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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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O Sr. Presidente: — Em representação <strong>do</strong><br />

MDP/CDE, tem a palavra o Sr. Deputa<strong>do</strong><br />

José Manuel Tengarrinha.<br />

O Sr. José Manuel Tengarrinha (MDP/<br />

/CDE): — Exmo Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Exmo Sr. Presidente<br />

<strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Exmo Sr. Primeiro-Ministro, Exmos<br />

Srs. Deputa<strong>do</strong>s, Exmos Srs. Membros <strong>do</strong> Governo, minhas<br />

Senhoras e meus Senhores: Seria uma atitude estranha, dificilmente<br />

compreensível à luz <strong>do</strong>s valores mais elementares <strong>da</strong><br />

democracia, que se pudesse pôr em causa o interesse e a vali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

comemoração <strong>do</strong> 25 de Abril por esta <strong>Assembleia</strong>. Antes, seria a<br />

manifestação de uma incomodi<strong>da</strong>de sur<strong>da</strong>, mole, de algodão em<br />

rama, que dificulta mas não impede, mais insinua<strong>da</strong> <strong>do</strong> que<br />

declara<strong>da</strong>. Mas logo depois poderia ser a opinião manifesta<strong>da</strong>, a<br />

vontade expressa, o desejo porventura até aí oculto e que desejaria<br />

fazer vencimento. A nosso ver, bastaria que alguma dúvi<strong>da</strong> se<br />

tivesse levanta<strong>do</strong>, expressa ou tácita, para que reforça<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> mais<br />

fosse a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> comemoração por esta <strong>Assembleia</strong>. E isto<br />

porque, antes de tu<strong>do</strong>, nunca poderemos deixar de ter presente<br />

estarem, hoje, aqui reuni<strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s que não foram nomea<strong>do</strong>s<br />

pelo Governo, mas têm a sua legitimi<strong>da</strong>de assegura<strong>da</strong> pelo<br />

eleitora<strong>do</strong>, um presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong> eleito por vontade <strong>do</strong>s<br />

Portugueses, um governo dependente desta <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>República</strong> emana<strong>da</strong> <strong>da</strong> vontade popular, os tribunais aqui representa<strong>do</strong>s,<br />

com competência para administrar a justiça em nome <strong>do</strong><br />

povo e apenas sujeitos à lei e não às vias administrativas <strong>do</strong> poder,<br />

bem como convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s e assistentes que não receiam represálias<br />

ou prisões por se encontrarem aqui a consagrar a liber<strong>da</strong>de —<br />

tu<strong>do</strong> isto possível hoje, aqui, porque há treze anos houve uma<br />

revolução que derrubou a mais velha ditadura <strong>da</strong> Europa.<br />

To<strong>do</strong> o povo português que lá fora comemora, hoje, em alegria, nas<br />

ruas e praças deste país, fá-lo com a memória viva <strong>do</strong> valor <strong>do</strong> seu<br />

contributo para o acto liberta<strong>do</strong>r e também <strong>do</strong> marco decisivo que<br />

ele foi, que ele é, para a nossa vi<strong>da</strong> colectiva. E, ao la<strong>do</strong>, esses<br />

homens que interpretaram a aspiração mais profun<strong>da</strong> <strong>do</strong> povo, <strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

a direcção justa ao seu braço arma<strong>do</strong> e firme. Agora e sempre,<br />

com o mesmo entusiasmo <strong>do</strong>s primeiros dias, a mesma juvenil e<br />

espontânea emoção, glória aos que estão aqui na primeira fila <strong>da</strong> nossa<br />

atenção e apreço — glória, agora e sempre, aos capitães de Abril.<br />

Aplausos <strong>do</strong> MDP/CDE, <strong>do</strong> PSD, <strong>do</strong> PS, <strong>do</strong> PRD e <strong>do</strong> PCP.<br />

Só inútil seria se esta fosse encara<strong>da</strong> como uma comemoração<br />

enroupa<strong>da</strong> em pompa e circunstância, empalha<strong>da</strong> num museu de<br />

recor<strong>da</strong>ções apenas curiosas.<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1987<br />

José Manuel Tengarrinha<br />

MDP/CDE<br />

299<br />

Só desajusta<strong>da</strong> poderia parecer se o 25 de Abril e os valores que<br />

contém, não apenas no <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> democracia formal, mas igualmente<br />

no seu <strong>conteú<strong>do</strong></strong> de justiça social, não se ajustassem aos<br />

rumos <strong>do</strong> presente.<br />

Só desajusta<strong>da</strong> seria se se tentasse esvaziar a democracia de três<br />

<strong>do</strong>s seus <strong>conteú<strong>do</strong></strong>s fun<strong>da</strong>mentais: capaci<strong>da</strong>de de representação<br />

organiza<strong>da</strong> e participa<strong>da</strong> de diferentes correntes de pensamento;<br />

capaci<strong>da</strong>de de conter dentro de si o motor <strong>da</strong> sua própria renovação,<br />

e capaci<strong>da</strong>de de enfrentar e resolver situações difíceis sem<br />

entrar em ruptura com as regras fun<strong>da</strong>mentais em que assenta.<br />

Em relação ao primeiro, diríamos que é contrária ao espírito essencial<br />

<strong>da</strong> democracia qualquer tentativa redutora <strong>da</strong>s expressões na<br />

socie<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de estas intervirem na sua dinâmica. É<br />

o respeito pela diversi<strong>da</strong>de e pela diferença um <strong>do</strong>s mais fortes<br />

esteios <strong>da</strong> autentici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> democracia. Um esquema redutor não é<br />

garante <strong>da</strong> estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s instituições e <strong>do</strong> regime. Pelo contrário,<br />

é factor de conflito e instabili<strong>da</strong>de, porque marginaliza, para além<br />

<strong>do</strong> quadro institucional regular, correntes de opinião e forças<br />

sociais que nele devem sempre caber.<br />

Capaci<strong>da</strong>de de se renovar, mas não como forma artificial de buscar<br />

remédios de circunstância, nem olhan<strong>do</strong> o exterior pelo óculo <strong>do</strong><br />

que nós desejaríamos que ele fosse. Sim, através <strong>da</strong> plena integração<br />

na reali<strong>da</strong>de viva, <strong>do</strong> mergulho nesse presente também<br />

sempre renova<strong>do</strong> — o que é, sabemos, quase sempre incómo<strong>do</strong>,<br />

tantas vezes mesmo <strong>do</strong>loroso.<br />

E, também, a capaci<strong>da</strong>de de enfrentar as situações que podem ser<br />

agu<strong>da</strong>s, mas não são de crise autêntica, a não ser quan<strong>do</strong>, para<br />

superá-las, se tenham de pôr em causa as regras e mecanismos que<br />

a própria democracia prevê. E não serão postas em causa, seguramente,<br />

se se respeitar por inteiro o relacionamento e hierarquia<br />

<strong>do</strong>s órgãos de soberania, a sua vontade, confian<strong>do</strong> nas soluções<br />

que, no âmbito normal <strong>da</strong>s suas atribuições, podem produzir.<br />

E igualmente não serão postas em causa, seguramente, se se<br />

respeitar a regra de ouro <strong>da</strong> democracia: a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre as<br />

instituições e os órgãos legitimamente constituí<strong>do</strong>s, sobretu<strong>do</strong><br />

entre aqueles que resultam directamente <strong>da</strong> expressão <strong>da</strong> vontade<br />

popular. Sem isto estaria a introduzir-se, seguramente, um elemento<br />

de insegurança institucional, de desgaste e esvaziamento<br />

<strong>da</strong>s instituições e a abrirem-se precedentes que poderiam ser, no<br />

futuro, factores graves de perturbação política e social.<br />

O Sr. Seiça Neves (MDP/CDE): — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — Não se deve defender, em democracia, que o sistema<br />

institucional seja fecha<strong>do</strong> ao exterior, à reali<strong>da</strong>de viva. Mas<br />

não temos dúvi<strong>da</strong>s de que são ilegítimas, contrárias à essência <strong>do</strong><br />

regime representativo, pressões de sectores restritos dessa reali<strong>da</strong>de<br />

— o que, ao invés de constituírem um factor de enriqueci-

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