus, pela<br />
geografia, pela história e pela cultura. Estamos na Europa porque<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1997<br />
Jorge Sampaio<br />
Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />
477<br />
temos uma ideia de Europa, um projecto europeu pelo qual nos<br />
batemos e ao qual estamos associa<strong>do</strong>s.<br />
O momento actual é determinante para o futuro desse projecto.<br />
Nos próximos meses, decidir-se-ão as questões essenciais que<br />
condicionarão o processo de unificação <strong>da</strong> Europa e que têm a<br />
ver com a moe<strong>da</strong> única, a revisão <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> <strong>da</strong> União Europeia,<br />
os critérios de alargamento <strong>da</strong> União. Num tempo seguinte, terão<br />
de ser concebi<strong>da</strong>s e defini<strong>da</strong>s as Perspectivas Financeiras pós<br />
1999, as reformas <strong>da</strong>s políticas comuns e a redefinição <strong>da</strong>s estruturas<br />
institucionais no âmbito <strong>da</strong> Defesa e <strong>da</strong> Segurança europeias.<br />
Nenhum destes objectivos é politicamente dissociável <strong>do</strong>s<br />
restantes e, em conjunto, representam um autêntico programa de<br />
refun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Europa comunitária.<br />
Os membros actuais <strong>da</strong> União Europeia subscreveram um contrato<br />
que traduziu uma certa concepção e foi fruto de determina<strong>da</strong>s<br />
circunstâncias, as quais, entretanto, se têm vin<strong>do</strong> a alterar. Não<br />
conhecemos, ain<strong>da</strong>, qual será com to<strong>da</strong> a exactidão a Europa <strong>do</strong><br />
futuro, mesmo <strong>do</strong> futuro mais próximo. Sabemos, to<strong>da</strong>via, que ela<br />
será muito diferente <strong>do</strong> que tem si<strong>do</strong> até agora.<br />
À construção dessa Europa, Portugal tem o direito e o dever de<br />
prestar o seu contributo próprio e até original. Temos, neste<br />
momento, uma oportuni<strong>da</strong>de, talvez irrepetível, de ocupar uma<br />
posição no núcleo central dessa construção e desse projecto.<br />
Não podemos malbaratar essa oportuni<strong>da</strong>de. Ela é decisiva para<br />
superar atrasos acumula<strong>do</strong>s, durante déca<strong>da</strong>s, e para vencer dura<strong>do</strong>uramente<br />
alguns riscos de isolamento e de marginalização, que a<br />
nossa posição no extremo ocidental <strong>do</strong> continente poderia criar.<br />
O nosso principal desafio é, pois, o desafio europeu e muitos <strong>do</strong>s<br />
outros que temos estão liga<strong>do</strong>s a ele. Em conjunto com os nossos<br />
parceiros, temos de saber estar à altura <strong>da</strong> nova situação decorrente<br />
<strong>do</strong> fim <strong>da</strong> guerra fria e que permite unificar as democracias<br />
europeias num espaço de prosperi<strong>da</strong>de e de paz. Sem concessões<br />
quanto aos nossos interesses vitais, estamos empenha<strong>do</strong>s nessa<br />
tarefa comum de consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s novas democracias, de garantir a<br />
segurança regional, de contribuir para a paz no mun<strong>do</strong>.<br />
Essa Europa, qualquer que seja o modelo em que vier a configurar-se,<br />
não poderá construir-se contra uma parte dela. O projecto europeu<br />
terá de ser, mais <strong>do</strong> que tem si<strong>do</strong>, um grande projecto político, social e<br />
cultural, fun<strong>da</strong><strong>do</strong> em valores e em princípios, com um dinamismo e<br />
uma ousadia capazes de mobilizar os ci<strong>da</strong>dãos europeus. Para isso, terá<br />
de assentar na soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e na coesão entre os seus membros.<br />
Os temas de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de na Europa e em ca<strong>da</strong> país que a constitui<br />
estão indissoluvelmente liga<strong>do</strong>s e são as grandes questões que<br />
temos de enfrentar e que se vêm arrastan<strong>do</strong> há demasia<strong>do</strong> tempo.<br />
Só a resposta <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e a luta contra as várias formas de<br />
exclusão são meios eficazes de combater o dualismo social que<br />
ameaça as nossas socie<strong>da</strong>des e que, a prazo, poria em causa o<br />
nosso próprio desenvolvimento.