16.04.2013 Views

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

mensagem de generosi<strong>da</strong>de e de justiça, um acto de revolta contra<br />

um regime iníquo, feito de privilégios, de opressão e arbítrio. Não<br />

nos pode, por isso, ser indiferente o contraste entre a generosi<strong>da</strong>de<br />

com que a Revolução tratou os seus próprios adversários, os<br />

seus inimigos jura<strong>do</strong>s, generosi<strong>da</strong>de que a engrandece, e a intolerância<br />

com que, ao longo <strong>do</strong>s anos foi banin<strong>do</strong> muitos <strong>da</strong>queles<br />

que com ela estiveram, por ela lutaram e nela acreditaram, intolerância<br />

que a avilta e trai.<br />

Se os cravos, substituin<strong>do</strong> as baionetas, ficaram como símbolos <strong>da</strong><br />

generosi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Revolução, não podemos aceitar que por detrás<br />

<strong>do</strong>s cravos se acoberte a intolerância que discrimina e pune, tantas<br />

vezes de forma arbitrária e injusta, os que por ela combateram,<br />

ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong>, porventura, se hajam afasta<strong>do</strong> <strong>do</strong> que foi, e é, o<br />

nosso entendimento de Abril. Aceitá-lo seria negar o seu senti<strong>do</strong><br />

mais autêntico.<br />

E é por isso que, sem cui<strong>da</strong>rmos de saber o que deles nos separou<br />

ou separa, sem cui<strong>da</strong>rmos de saber a quem agra<strong>da</strong>mos ou<br />

desagra<strong>da</strong>mos, a nossa voz se ergue uma vez mais, hoje e aqui,<br />

para exigir que se ponha termo às discriminações de que são<br />

vítimas tantos militares de Abril; para exigir que se respeite o que<br />

foi a vontade <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, que se respeita a<br />

amnistia por ela decreta<strong>da</strong>. Ignorar essa vontade não é, apenas,<br />

ofender frontalmente um Órgão de Soberania, expressão<br />

democrática <strong>da</strong> vontade popular, é trair o significa<strong>do</strong> mais profun<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> 25 de Abril.<br />

O que se reclama não é um acto de clemência; o que se exige é<br />

um acto de justiça. E se a Revolução de Abril foi clemente, ela<br />

tem de ser, acima de tu<strong>do</strong>, justa.<br />

Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>República</strong>, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: O ano de 1981 marcará uma etapa<br />

mais no processo de consoli<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> regime democrático.<br />

A transferência <strong>do</strong>s poderes <strong>do</strong> Conselho <strong>da</strong> Revolução para<br />

Órgãos de Soberania, directamente legitima<strong>do</strong>s pelo sufrágio<br />

popular, terá completa<strong>do</strong> a subordinação institucional <strong>da</strong>s forças<br />

arma<strong>da</strong>s ao poder civil.<br />

O Conselho <strong>da</strong> Revolução, alvo predilecto <strong>da</strong>s forças reaccionárias<br />

e conserva<strong>do</strong>ras, não por ser o conselho de uma revolução,<br />

mas por ser o conselho de uma revolução democrática,<br />

não por ser um conselho de militares, mas por ser um conselho<br />

onde guar<strong>da</strong>ram assento alguns militares de Abril, terá<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1981<br />

Lopes Car<strong>do</strong>so<br />

UEDS<br />

148<br />

cumpri<strong>do</strong> o man<strong>da</strong>to que os constituintes de 1976 lhe confiaram.<br />

Te-lo-á cumpri<strong>do</strong>, no essencial, de forma exemplar, deixan<strong>do</strong>-nos<br />

instituições democráticas que, sen<strong>do</strong> uma conquista colectiva, são<br />

também obra sua.<br />

Aos conselheiros <strong>da</strong> Revolução que foram homens <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

devemos duplamente a nossa liber<strong>da</strong>de.<br />

O Sr. António Vitorino (UEDS): — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — Pelo contributo que foi o seu no derrube <strong>do</strong> regime<br />

fascista, porque cumpriram a missão, que era a sua, de participarem<br />

na consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s instituições democráticas.<br />

Essa dupla dívi<strong>da</strong> é de to<strong>do</strong>s nós. Só não a reconhecem os que se<br />

não reconhecem na liber<strong>da</strong>de e na democracia, os que, quan<strong>do</strong><br />

muito, à liber<strong>da</strong>de e à democracia se vão acomo<strong>da</strong>n<strong>do</strong> e delas se<br />

vão servin<strong>do</strong> para as combaterem e negarem.<br />

Aos capitães de Abril — a to<strong>do</strong>s os capitães de Abril — e aos conselheiros<br />

<strong>da</strong> Revolução, militares de Abril, muito mais <strong>do</strong> que a<br />

nossa homenagem queria aqui deixar a afirmação <strong>da</strong> nossa soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

fraterna, que estou certo é também a de to<strong>do</strong>s os<br />

democratas portugueses.<br />

Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>República</strong>, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: O 25 de Abril trouxe-nos a liber<strong>da</strong>de e,<br />

com ela, a certeza de que o povo português tem a disponibili<strong>da</strong>de,<br />

a inteligência e a coragem necessárias para transformar, por si<br />

próprio, a socie<strong>da</strong>de em que vivemos, para construir, por si<br />

próprio, uma socie<strong>da</strong>de diferente, mais justa e mais livre.<br />

Assim saibamos nós ter também a inteligência, a imaginação, e a<br />

coragem de nos integrarmos no devir colectivo, sem estultas pretensões<br />

de o tutelarmos, em nome <strong>do</strong> saber, <strong>da</strong> cultura ou até <strong>do</strong><br />

sufrágio.<br />

O povo que nas ruas, há sete anos, transformou o golpe militar num<br />

movimento popular profun<strong>do</strong> é capaz, se lhe não balizarem o<br />

caminho de falsos preconceitos se o não amarrarem a interesses que<br />

não são os seus, esse povo é capaz de construir por si o seu futuro.<br />

Sejamos nós também capazes de estar à sua altura.<br />

Aplausos <strong>da</strong> UEDS, <strong>do</strong> PS, <strong>da</strong> ASDI, <strong>do</strong> MDP/CDE e, alguns Srs.<br />

Deputa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> PSD.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!