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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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à expressão <strong>do</strong>s interesses e <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s Portugueses.<br />

Não o conseguiremos, ou não o conseguiremos rápi<strong>da</strong> e eficazmente,<br />

se não soubermos promover e defender o realismo nas<br />

medi<strong>da</strong>s políticas, a sua adequação às reali<strong>da</strong>des humanas e sociais<br />

<strong>do</strong> nosso país, aos estímulos e motivações <strong>do</strong> nosso povo.<br />

Também para isso, será necessário informar os Portugueses com<br />

ver<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de, condição essencial para que se forme uma<br />

opinião pública motiva<strong>da</strong> e que correspon<strong>da</strong> à convicção, certamente<br />

adquiri<strong>da</strong> por to<strong>do</strong>s, de que as distorções <strong>da</strong> informação<br />

estão condena<strong>da</strong>s, mais tarde ou mais ce<strong>do</strong>, ao fracasso.<br />

Procurar, em to<strong>da</strong>s as circunstâncias, os consensos políticos no<br />

que for essencial é uma exigência <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de democrática<br />

em pluralismo inteiramente assumi<strong>do</strong>. Mas esses consensos, para<br />

terem vali<strong>da</strong>de e coerência, não podem esquecer a exigência<br />

democrática inerente ao respeito consciente <strong>da</strong>s legitimi<strong>da</strong>des,<br />

primeira de to<strong>da</strong>s as reali<strong>da</strong>des políticas e regra indiscutível <strong>da</strong>s<br />

imposições <strong>do</strong> sufrágio. Garantir a flexibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s órgãos <strong>do</strong><br />

poder, reforça<strong>da</strong> no rigor <strong>da</strong>s políticas propostas, e justifica<strong>da</strong> no<br />

conhecimento <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong>des nacionais, regionais e autonómicas<br />

é uma condição indiscutível para a existência <strong>do</strong> diálogo que dê<br />

consistência e segurança à estabili<strong>da</strong>de social, ao desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> descentralização, ao aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s autonomias regionais.<br />

Tu<strong>do</strong> será no entanto frágil e se manterá ameaça<strong>do</strong> se não soubermos<br />

estimular uma produção cultural, viva e actuante, com<br />

manifestação em to<strong>da</strong>s as dimensões <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> colectiva.<br />

Promover a cultura é, sobretu<strong>do</strong>, trabalhar para a modernização<br />

e para o desenvolvimento, é ain<strong>da</strong> preparar os Portugueses para<br />

as mu<strong>da</strong>nças e transformações que a crise <strong>do</strong> presente torna<br />

inevitáveis. E, em igual plano de exigência, se tem de colocar a<br />

afirmação <strong>da</strong> independência nacional que impõe, para defesa <strong>do</strong>s<br />

nossos interesses, a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> nossa determinação no projecto<br />

de integração europeia. Esta é uma condição de afirmação<br />

<strong>da</strong> nossa identi<strong>da</strong>de como povo, <strong>da</strong>s nossas relações históricas<br />

com povos de outros continentes e <strong>da</strong>s nossas vocações próprias<br />

na rede <strong>da</strong>s relações económicas internacionais.<br />

To<strong>da</strong>s estas metas se inter-relacionam, de múltiplos mo<strong>do</strong>s, na<br />

obra essencial que nesta Câmara os Srs. Deputa<strong>do</strong>s irão desenvolver<br />

a propósito <strong>da</strong> revisão Constitucional. To<strong>do</strong>s os<br />

Portugueses esperam que, como noutros momentos de grande<br />

significa<strong>do</strong> político, o realismo prevaleça e a Constituição revista<br />

possa ser, como sempre deve ser, o mais forte traço de união entre<br />

os democratas entre os Portugueses. Sr. Presidente, Srs.<br />

Deputa<strong>do</strong>s: As dificul<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s problemas que defrontamos e <strong>do</strong>s<br />

objectivos que nos propomos são reais. Mas essas dificul<strong>da</strong>des<br />

existem mais em nós próprios <strong>do</strong> que nos acontecimentos, nas<br />

condicionantes materiais ou nas evoluções desfavoráveis que nos<br />

vêm <strong>do</strong> exterior. Já demonstrámos que temos capaci<strong>da</strong>de de criação<br />

e de trabalho para recuperar de uma grave crise económica,<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1981<br />

Ramalho Eanes<br />

Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />

173<br />

com sacrifício, mas também com eficácia e real apoio social. Já<br />

demonstrámos que sabemos resistir às ameaças à democracia pluralista.<br />

Já demonstrámos que a ponderação, o realismo, a defesa<br />

<strong>do</strong> consenso, a afirmação <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, e <strong>da</strong> isenção são reais factores<br />

de união entre os Portugueses. Aos que persistem em não<br />

aceitar a ver<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s factos, a carência de visão e de coragem<br />

política <strong>do</strong>s responsáveis pelo poder autoritário e desejam o<br />

retorno ilusório ao que já não existe, respondemos com o que já<br />

realizámos, em conjunto, em liber<strong>da</strong>de, em democracia.<br />

Cometemos erros, sem dúvi<strong>da</strong>. Perdemos tempo também. Mas o<br />

que fizemos, bem e mal, foi realiza<strong>do</strong> em liber<strong>da</strong>de e em democracia,<br />

ou seja, pela nossa própria vontade, com as nossas mãos e<br />

as nossas capaci<strong>da</strong>des criativas. Na experiência acumula<strong>da</strong>,<br />

encontramos os fun<strong>da</strong>mentos comprova<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que é específico no<br />

nosso modelo político de democracia pluralista. Essa experiência,<br />

que integra os ensinamentos que outras democracias pluralistas<br />

aconselham, não esquece as indicações que a nossa história nos<br />

dá quanto às razões <strong>do</strong>s fracassos de outros modelos democráticos<br />

em que, no passa<strong>do</strong>, os Portugueses depositaram as suas<br />

esperanças. Concebi<strong>do</strong> em modelo diferente, o nosso regime<br />

democrático mostrou já ter uma vitali<strong>da</strong>de política na formação de<br />

alternativas; e demonstrou um entendimento <strong>do</strong> valor <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de<br />

que o tornam bem diferente <strong>do</strong> constitucionalismo<br />

monárquico <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong> e <strong>da</strong> I <strong>República</strong>. Comemoramos<br />

Abril, continuan<strong>do</strong>-o para realizar a sua esperança. Agora, num<br />

plano de maior responsabili<strong>da</strong>de e de maior exigência, mas sempre<br />

em conjunto, solidários no nosso compromisso com a liber<strong>da</strong>de e<br />

a democracia. Essa é a condição para que possamos honrar aqueles<br />

que nos legaram o seu exemplo de luta pela liber<strong>da</strong>de e de<br />

confiança total nos Portugueses. Com a próxima revisão constitucional<br />

<strong>da</strong>remos, enfim, senti<strong>do</strong> pleno à acção <strong>do</strong>s que, sen<strong>do</strong> militares,<br />

permitiram a democracia e contribuíram para a sua consoli<strong>da</strong>ção<br />

e, sen<strong>do</strong> patriotas e democratas, sabem retomar a sua<br />

missão, silenciosa mas firme, de salvaguar<strong>da</strong>r a nossa soberania.<br />

Vozes <strong>do</strong> PS: — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — Assim seremos capazes de responder, no plano <strong>da</strong>s<br />

orientações políticas, às exigências impostas pelas capaci<strong>da</strong>des <strong>do</strong><br />

nosso povo que, vezes sem conta, mostrou saber, como poucos,<br />

entender e praticar a democracia, aceitar os sacrifícios <strong>da</strong>s crises,<br />

re<strong>do</strong>brar de vontades nas tarefas <strong>da</strong> recuperação e <strong>do</strong> desenvolvimento.<br />

Assim faremos o futuro que justifica o presente e dignifica<br />

o passa<strong>do</strong>. Essa foi, e é, a esperança de Abril, que é necessário<br />

realizar.<br />

O Sr. Presidente: — Em nome de S. Ex.ª o Sr. Presidente <strong>da</strong><br />

<strong>República</strong>, declaro encerra<strong>da</strong> a sessão.

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