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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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O Sr. Presidente : — Tem a palavra S. Ex.ª o<br />

Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>.<br />

O Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong> Mário<br />

Soares: — Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr.<br />

Primeiro-Ministro, Srs. Membros <strong>do</strong> Governo, Srs. Deputa<strong>do</strong>s,<br />

Srs. Embaixa<strong>do</strong>res, Srs. Convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s: Doze anos depois <strong>do</strong> movimento<br />

patriótico que restituiu a liber<strong>da</strong>de aos Portugueses, tornan<strong>do</strong>-os<br />

ci<strong>da</strong>dãos na plenitude <strong>do</strong>s seus direitos, comemorar o 25 de<br />

Abril não pode nem deve ser uma rotina. Pelo contrário: deve ser<br />

um acto cria<strong>do</strong>r de reafirmação e confiança <strong>do</strong>s Portugueses no<br />

futuro de Portugal e nas virtuali<strong>da</strong>des <strong>do</strong> regime de democracia<br />

pluralista que temos vin<strong>do</strong> colectivamente a construir, desde<br />

1974, em paz e liber<strong>da</strong>de, superan<strong>do</strong> dificul<strong>da</strong>des imensas e<br />

inevitáveis contradições.<br />

Creio que nenhum outro quadro é mais adequa<strong>do</strong> a essa celebração<br />

<strong>do</strong> que a <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, sede <strong>da</strong> representação<br />

nacional e centro vital <strong>da</strong> nossa democracia, que — como uma vez<br />

já disse e hoje repito — to<strong>do</strong>s os democratas têm o dever<br />

irrecusável de prestigiar. A circunstância de o fazermos aqui, em<br />

comunhão de to<strong>do</strong>s os Órgãos de Soberania, cuja legitimi<strong>da</strong>de<br />

deriva directa ou indirectamente <strong>do</strong> sufrágio universal, na<br />

presença <strong>do</strong>s grandes corpos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e sob a égide de V. Ex.ª,<br />

Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, figura moral e política<br />

de indiscutível digni<strong>da</strong>de e isenção — que respeitosamente saú<strong>do</strong>,<br />

sau<strong>da</strong>n<strong>do</strong> em V. Ex.ª to<strong>do</strong>s os Srs. Deputa<strong>do</strong>s —, confere a este<br />

acto um valor simbólico de inegável significa<strong>do</strong> nacional. Acto<br />

que não deve ser polémico, independentemente <strong>do</strong> desejável<br />

pluralismo <strong>da</strong>s interpretações e <strong>da</strong>s motivações, mas antes de<br />

convivência cívica e de ver<strong>da</strong>deira concórdia nacional, sem discriminações,<br />

e ten<strong>do</strong> por único fun<strong>da</strong>mento o respeito mais<br />

absoluto pela vontade popular livremente expressa pelos<br />

Portugueses.<br />

Temos to<strong>do</strong>s a consciência de que foi apenas em 25 de Abril que,<br />

para Portugal, começou o futuro — um futuro que queremos de<br />

liber<strong>da</strong>de, de afirmação nacional, de respeito pelos outros e pelo<br />

seu direito à diferença, de prosperi<strong>da</strong>de e de paz. Não é de mais,<br />

por isso, que saudemos de novo os que o tornaram possível: os<br />

militares de Abril e to<strong>do</strong>s aqueles que ao longo <strong>do</strong>s anos, e foram<br />

tantos, in<strong>do</strong>mavelmente, se bateram pela liber<strong>da</strong>de e pelo direito<br />

ao respeito <strong>da</strong> sua própria digni<strong>da</strong>de de ci<strong>da</strong>dãos.<br />

Aplausos gerais.<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1986<br />

Mário Soares<br />

Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />

293<br />

Em <strong>do</strong>ze anos de regime democrático demos passos de gigante,<br />

mudámos as coisas, a terra e, sobretu<strong>do</strong>, as mentali<strong>da</strong>des, com<br />

acertos e desacertos inevitáveis, ultrapassan<strong>do</strong> traumatismos e<br />

crises diversas, de origem própria e alheia, mas importa reconhecer<br />

que o povo português, em to<strong>da</strong>s as circunstâncias, teve sempre<br />

a sabe<strong>do</strong>ria, nas suas escolhas, de salvaguar<strong>da</strong>r o essencial.<br />

Vivemos hoje numa socie<strong>da</strong>de aberta, responsável, pacífica, de<br />

incontestável vitali<strong>da</strong>de democrática, onde as instituições funcionam<br />

com normali<strong>da</strong>de, e está assegura<strong>da</strong> a participação plena<br />

<strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos e <strong>da</strong>s associações mais diversas em que livremente<br />

se agrupam, nos planos político, económico, social e cultural;<br />

socie<strong>da</strong>de que hoje se insere e tem por referência o quadro mais<br />

amplo <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de Europeia, em que começamos agora a<br />

integrar-nos, sem per<strong>da</strong> <strong>da</strong> nossa identi<strong>da</strong>de nacional.<br />

À nossa frente abre-se-nos, assim, um futuro de esperança.<br />

Ninguém tem, pois, razão para ser pessimista ou descrente quanto à<br />

comuni<strong>da</strong>de nacional. Um futuro de progresso e de bem-estar<br />

está ao nosso alcance e depende fun<strong>da</strong>mentalmente de ca<strong>da</strong> um<br />

de nós, porque a to<strong>do</strong>s estão abertas iguais possibili<strong>da</strong>des de intervenção<br />

na socie<strong>da</strong>de e no Esta<strong>do</strong>. Nesse aspecto, não aceitamos<br />

exclusões nem discriminações ou desculpas, sejam de que<br />

natureza forem. Temos o dever nacional de não deixar perder a<br />

oportuni<strong>da</strong>de que se nos oferece.<br />

Os Portugueses estão naturalmente orgulhosos <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de que<br />

usufruem — e <strong>da</strong>quilo que ela lhes promete no <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong><br />

criativi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> participação —, mas sabem que lhes falta ain<strong>da</strong><br />

construir uma socie<strong>da</strong>de, <strong>do</strong>nde seja erradica<strong>da</strong> a pobreza, a<br />

ignorância, a intolerância e que nos recupere de um atraso secular,<br />

em segurança e no respeito pelos direitos de to<strong>do</strong>s.<br />

Nunca como agora foram tão grandes as expectativas legítimas<br />

nem as possibili<strong>da</strong>des, a prazo razoável, de <strong>da</strong>r expressão concreta<br />

aos anseios <strong>do</strong>s Portugueses. Consoli<strong>da</strong><strong>do</strong> o regime democrático,<br />

membros de pleno direito <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de Europeia, venci<strong>do</strong>s os<br />

desequilíbrios financeiros externos, que tanto e tão longamente<br />

nos afectaram, necessitamos tão-só de sermos capazes de desenvolver<br />

um quadro de estabili<strong>da</strong>de política e institucional que<br />

estimule a concretização de iniciativas, priva<strong>da</strong>s, públicas e<br />

cooperativas, integra<strong>do</strong>ras de uma estratégia nacional de desenvolvimento,<br />

em termos tanto quanto possível consensuais.<br />

As condições dessa estabili<strong>da</strong>de pressupõem relações de diálogo<br />

permanente, confia<strong>do</strong> e sereno, a to<strong>do</strong>s os níveis, mas, em especial,<br />

e no respeito pelas competências de ca<strong>da</strong> um e pelo princípio <strong>da</strong><br />

separação <strong>do</strong>s poderes, entre o Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, que é o<br />

garante <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de nacional e <strong>do</strong> regular funcionamento <strong>da</strong>s<br />

instituições, a <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, expressão <strong>da</strong> vontade<br />

política <strong>do</strong>s Portugueses na plurali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s suas opções e garantia<br />

<strong>da</strong> alternância democrática, e, finalmente, o Governo, órgão de<br />

condução <strong>da</strong> política geral <strong>do</strong> País e órgão superior <strong>da</strong>

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