16.04.2013 Views

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mais tempo uma situação que já atingiu em alguns pontos limites<br />

ver<strong>da</strong>deiramente escan<strong>da</strong>losos de incapaci<strong>da</strong>de e desleixo.<br />

Piores que os ataques ao 25 de Abril feitos pelos seus adversários,<br />

que, aliás, a democracia tolera e não persegue, são a incúria <strong>do</strong>s<br />

seus responsáveis, a ligeireza <strong>do</strong>s seus hábitos parlamentares, a<br />

superficiali<strong>da</strong>de de alguns <strong>do</strong>s seus governantes ou o negocismo<br />

instala<strong>do</strong> na sua Administração.<br />

A democracia deve ser exigente com os seus agentes políticos, técnicos,<br />

militares e administrativos. Se a vi<strong>da</strong> política se transforma numa<br />

vertiginosa sucessão de intrigas ou numa activi<strong>da</strong>de meramente<br />

formal para deleite <strong>da</strong> casta que são os respectivos protagonistas,<br />

então o sistema democrático, corta<strong>do</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong>s aspirações populares,<br />

isola-se a si próprio, é incapaz de entender os problemas reais<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, definha e acaba por criar as condições adequa<strong>da</strong>s à aparição<br />

de soluções autoritárias ou carismáticas, sejam elas quais forem.<br />

A pujança e a vitali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> democracia reclamam que os seus<br />

dirigentes — no Governo ou na oposição — pautem a sua conduta<br />

por um escrupuloso senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> dever, pela noção <strong>do</strong> prima<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

bem comum, e não <strong>do</strong> interesse individual ou de grupo, por uma<br />

ética de serviço à comuni<strong>da</strong>de e por uma inflexibili<strong>da</strong>de constante<br />

na procura <strong>da</strong> justiça. A renovação <strong>do</strong>s hábitos e <strong>da</strong> mentali<strong>da</strong>de<br />

política nacional exige, naturalmente, a subordinação <strong>da</strong> política à<br />

moral, mas reclama também a colocação <strong>do</strong>s mais prepara<strong>do</strong>s nos<br />

lugares próprios, sem discriminações de qualquer espécie.<br />

A quali<strong>da</strong>de, a etici<strong>da</strong>de e o grau de formação política <strong>do</strong>s responsáveis<br />

são o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> ordem democrática, e não a impre<br />

paração, a improvisação, o proveito próprio, o compadrio ou a<br />

incoerência <strong>da</strong>s opiniões, <strong>da</strong>s ideias, <strong>do</strong>s programas, <strong>do</strong>s projectos,<br />

<strong>da</strong>s atitudes ou <strong>da</strong>s acções.<br />

O País, embora o devore, reclama, não tanto o ro<strong>do</strong>piar sensacionalista<br />

<strong>da</strong>s peripécias politiqueiras, mas uma política com<br />

objectivos de longo alcance, em que o momento presente seja valoriza<strong>do</strong><br />

na perspectiva de uma programação a prazo, com<br />

contornos defini<strong>do</strong>s, com metas claras, com um elã centra<strong>do</strong><br />

numa finali<strong>da</strong>de precisa. A fixação de um objectivo nacional para<br />

o sistema democrático e o seu enraizamento na consciência <strong>do</strong><br />

povo português são a tarefa prioritária <strong>do</strong>s democratas de to<strong>do</strong>s<br />

os quadrantes 8 anos volvi<strong>do</strong>s sobre o 25 de Abril de 1974.<br />

Ao espectáculo, por vezes penoso e confrange<strong>do</strong>r, <strong>do</strong>s protestos e<br />

contraprotestos, que se arrastam indefini<strong>da</strong>mente, o sistema<br />

político representativo tem que contrapor os resulta<strong>do</strong>s efectivos<br />

e materizáveis <strong>do</strong> debate livre, mas nunca <strong>da</strong> discussão estéril.<br />

A credibili<strong>da</strong>de geral <strong>da</strong>s instituições democráticas não se<br />

compadece com o dilaceramento <strong>do</strong>s seus titulares em polémicas<br />

face às quais a opinião pública não entende o nexo nem o alcance<br />

real e, sobretu<strong>do</strong>, não vislumbra a menor consequência útil.<br />

O espírito <strong>do</strong> 25 de Abril e a fideli<strong>da</strong>de aos seus ideais mais generosos<br />

e autênticos militam a favor de uma urgente renovação <strong>da</strong>s práticas<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1982<br />

Jaime Gama<br />

PS<br />

206<br />

políticas, sem a qual, de resto, se não corrigirá o desprestígio <strong>da</strong>s formações<br />

partidárias, a erosão <strong>do</strong>s titulares <strong>do</strong> poder político e a falta<br />

de confiança na arquitectura institucional <strong>do</strong> regime.<br />

Convicto de que a força <strong>da</strong> democracia é superior ao balanço<br />

negativo <strong>da</strong>s suas insuficiências e de que é por via <strong>do</strong> seu aprofun<strong>da</strong>mento,<br />

e não <strong>da</strong> sua negação, que se emen<strong>da</strong>m os seus defeitos,<br />

julgo ser de sublinhar neste dia e nesta sessão a importância de um<br />

consenso nacional em torno <strong>do</strong> regime e <strong>da</strong>s instituições democráticas<br />

e pluralistas. Ca<strong>da</strong> vez mais a democracia renova<strong>da</strong> tem que<br />

ser o quadro <strong>do</strong> nosso debate responsável, <strong>da</strong> afirmação <strong>da</strong>s alternativas<br />

váli<strong>da</strong>s e <strong>da</strong> resolução efectiva <strong>do</strong>s problemas portugueses.<br />

Assentemos de uma vez por to<strong>da</strong>s na irreversibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> sistema<br />

democrático, na necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> seu aperfeiçoamento progressivo<br />

na saí<strong>da</strong> dialoga<strong>da</strong>, negocial ou consensual para os conflitos, na<br />

escolha livre e electiva <strong>do</strong>s dirigentes, na participação consciente<br />

<strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos, no papel fiscaliza<strong>do</strong>r de uma opinião pública correctamente<br />

forma<strong>da</strong> e não distorci<strong>da</strong>, e veremos como a democracia<br />

é o regime mais adequa<strong>do</strong> para exprimir e consubstanciar a riqueza<br />

<strong>da</strong> nossa tradição humanista e profun<strong>da</strong>mente liberal e a experiência<br />

solidária e socializante <strong>do</strong> nosso comunitarismo e <strong>do</strong> nosso<br />

municipalismo, a vocação europeia e universalista de to<strong>da</strong> a nossa<br />

história de povo autónomo e independente ao longo de 8 séculos.<br />

Recusemos os traumatismos e os restauracionismos, não pactuemos<br />

com a esterili<strong>da</strong>de política, olhemo-nos tal como somos e cientes<br />

<strong>do</strong> que queremos ser.<br />

Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: O<br />

Portugal democrático <strong>do</strong> 25 de Abril não deve estar a sal<strong>do</strong> de<br />

qualquer abdicação, cepticismo ou comodismo, no plano interno,<br />

nem de qualquer hegemonia descaracteriza<strong>do</strong>ra, no plano externo.<br />

Saibamos responder com coerência e com vontade aos desafios que<br />

a nossa geração enfrenta, modernizemos a socie<strong>da</strong>de que nos foi<br />

lega<strong>da</strong> e Portugal será a grande nação que pode e deve ser, a democracia<br />

sóli<strong>da</strong> e adulta em que os Portugueses se querem reconhecer,<br />

o regime que não oprime nem estupidifica, mas antes liberta e<br />

responsabiliza, em suma, as instituições que, soli<strong>da</strong>riamente, por<br />

actos, e não por palavras, aju<strong>da</strong>m a construir um país diferente, uma<br />

socie<strong>da</strong>de mais próspera e mais justa, sem miséria, sem me<strong>do</strong>,<br />

sem vingança e sem ódio, um Portugal melhor para as mulheres<br />

e os homens de hoje e para os que vierem depois de nós.<br />

É por aquilo que fomos capazes de realizar, e não por aquilo que<br />

formos capazes de prometer ou de lastimar, que os nossos filhos<br />

e a nossa história avaliarão as nossas ideias e a nossa generosi<strong>da</strong>de<br />

e decidirão o juízo <strong>do</strong> futuro sobre as nossas acções. Demos<br />

então o nosso esforço nesta hora para que eles digam por nós que<br />

o 25 de Abril valeu a pena.<br />

Aplausos <strong>do</strong> PS (de pé), <strong>do</strong> PSD, <strong>do</strong> CDS, <strong>do</strong> PPM, <strong>da</strong> ASDI (de<br />

pé) e <strong>da</strong> UEDS (de pé).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!