conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o representante<br />
<strong>do</strong> Centro Democrático Social,<br />
Sr. Deputa<strong>do</strong> Mário Gaioso.<br />
O Sr. Mário Gaioso (CDS): — Sr. Presidente<br />
<strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>,<br />
Srs. Deputa<strong>do</strong>s: Celebramos hoje mais um aniversário <strong>do</strong> 25 de<br />
Abril, que foi, acima de tu<strong>do</strong>, o reencontro de Portugal com a<br />
democracia.<br />
Comemorá-lo nesta <strong>Assembleia</strong>, perante os legítimos representantes<br />
<strong>do</strong> povo português, revela, só por si, que a Revolução de<br />
Abril triunfou, pois apenas em regimes democráticos existem<br />
parlamentos livres.<br />
A liber<strong>da</strong>de é direito fun<strong>da</strong>mental de to<strong>do</strong> o ser humano e<br />
condição básica <strong>da</strong> sua dignificação. Por isso valeu a pena conquistá-la,<br />
apesar <strong>do</strong> muito que muitos sofreram no decurso <strong>do</strong><br />
processo revolucionário.<br />
Há quem preten<strong>da</strong> avocar os méritos e os louros <strong>da</strong> Revolução de<br />
Abril. Mas a ver<strong>da</strong>de é que uns e outros cabem, por direito<br />
próprio e em exclusivo, às forças arma<strong>da</strong>s e ao povo português, de<br />
que ninguém deve nem pode apropriar-se, porque ambos constituem<br />
património inalienável de Portugal inteiro.<br />
Vozes <strong>do</strong> CDS: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Hoje, como, de resto, desde sempre, o 25 de Abril<br />
é celebra<strong>do</strong> por formas e razões diferentes — uns nele festejam e<br />
relevam, essencialmente, o 11 de Março; outros o comemoram<br />
nele <strong>da</strong>n<strong>do</strong> prevalência ao 25 de Novembro. Há também alguns<br />
que, por gostarem de festas, não faltam a nenhuma ...<br />
Risos <strong>do</strong> CDS, <strong>do</strong> PSD e <strong>do</strong> PPM.<br />
Este desentendimento acerca <strong>do</strong> 25 de Abril não é recente, antes<br />
existe desde os primórdios <strong>da</strong> Revolução.<br />
Com efeito, debaixo de uma aparente coincidência de propósitos<br />
e de ideias, entre os que planearam e executaram o 25 de Abril<br />
sempre houve contradições insanáveis.<br />
Uns pretendiam instituir no País uma democracia pluralista; outros<br />
visavam a implantação sub-reptícia de uma república popular.<br />
Aqueles pensavam deixar ao povo português a escolha <strong>do</strong> seu<br />
próprio destino; estes propunham-se impor-lhe uma nova e mais<br />
opressiva servidão.<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1981<br />
Mário Gaioso<br />
CDS<br />
155<br />
Uma voz <strong>do</strong> PS: — Não apoia<strong>do</strong>!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Os primeiros só se preocupavam com Portugal e com<br />
os Portugueses; os segun<strong>do</strong>s sobrepunham a tu<strong>do</strong> a sua ideologia.<br />
Vozes <strong>do</strong> PS: — Não apoia<strong>do</strong>!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Enfim, uns eram democratas, outros falavam de<br />
democracia ...<br />
Vozes <strong>do</strong> CDS: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Com estas divergências de base, era inevitável o que<br />
veio a acontecer.<br />
Pouco tempo após o 25 de Abril tomou a liderança <strong>do</strong> processo<br />
revolucionário o grupo progressista, subtilmente manipula<strong>do</strong> pelo<br />
único parti<strong>do</strong> na altura estrutura<strong>do</strong>.<br />
Entrou-se então numa 2ª fase <strong>do</strong> processo, enxerta<strong>da</strong> no 25 de<br />
Abril, mas sem ter na<strong>da</strong> que ver com ele.<br />
Identifica-se esta outra revolução com o 11 de Março, caracteriza-a<br />
um caminhar apressa<strong>do</strong> e tumultuoso em direcção a um<br />
totalitarismo e desenvolve-se através de violências e atropelos de<br />
to<strong>da</strong> a ordem.<br />
Foi o perío<strong>do</strong> em que na<strong>da</strong> se respeitava, nem os próprios parti<strong>do</strong>s<br />
democráticos, e em que tu<strong>do</strong> se procurava destruir, inclusive<br />
a história pátria.<br />
Vozes <strong>do</strong> CDS: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Foi o perío<strong>do</strong> <strong>da</strong> descolonização na<strong>da</strong> exemplar, <strong>da</strong><br />
demolição sistemática de to<strong>do</strong>s os suportes <strong>da</strong> nossa economia, <strong>do</strong><br />
caos social e <strong>da</strong> desagregação <strong>da</strong> instituição militar.<br />
Foi o perío<strong>do</strong> em que se destruíram sedes de parti<strong>do</strong>s, se vilipendiaram<br />
dirigentes e se perseguiram militantes. E tu<strong>do</strong> isso<br />
somente porque os parti<strong>do</strong>s, e nomea<strong>da</strong>mente o CDS, tiveram<br />
coragem e, saben<strong>do</strong>-se com a força <strong>da</strong> razão, nunca se vergaram<br />
à razão <strong>da</strong> força.<br />
Vozes <strong>do</strong> CDS: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Estivemos a um passo de uma nova ditadura e à<br />
beira de uma guerra civil, porque, entretanto, o povo português e<br />
os parti<strong>do</strong>s democráticos reagiram corajosa e firmemente contra<br />
a on<strong>da</strong> de progressismo irresponsável que assolou o País.<br />
Evitaram esse confronto as forças arma<strong>da</strong>s, com a sua intervenção<br />
em 25 de Novembro. Porque e para que intervieram disse-o o<br />
Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong> aqui e na sessão de 1980. Por oportuno,<br />
recor<strong>do</strong> citan<strong>do</strong>-o: