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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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O Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>República</strong> Victor Crespo:<br />

— Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr.<br />

Primeiro-Ministro, Srs. Deputa<strong>do</strong>s, Sr. Presidente <strong>do</strong> Supremo<br />

Tribunal de Justiça, Excelências, minhas Senhoras e meus<br />

Senhores: Comemoramos hoje o 14.º aniversário <strong>do</strong> 25 de Abril.<br />

Foi há um instante na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> País, mas não numa perspectiva<br />

humana. Entraram já na vi<strong>da</strong> activa, mesmo na política, portugueses<br />

que não tiveram um conhecimento real desse momento<br />

alto <strong>da</strong> nossa história contemporânea. E, por maioria de razão, de<br />

tu<strong>do</strong> quanto lhe esteve na origem.<br />

Estamos já em condições para celebrar esta <strong>da</strong>ta com uma visão<br />

racionaliza<strong>da</strong>. E de a transmitir, educativamente, às novas gerações.<br />

Abril franqueou to<strong>da</strong>s as portas a um regime democrático.<br />

Resolveu o problema colonial. Permitiu que, em liber<strong>da</strong>de,<br />

escolhêssemos e definíssemos um projecto nacional de desenvolvimento<br />

e modernização, que irá ditar o que seremos, a nossa<br />

posição no Mun<strong>do</strong>, no terceiro milénio, que se aproxima.<br />

Podemos afirmar que estão decidi<strong>do</strong>s os grandes objectivos de tal<br />

projecto-esperança. Somos um país integra<strong>do</strong> na Europa comunitária<br />

e aposta<strong>do</strong>s ao seu sistema de valores. Estamos determina<strong>do</strong>s<br />

a atingir rapi<strong>da</strong>mente os níveis de desenvolvimento <strong>do</strong>s países<br />

mais prósperos. Estamos em condições de galgar etapas de modernização,<br />

no respeito, e para cumprimento, <strong>da</strong> vontade <strong>do</strong>s<br />

Portugueses. Fizemos uma revolução política no quadro <strong>da</strong><br />

evolução <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des democráticas modernas.<br />

É reconfortante verificar que assim foi, que nos juntámos à<br />

tendência <strong>do</strong>minante de caminhar para a democratização.<br />

É que se sente, por to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>, uma vitalização <strong>do</strong> pensamento<br />

político em torno <strong>do</strong>s princípios <strong>do</strong> pluralismo e <strong>da</strong>s concepções<br />

democráticas.<br />

Mas teria si<strong>do</strong> vantajoso que tivéssemos prepara<strong>do</strong> uma nova<br />

atitude cultural, feita sem ofensa <strong>da</strong>s nossas características endógenas,<br />

garante <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de nacional e <strong>do</strong> nosso património<br />

comum.<br />

Essa evolução cultural está em curso, lentamente, é certo, mas<br />

importa que continue e que aprofunde os caminhos já percorri<strong>do</strong>s,<br />

que são de esperança.<br />

Os Portugueses têm demostra<strong>do</strong>, pela sua riqueza intrínseca, pela<br />

sua grande capaci<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptação, inteligência e génio inventivo,<br />

que são capazes de adquirir a preparação adequa<strong>da</strong> para<br />

enfrentar quaisquer desafios <strong>do</strong> futuro.<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1988<br />

Victor Crespo<br />

Presidente <strong>da</strong> Asembleia <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />

339<br />

Assim, soubemos a<strong>da</strong>ptar-nos ao início <strong>da</strong> integração nas<br />

Comuni<strong>da</strong>des e absorver, de forma imperceptível, os aspectos<br />

negativos <strong>do</strong> «choque <strong>da</strong> integração».<br />

Esta quali<strong>da</strong>de precisa de estar presente na programação <strong>da</strong><br />

política global de desenvolvimento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de portuguesa, que<br />

passa pelos aspectos económicas, mas também, e necessariamente,<br />

pelas suas vertentes sociais e de comportamento.<br />

Não surpreende que, neste contexto, me debruce, por um<br />

momento, pelo ângulo <strong>da</strong> «cultura» política, particularmente<br />

numa época em que o seu campo se vai alargan<strong>do</strong>, passan<strong>do</strong> a<br />

esfera económica mais tradicional, extravasan<strong>do</strong> para outros terrenos<br />

<strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de humana, mesmo aqueles que, no passa<strong>do</strong>,<br />

estavam confina<strong>do</strong>s ao foro priva<strong>do</strong>.<br />

Excelências, nenhuma dúvi<strong>da</strong> subsiste quanto ao enraizamento<br />

profun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s ideais democráticos na socie<strong>da</strong>de portuguesa.<br />

Mas, há que reconhecer — embora o fenómeno não seja apenas<br />

nosso — que, nos seus reflexos culturais, o exercício <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de<br />

política carece de ser dignifica<strong>do</strong> e aumenta<strong>da</strong> a sua responsabili<strong>da</strong>de<br />

perante o to<strong>do</strong> nacional.<br />

É que um contexto político que o País não compreendesse em<br />

to<strong>da</strong> a sua extensão, ou que a ele não aderisse com entusiasmo,<br />

seria motivo de preocupação.<br />

Os sistemas, para se arraigarem, têm de ser objecto de um entendimento<br />

racional. Assim também nos sistemas políticos representativos.<br />

Uma dispersão no funcionamento <strong>da</strong>s instituições democráticas<br />

que dissipasse energias em questões marginais conduziria a uma<br />

anemia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, não consentin<strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s os esforços<br />

convergissem, com determinação e empenho, para as tarefas de<br />

realização <strong>do</strong> bem comum. Permitiria ain<strong>da</strong> que fossem suscita<strong>da</strong>s,<br />

de quan<strong>do</strong> em vez, questões de legitimi<strong>da</strong>de fora <strong>da</strong>s<br />

conforma<strong>da</strong>s com a reali<strong>da</strong>de democrática.<br />

Uma fragilização e desmoralização <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de política<br />

enfraquece o empenhamento de ca<strong>da</strong> um na procura de melhores<br />

soluções para o desenvolvimento. É por tu<strong>do</strong> isto que vejo com<br />

preocupação algumas formas de encarar a activi<strong>da</strong>de política que<br />

vão no senti<strong>do</strong> de a não prestigiar.<br />

Aparecem, aqui e além, críticas, aproveitamentos ou remoques<br />

menos legítimos e razoáveis. É-me penoso, confesso, muitas vezes,<br />

ter de calar uma expressão de desagra<strong>do</strong>, insurgir-me, perante tais<br />

comportamentos quan<strong>do</strong> consciente de que, pelos condicionamentos<br />

culturais existentes, tal atitude teria consequências perversas,<br />

levan<strong>do</strong> a efeitos precisamente contrários aos que pretenderia.<br />

Importa ir fazen<strong>do</strong> a pe<strong>da</strong>gogia mais adequa<strong>da</strong> com vista a um<br />

entendimento e à procura <strong>da</strong>s soluções políticas mais consentâneas e<br />

correctas. Pe<strong>da</strong>gogia que esta Casa pode e tem o dever de fomentar.<br />

Os parlamentos têm entre as suas funções mais destaca<strong>da</strong>s a pe<strong>da</strong>gogia<br />

e a difusão clara <strong>do</strong>s pontos de vista <strong>da</strong>s diferentes correntes<br />

de pensamento, que importa fazer passar, de forma correcta, à

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