conteúdo integral do livro - Assembleia da República
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Sen<strong>do</strong> o 25 de Novembro a reafirmação de democracia pluralista<br />
nas palavras e nos actos, é também a recusa <strong>do</strong> militarismo<br />
e a resposta firme àqueles que, esqueci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que<br />
combatiam, se assemelhavam, no entanto <strong>da</strong> vitória, aos seus<br />
adversários, na vontade totalitária <strong>da</strong> opressão e destruição.<br />
Estas palavras correspondem ao ver<strong>da</strong>deiro espírito <strong>do</strong> 25 de<br />
Abril e confirmam os desvios que nele houve, os excessos que se<br />
cometeram e a existência <strong>do</strong>s grupos anteriormente referi<strong>do</strong>s.<br />
Com o 25 de Novembro, regressa o 25 de Abril à sua pureza originária.<br />
Com o 25 de Novembro, completa-se e esgota-se a Revolução de<br />
Abril, com a clara vitória <strong>da</strong>s forças democráticas, que sempre a<br />
apoiaram, e a derrota <strong>da</strong>s forças não democráticas, que nela se<br />
introduziram e só a prejudicaram.<br />
Por tu<strong>do</strong> isto, compreende-se que a esquer<strong>da</strong> não democrática<br />
festeje realmente no 25 de Abril o 11 de Março. E compreende-se<br />
que <strong>da</strong> primeira <strong>da</strong>quelas <strong>da</strong>tas se preten<strong>da</strong> apropriar para, e com<br />
o seu característico «folclore», dela apagar e nela fazer esquecer a<br />
sua própria derrota.<br />
Quanto ao CDS, no 25 de Abril vê a dupla libertação de Portugal:<br />
à parti<strong>da</strong>, de um velho regime ditatorial; depois, com o 25 de<br />
Novembro, de uma nova ditadura de sinal contrário. Neste<br />
entendimento, hoje e sempre o CDS festejará o 25 de Abril.<br />
Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong>, Srs.<br />
Deputa<strong>do</strong>s: A Revolução de Abril triunfou, já o dissemos e com<br />
isso nos congratulamos.<br />
Mas a proposta apresenta<strong>da</strong> ao povo português está ain<strong>da</strong>, em<br />
larga medi<strong>da</strong>, por concretizar.<br />
É certo que, no aspecto político, as instituições democráticas estão<br />
a funcionar normalmente, que no sector económico, nomea<strong>da</strong>mente<br />
em 1980, se fizeram progressos, conseguin<strong>do</strong>-se, pela<br />
primeira vez desde o 25 de Abril, reduzir a inflação a valores<br />
aceitáveis e aumentar o efectivo poder de compra <strong>do</strong>s<br />
Portugueses, que no <strong>do</strong>mínio social se alcançaram também algumas<br />
melhorias, em especial no âmbito <strong>da</strong> segurança social e <strong>da</strong> defesa <strong>da</strong><br />
família.<br />
É ver<strong>da</strong>de que hoje e no nosso país, os ci<strong>da</strong>dãos têm garanti<strong>da</strong> a<br />
sua participação activa na vi<strong>da</strong> comunitária – já dispõem de voz<br />
e são ouvi<strong>do</strong>s, já existem mecanismos legais que os protegem contra<br />
quaisquer arbitrarie<strong>da</strong>des, já se exercitam direitos ain<strong>da</strong> há<br />
pouco ignora<strong>do</strong>s ou proibi<strong>do</strong>s.<br />
Tu<strong>do</strong> isto, se é positivo, até pelas dificul<strong>da</strong>des enfrenta<strong>da</strong>s, continua<br />
a ser insuficiente.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, há forças políticas aposta<strong>da</strong>s na desestabilização,<br />
que não olham a meios para atingirem os seus fins. A elas convirá<br />
recor<strong>da</strong>r as palavras que aqui proferiu o Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />
na sessão de l977. Cito:<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1981<br />
Mário Gaioso<br />
CDS<br />
156<br />
Não se pode ser democrata nesta <strong>Assembleia</strong> e fomentar lá<br />
fora a agitação e o desrespeito <strong>da</strong>s leis.<br />
Vozes <strong>do</strong> CDS — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Assim, há que prosseguir e acelerar a concretização<br />
<strong>da</strong>s promessas de Abril, re<strong>do</strong>bran<strong>do</strong> esforços e corrigin<strong>do</strong> erros.<br />
O 25 de Abril, muito mais <strong>do</strong> que passa<strong>do</strong> ou presente, é e tem de<br />
ser o futuro.<br />
Aproximamo-nos de um novo século, e nele se pensa num<br />
Portugal renova<strong>do</strong>, em que o bem estar <strong>do</strong>s Portugueses seja, não<br />
privilégio de alguns, mas direito ao alcance de to<strong>do</strong>s.<br />
Para tanto é importante e prioritário defender a liber<strong>da</strong>de e a<br />
democracia, promover o desenvolvimento geral <strong>do</strong> País e realizar<br />
uma maior justiça social.<br />
Almei<strong>da</strong> Garrett escreveu um dia, e cito:<br />
Em <strong>do</strong>is grandes escolhos se perde a liber<strong>da</strong>de: na tibieza<br />
com que se defende ou na demasia que dela se goza – evitemos<br />
um e outro.<br />
A experiência vivi<strong>da</strong> recentemente evidência a justeza destas<br />
palavras e a necessi<strong>da</strong>de de um equilíbrio que nem sempre existiu.<br />
Se to<strong>do</strong> o homem é livre e pode ter as ideias que quiser, a<br />
socie<strong>da</strong>de possui, mais <strong>do</strong> que o direito, a obrigação de defender<br />
os valores em que acredita e de respeitar a vontade <strong>da</strong> maioria<br />
<strong>do</strong>s elementos que a integram.<br />
Defender a democracia implica não pactuar com sau<strong>do</strong>sismos,<br />
sejam eles <strong>do</strong> 24 de Abril ou <strong>do</strong> 11 de Março, mas exige também<br />
que se criem condições para que ca<strong>da</strong> um e to<strong>do</strong>s desejem sinceramente<br />
ultrapassar o nosso último meio século de história e<br />
queiram esquecer agravos, serenar paixões e curar as feri<strong>da</strong>s que<br />
dele persistem.<br />
Defender a democracia obriga ain<strong>da</strong> a <strong>da</strong>r o passo que falta para<br />
que a gozemos na sua plenitude — rever a Constituição, transforman<strong>do</strong>-a<br />
de pomo de discórdia, em traço de união, entre to<strong>do</strong>s os<br />
democratas portugueses.<br />
Vozes <strong>do</strong> CDS: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Esperamos que os democratas desta <strong>Assembleia</strong>,<br />
com a noção <strong>da</strong>s suas responsabili<strong>da</strong>des e a abertura de espírito<br />
que se lhes reconhece, consigam o consenso indispensável à<br />
democratização plena <strong>do</strong> regime.<br />
Outro objectivo a prosseguir será o desenvolvimento económico,<br />
que passa pela definição <strong>do</strong> modelo a a<strong>do</strong>ptar e pela modernização<br />
<strong>do</strong> aparelho produtivo, sem o qual não alcançaremos rapi<strong>da</strong>mente<br />
a tão necessária melhoria <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> povo português.