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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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Sei até que ponto isto cheira a utopia. E não desconheço que o<br />

pensamento utópico chega até nós macula<strong>do</strong> de insucesso. Mas<br />

nunca a utopia de um Mun<strong>do</strong> Novo e de um Homem-Outro foi<br />

tenta<strong>da</strong> sob o acicate <strong>da</strong> ameaça de alternativas catastróficas.<br />

Entre a retoma <strong>do</strong> sonho e a psico-dependência <strong>do</strong> optimismo e<br />

<strong>da</strong> ambigui<strong>da</strong>de, recusemos os custos desta dependência.<br />

Recusemos o prêt a penser. Rebelemo-nos contra os titãs <strong>da</strong> informação<br />

global que nos impingem formas acríticas de pensar o<br />

mun<strong>do</strong>.<br />

Pôr tu<strong>do</strong> em causa. Repensar tu<strong>do</strong> como se nunca o tivéssemos<br />

feito. E sobretu<strong>do</strong> recusar os narcóticos informativos e discursivos<br />

que preenchem o nosso quotidiano, como se os ver<strong>da</strong>deiros problemas<br />

<strong>do</strong> País e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> fossem a crise <strong>do</strong>s árbitros, o montante<br />

<strong>da</strong>s propinas, as tricas <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s ou a cor <strong>da</strong>s gravatas de um<br />

ilustre magistra<strong>do</strong>.<br />

Na<strong>da</strong> está, em definitivo, perdi<strong>do</strong>. To<strong>da</strong>s as grandes mutações<br />

civilizacionais se fizeram com <strong>do</strong>r. E nunca o homem dispôs de<br />

meios — técnicos e outros — tão aptos a revolucionar o statu quo.<br />

O homem já foi capaz de uma Renascença. Por que não de outra?<br />

Emerge uma socie<strong>da</strong>de civil ávi<strong>da</strong> de intervenção e de poder?<br />

Responsabilizemo-la, em vez de desconhecê-la e muito menos de<br />

amor<strong>da</strong>çá-la.<br />

Está visto que a competição, só por si, não é capaz de dirigir o<br />

planeta? Reinventemos um novo modelo económico que produza<br />

sem destruir e distribua sem marginalizar.<br />

Está aí, sob os nossos olhos, uma nova civilização global?<br />

Instituamos centros de decisão planetária para os problemas que<br />

deixaram de ter respostas nacionais.<br />

A soberania clássica a<strong>da</strong>pta-se mal à liberalização <strong>da</strong>s trocas, à<br />

abolição <strong>da</strong>s fronteiras, à internacionalização <strong>da</strong>s decisões,<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1997<br />

Almei<strong>da</strong> Santos<br />

Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />

474<br />

à mundialização <strong>do</strong>s fenómenos? Retiremos desse facto as consequências<br />

que comporta. Não temos, necessariamente, de viver<br />

com o passa<strong>do</strong> às costas!<br />

Novas formas de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia são exigência indeclinável <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

moderna? Construamo-las contra o racismo, os conflitos étnicos,<br />

a exclusão social, o fun<strong>da</strong>mentalismo religioso, o isolamento <strong>do</strong><br />

indivíduo, a degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> pessoa humana.<br />

O egoísmo alastra como nova peste? Enraizemos no ser humano<br />

um novo senti<strong>do</strong> de partilha de um património e um destino<br />

comuns, ultrapassan<strong>do</strong> a lógica <strong>da</strong> sobrevivência e <strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong>de.<br />

A liber<strong>da</strong>de não assegura, só por si, o mínimo de igual<strong>da</strong>de sem o<br />

qual a própria liber<strong>da</strong>de perde significa<strong>do</strong> e senti<strong>do</strong>?<br />

Reequilibremos esses <strong>do</strong>is valores por apelo a novas formas de<br />

regulação político-social, com o Esta<strong>do</strong> (não há outro remédio!)<br />

em posição de arbitragem.<br />

Os valores patriarcais entraram em decadência? Enraizemos no<br />

ser humano, desde a educação pré-escolar, os novos valores <strong>do</strong><br />

civismo, <strong>do</strong>s direitos e <strong>do</strong>s deveres universais.<br />

A democracia tecnicizou-se? Reconduzamo-la à sua matriz cívica<br />

e ética.<br />

Há leis a mais? Revoguem-se!<br />

Há autori<strong>da</strong>de a menos? Reforce-se!<br />

A informação anarquiza? Reconheçamos-lhe um estatuto de<br />

poder responsável.<br />

A esperança é possível. Mas é preciso fazer por ela. A celebração<br />

<strong>do</strong> dia <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de é um bom dia para balanço. Do que já fizemos.<br />

Do que deixámos de fazer. Do que é preciso que se faça.<br />

Viva o 25 de Abril! Viva a Liber<strong>da</strong>de! Viva Portugal!<br />

Aplausos gerais.

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