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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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É ain<strong>da</strong> na sua clara assunção popular que se justificam os resulta<strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong> eleição de Abril de 1975, demonstran<strong>do</strong> que esse projecto<br />

correspondia ao consenso <strong>do</strong>s Portugueses.<br />

Os condicionalismos <strong>do</strong> nosso acesso ao regime democrático<br />

estabelecem que a democracia não é somente uma regra de legitimação<br />

<strong>da</strong>s instituições representativas, mas ain<strong>da</strong> um modelo<br />

em que se institucionalizam equilíbrios e conflitos entre forças e<br />

interesses distintos e autónomos.<br />

A transição <strong>do</strong> autoritarismo para um regime de democracia pluralista<br />

ficou, em suma, a dever-se ao empenho de uma geração<br />

que para o seu projecto encontrou indiscutível apoio popular.<br />

Tratan<strong>do</strong>-se de um projecto-propósito teve mesmo assim capaci<strong>da</strong>de<br />

para iniciar e gerir um difícil e complexo processo de descolonização.<br />

É certo que não dispôs de força suficiente para que a política de<br />

descolonização se realizasse com a normali<strong>da</strong>de indispensável à<br />

satisfação razoável e equilibra<strong>da</strong> <strong>do</strong>s interesses nacionais.<br />

Nem por outro la<strong>do</strong>, conseguiu assegurar a consecução de um<br />

quadro de uni<strong>da</strong>de nacional e de desenvolvimento continua<strong>do</strong> que<br />

propiciasse a estabili<strong>da</strong>de económica e política nos novos esta<strong>do</strong>s.<br />

Não se pode, contu<strong>do</strong>, esquecer que a descolonização, tardiamente<br />

realiza<strong>da</strong>, teve lugar num contexto internacional negativo,<br />

manifesta<strong>do</strong>, aliás, na escala<strong>da</strong> e internacionalização <strong>do</strong>s conflitos<br />

<strong>da</strong> descolonização com uma intensi<strong>da</strong>de imprevista, o que mais<br />

paralisou a capaci<strong>da</strong>de de acção de Portugal, limitan<strong>do</strong> o pleno<br />

exercício <strong>da</strong> sua função na transmissão <strong>da</strong>s novas soberanias.<br />

Apesar de to<strong>do</strong>s os erros e anomalias foi também possível minimizar<br />

sequelas e impedir que atitudes de impaciência, de resignação<br />

ou comportamentos irresponsáveis alterassem a vitali<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s permanentes que motivam e justificam a persistência<br />

de uma posição de abertura de Portugal perante os Esta<strong>do</strong>s<br />

africanos de expressão oficial portuguesa.<br />

E foi até possível alicerçar nesses mesmos <strong>da</strong><strong>do</strong>s a vontade de<br />

restituir às relações bilaterais um quadro de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e de<br />

desenvolvimento que exprime, no respeito pelas respectivas<br />

soberanias, o sentimento de responsabili<strong>da</strong>de que nos ficou de<br />

uma História comum.<br />

É certo que a dimensão principal <strong>da</strong> posição internacional de<br />

Portugal se modificou. Outro tanto se passou, naturalmente, com<br />

os novos Esta<strong>do</strong>s africanos.<br />

A inserção internacional de um e outros é ca<strong>da</strong> vez mais determina<strong>da</strong><br />

pelas dinâmicas <strong>do</strong>s espaços geo-estratégicos em que se integram.<br />

A compreensão <strong>da</strong>s novas reali<strong>da</strong>des não é, no entanto, uma razão<br />

para diminuir a priori<strong>da</strong>de atribuí<strong>da</strong> às relações bilaterais. Pelo<br />

contrário, esses condicionamentos representam um estímulo adicional<br />

para o seu desenvolvimento, em que os interesses<br />

nacionais respectivos se articulam com a especifici<strong>da</strong>de própria<br />

que resulta <strong>da</strong>s afini<strong>da</strong>des de língua e de cultura.<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1985<br />

Ramalho Eanes<br />

Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />

272<br />

Neste senti<strong>do</strong>, os pressupostos <strong>do</strong> projecto nacional, a procura de<br />

um modelo estável para as relações de Portugal com os novos<br />

esta<strong>do</strong>s africanos, alia<strong>do</strong>s à alteração <strong>da</strong> dimensão <strong>da</strong> política<br />

internacional portuguesa, expressa na sua orientação europeia,<br />

permitem recuperar a nossa vocação universalista e afirmar o<br />

nosso estatuto próprio entre as nações.<br />

A política de adesão às comuni<strong>da</strong>des europeias, que marcou sem<br />

interrupção o nosso percurso democrático desde 1976, tem igualmente<br />

as suas raízes profun<strong>da</strong>s na visão <strong>da</strong> geração que tinha<br />

como objectivos a modernização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de portuguesa, privilegia<strong>da</strong>mente<br />

através <strong>da</strong> descolonização e <strong>do</strong> desenvolvimento<br />

compensa<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s relações com os países industriais, constituin<strong>do</strong>,<br />

assim, uma alternativa para a posição externa de Portugal.<br />

É, pois, uma posição e uma atitude programática a que preside à<br />

representação <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> de adesão comunitária de Portugal, a<br />

partir <strong>do</strong> momento em que o seu estatuto como democracia se<br />

impôs perante o conjunto <strong>do</strong>s países membros.<br />

Não se trata, pois, nem de uma inevitabili<strong>da</strong>de histórica, nem de<br />

uma indispensabili<strong>da</strong>de de carácter económico.<br />

A própria consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> democracia não irá escorar-se nas<br />

comuni<strong>da</strong>des europeias, mas sim, com evidentes provas <strong>da</strong><strong>da</strong>s, na<br />

vontade e no trabalho <strong>do</strong>s Portugueses.<br />

Poder-se-á mesmo afirmar que é a solidez <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong><br />

democracia portuguesa que torna possível, como condição prévia,<br />

o nosso acesso às comuni<strong>da</strong>des europeias. Não é menos ver<strong>da</strong>de,<br />

porém, que a regra <strong>do</strong> jogo europeu implica que os regimes<br />

democráticos <strong>da</strong> Europa Ocidental procurem garantir a sua<br />

recíproca estabili<strong>da</strong>de. Erra<strong>do</strong> seria, portanto, reduzir esta regra a<br />

uma relação de senti<strong>do</strong> único.<br />

A política nacional de adesão às comuni<strong>da</strong>des europeias, como de<br />

resto os outros passos <strong>da</strong> política europeia de Portugal, exprimem<br />

o seu reconhecimento <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de estratégica de afirmar a<br />

identi<strong>da</strong>de política e de preservar a estabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s regimes<br />

democráticos e liberais europeus.<br />

A política portuguesa de adesão à Europa comunitária exclui,<br />

pois, uma posição de passivi<strong>da</strong>de, ten<strong>do</strong> em conta, nomea<strong>da</strong>mente,<br />

o esta<strong>do</strong> actual <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des europeias.<br />

O acesso de Portugal, tal como o <strong>da</strong> Espanha e <strong>da</strong> Grécia, representam,<br />

no seu conjunto, um estímulo positivo e importante na<br />

recuperação <strong>da</strong> dinâmica de um ver<strong>da</strong>deiro projecto europeu,<br />

que dificilmente emerge <strong>da</strong>s disputas menores que têm caracteriza<strong>do</strong><br />

nos últimos anos a decisão comunitária.<br />

Portugal, pela sua parte, deverá levar ao quadro comunitário a<br />

sua própria concepção sobre a evolução interna e externa <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de<br />

europeia.<br />

É indispensável que as comuni<strong>da</strong>des europeias voltem a ter, agora<br />

com a acresci<strong>da</strong> representativi<strong>da</strong>de que lhe conferem os três Esta<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Sul, a quali<strong>da</strong>de de porta<strong>do</strong>ras de um projecto claro, sem o que

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