conteúdo integral do livro - Assembleia da República
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O Sr. Presidente: — Por direito próprio,<br />
vai usar <strong>da</strong> palavra S. Ex.ª o Sr. Presidente<br />
<strong>da</strong> <strong>República</strong>.<br />
O Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong> Mário<br />
Soares: — Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr.<br />
Primeiro-Ministro, Srs. Presidentes <strong>do</strong> Supremo Tribunal de<br />
Justiça e <strong>do</strong> Tribunal Constitucional, Sr. Cardeal-Patriarca,<br />
Eminência, Srs. Membros <strong>do</strong> Governo, Srs. Deputa<strong>do</strong>s, Srs.<br />
Marechais de Abril, Srs. Capitães de Abril, Srs. Embaixa<strong>do</strong>res,<br />
Caro Michel Rocard, minhas Senhoras e meus Senhores: A celebração<br />
<strong>do</strong> 20.° Aniversário <strong>da</strong> Revolução <strong>do</strong> 25 de Abril, que<br />
restituiu a Portugal e aos portugueses a digni<strong>da</strong>de e restaurou o<br />
regime democrático pluralista deve ser realiza<strong>da</strong> com ver<strong>da</strong>deiro<br />
senti<strong>do</strong> de futuro e em íntima comunhão com a juventude já<br />
nasci<strong>da</strong> depois de 1974 — as gerações de Abril.<br />
Esta é, quanto a mim, a mais sóli<strong>da</strong> garantia de que as celebrações<br />
não terão um carácter passadista mas, pelo contrário, constituem<br />
a plena demonstração de que o espírito <strong>do</strong> 25 de Abril está vivo<br />
e a mensagem fun<strong>da</strong>mental de liber<strong>da</strong>de, de progresso e de moderni<strong>da</strong>de<br />
que encerra contém potenciali<strong>da</strong>des que nos permitem<br />
enfrentar positivamente as grandes incertezas deste nosso tempo<br />
tão complexo.<br />
Esta sessão que realizamos na <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong> — sede <strong>da</strong><br />
representação nacional e <strong>do</strong> pluralismo democrático, que<br />
respeitosamente saú<strong>do</strong> — significa um testemunho colectivo de<br />
fideli<strong>da</strong>de aos grandes e generosos ideais <strong>do</strong> 25 de Abril que<br />
importa saber renovar e aprofun<strong>da</strong>r de acor<strong>do</strong> com as transformações<br />
históricas, que temos vivi<strong>do</strong>, e com as legítimas e ca<strong>da</strong> vez<br />
mais exigentes aspirações <strong>do</strong> nosso povo.<br />
A quase unanimi<strong>da</strong>de que hoje se expressa em torno <strong>do</strong> 25 de<br />
Abril e <strong>do</strong>s princípios democráticos — e que esta sessão, indiscutivelmente,<br />
traduziu — constitui motivo de orgulho para os que<br />
viveram o nosso tão complexo processo de transição para a<br />
democracia e a mais eloquente condenação <strong>do</strong> regime autoritário,<br />
ditatorial, que governou Portugal durante quase cinquenta anos,<br />
a que a Revolução <strong>do</strong>s Cravos, com generosi<strong>da</strong>de, pôs fim.<br />
Olhan<strong>do</strong> para a frente, importa, acima de tu<strong>do</strong>, aproveitar o consenso<br />
nacional cria<strong>do</strong> em torno <strong>do</strong> 25 de Abril para mobilizar o<br />
País e, particularmente, a juventude, para os grandes combates<br />
que o futuro exigirá de to<strong>do</strong>s.<br />
A valorização <strong>da</strong> gente portuguesa continua a ser o primeiro e o<br />
mais decisivo desses combates. Devemos, por isso, apostar na<br />
educação, na ciência, na cultura, na formação profissional e não<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1994<br />
Mário Soares<br />
Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />
411<br />
apenas na retórica <strong>do</strong>s discursos ou <strong>da</strong>s pie<strong>do</strong>sas intenções:<br />
investin<strong>do</strong> a fun<strong>do</strong>, com meios substanciais, no ensino, na investigação<br />
e na formação <strong>do</strong> maior número de portugueses, saben<strong>do</strong><br />
que é o investimento mais produtivo e a ver<strong>da</strong>deira condição sem<br />
a qual to<strong>do</strong> o progresso é ilusório ou precário.<br />
Aplausos <strong>do</strong> PS e <strong>do</strong> Deputa<strong>do</strong> <strong>do</strong> PSD Fernan<strong>do</strong> Amaral.<br />
A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de para com os mais fracos, os mais desprotegi<strong>do</strong>s e<br />
os mais pobres, designa<strong>da</strong>mente as crianças, os i<strong>do</strong>sos, os <strong>do</strong>entes<br />
e os deficientes, tem de ser outro <strong>do</strong>s grandes desígnios nacionais.<br />
Não há desenvolvimento sustenta<strong>do</strong> com exclusão social, marginalização<br />
<strong>do</strong>s imigrantes, enormes bolsas de pobreza e acentua<strong>da</strong>s<br />
assimetrias regionais. Em Portugal — reconhecemo-lo com tristeza<br />
— continuam a existir situações gravíssimas que urge reparar e<br />
carências que nos envergonham e que, por isso, requerem uma<br />
intervenção urgente e decidi<strong>da</strong>.<br />
A defesa <strong>da</strong>s grandes causas e o aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> consciência<br />
cívica devem nortear a nossa acção colectiva. A paz, a defesa <strong>do</strong><br />
ambiente, a preservação <strong>do</strong> património natural e construí<strong>do</strong>, a<br />
luta pela quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> são imperativos <strong>do</strong> tempo que vivemos.<br />
A democracia tem de ser defendi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s perigos que a atrofiam — <strong>da</strong><br />
passivi<strong>da</strong>de, <strong>do</strong> conformismo, <strong>da</strong> indiferença. Precisamos de mais<br />
pluralismo, de maior participação <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos, de maior transparência<br />
na vi<strong>da</strong> pública, de <strong>da</strong>r voz à socie<strong>da</strong>de civil. Os problemas só<br />
podem resolver-se com democracia, maior co-responsabilização,<br />
maior informação e esclarecimento <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos, a to<strong>do</strong>s os níveis,<br />
<strong>do</strong> processo <strong>da</strong>s decisões políticas, económicas, sociais e culturais.<br />
O humanismo universalista que sempre caracterizou o génio português<br />
deve ser potencia<strong>do</strong> nas nossas relações com os outros<br />
povos e países, designa<strong>da</strong>mente com os nossos parceiros <strong>da</strong> União<br />
Europeia. A Comuni<strong>da</strong>de que estamos a caminho de construir com<br />
o Brasil e com os países africanos lusófonos deve ser fortaleci<strong>da</strong> por<br />
uma política activa de afirmação <strong>da</strong> língua portuguesa no mun<strong>do</strong><br />
e de intercâmbio cultural, na efectiva soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre os sete<br />
países que se exprimem no idioma de Camões, de Macha<strong>do</strong> de<br />
Assis, de Craveirinha, de Pepetela e de Baltazar Lopes.<br />
A Europa atravessa um perío<strong>do</strong> de perplexi<strong>da</strong>de e de hesitações. Só<br />
com uma vontade política esclareci<strong>da</strong> e com um projecto europeu<br />
claro é possível avançar no senti<strong>do</strong> de conferir uma voz activa no<br />
mun<strong>do</strong> ao velho continente europeu. Temos de ser capazes de <strong>da</strong>r<br />
um <strong>conteú<strong>do</strong></strong> efectivo, transforma<strong>do</strong>r e original à União Europeia<br />
que não pode ser apenas um espaço de livre comércio.<br />
Vozes <strong>do</strong> PS: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Os critérios imediatistas e tecnocráticos que até<br />
agora têm prevaleci<strong>do</strong>, os pequenos cálculos assentes nos egoísmos