16.04.2013 Views

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

parecer, as expectativas mais razoáveis de promoção social e de<br />

acesso à proprie<strong>da</strong>de, subjuga<strong>da</strong> por uma asfixiante e crescente<br />

carga fiscal que penaliza quem trabalha, quem poupa e quem<br />

investe.<br />

No plano económico e financeiro, como no plano social e moral,<br />

a crise aprofun<strong>da</strong>-se, aproximan<strong>do</strong>-nos <strong>do</strong> Terceiro Mun<strong>do</strong> precisamente<br />

quan<strong>do</strong> conquistamos o direito a integrar a Europa<br />

desenvolvi<strong>da</strong>.<br />

Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>República</strong>, Srs. Membros <strong>do</strong> Governo, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: Não é a<br />

revolução democrática de Abril que é culpa<strong>da</strong>. Mas o socialismo<br />

que dela se apropriou, e que a actual Constituição exprime ain<strong>da</strong><br />

nos seus princípios, nos condicionamentos concretos <strong>da</strong> iniciativa<br />

individual, na limitação efectiva de algumas liber<strong>da</strong>des fun<strong>da</strong>mentais,<br />

como a de informar e ser informa<strong>do</strong>, na inexistência de<br />

uma efectiva concorrência entre o sector público privilegia<strong>do</strong>,<br />

protegi<strong>do</strong> e subsidia<strong>do</strong> que aumenta a despesa e agrava o défice<br />

e o sector priva<strong>do</strong> que o tem de sustentar.<br />

De facto, o socialismo existe em Portugal, embora haja ca<strong>da</strong> vez<br />

mais socialistas que se esforçam por fazer crer aos Portugueses<br />

que na<strong>da</strong> têm a ver com isso.<br />

Dão uma triste imagem de si, além de que não falam ver<strong>da</strong>de.<br />

O socialismo existe na Constituição, nos programas <strong>do</strong> parti<strong>do</strong><br />

onde o marxismo continua a ser o ponto de referência e o socialismo<br />

a meta. Mas, mais importante e mais grave <strong>do</strong> que isso, o<br />

socialismo existe também na nossa reali<strong>da</strong>de.<br />

Continuamos a ter nacionaliza<strong>do</strong>s 98% <strong>do</strong> sistema bancário; as<br />

vinte maiores empresas portuguesas são públicas e grande parte<br />

<strong>da</strong>s terras a sul <strong>do</strong> Tejo continua na posse <strong>da</strong>s UCP e <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Vozes <strong>do</strong> CDS: — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — E to<strong>do</strong> este amplo sector público e a Administração<br />

Pública que o dirige coman<strong>da</strong>m a economia e distorcem o funcionamento<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, vivem à custa <strong>do</strong>s impostos, alimentam<br />

uma nova classe <strong>do</strong>minante, de burocratas, <strong>da</strong> qual, aliás, dependemos<br />

to<strong>do</strong>s ca<strong>da</strong> vez mais e cuja promoção, salvo raras<br />

excepções, se baseia, não no mérito individual, mas na fideli<strong>da</strong>de<br />

ao parti<strong>do</strong> ou aos seus chefes.<br />

O socialismo existe, e tropeçamos com ele diariamente, na carga<br />

ideológica <strong>do</strong> sistema fiscal, no monopólio estatal de televisão,<br />

teimosamente manti<strong>do</strong>, nos privilégios <strong>do</strong> ensino público face ao<br />

ensino priva<strong>do</strong>, no crescimento <strong>do</strong> Sistema Nacional de Saúde em<br />

detrimento <strong>do</strong>s sistemas convenciona<strong>do</strong>s, na falta de eficácia <strong>da</strong>s<br />

principais empresas presta<strong>do</strong>ras de serviços essenciais e na contínua<br />

criação de novas empresas e de novos serviços públicos.<br />

O socialismo mais retrógra<strong>do</strong> existe nas leis <strong>do</strong> trabalho, que não<br />

premeiam o mérito e a competência, mas incentivam a falta de<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1985<br />

Gomes de Pinho<br />

CDS<br />

258<br />

produtivi<strong>da</strong>de, que consideram a greve um direito absoluto, que<br />

conduzem ao escân<strong>da</strong>lo social <strong>do</strong>s salários em atraso, e consideram<br />

a empresa como campo privilegia<strong>do</strong> <strong>da</strong> luta de classes.<br />

O socialismo existe e exprime-se também como mentali<strong>da</strong>de,<br />

como convicção e como prática na confusão permanente entre<br />

parti<strong>do</strong> e Esta<strong>do</strong>, na falta de rigor <strong>da</strong> gestão <strong>do</strong>s negócios públicos,<br />

na subordinação <strong>do</strong> interesse nacional a estratégias ideológicas<br />

internacionais. Num mal reprimi<strong>do</strong> e primário senti<strong>do</strong> anti-religioso,<br />

numa indisfarçável tendência para o totalitarismo cultural<br />

de que são manifestações recentes o Código de Direitos de Autor,<br />

e a política discriminatória de subsídios.<br />

Mas o socialismo não apenas se tem manti<strong>do</strong>. Ele cresce e cresceu<br />

com este Governo, quan<strong>do</strong> a banca pública toma conta <strong>da</strong>s<br />

empresas priva<strong>da</strong>s, ca<strong>da</strong> vez mais endivi<strong>da</strong><strong>da</strong>s, por causa <strong>da</strong> crise, e<br />

alarga a sua influência; quan<strong>do</strong> há ca<strong>da</strong> vez menos empresários e<br />

ca<strong>da</strong> vez mais desemprega<strong>do</strong>s; quan<strong>do</strong> o ideal <strong>da</strong> promoção individual<br />

e <strong>do</strong> acesso a proprie<strong>da</strong>de se transforma em Portugal ca<strong>da</strong><br />

vez mais numa simples utopia; quan<strong>do</strong> não diminui o número de<br />

ricos mas aumenta assusta<strong>do</strong>ramente o número de pobres.<br />

Para tu<strong>do</strong> isto já não há álibis, como os <strong>da</strong> crise internacional ou<br />

os <strong>da</strong> interferência <strong>do</strong> poder militar — e ninguém negará mesmo<br />

que, <strong>do</strong>s governos mais recentes, este, <strong>do</strong> PS e <strong>do</strong> PSD, ten<strong>do</strong> a<br />

maior maioria parlamentar, é o que tem conta<strong>do</strong> com maior soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

presidencial.<br />

Risos <strong>do</strong> PS e <strong>do</strong> PSD.<br />

Este Governo, esta política e quem os personifica são hoje objecto<br />

de uma ampla rejeição nacional e não é, pois, crível que se possam<br />

suceder a si próprios, ain<strong>da</strong> que por interposta instituição.<br />

Mas então, Srs. Deputa<strong>do</strong>s, não há motivos de esperança?<br />

Eu diria que, para<strong>do</strong>xalmente, é quan<strong>do</strong> a crise é mais profun<strong>da</strong><br />

e quan<strong>do</strong> são compreensíveis por to<strong>do</strong>s nós as suas razões que se<br />

alarga a esperança. Hoje, para nós, a esperança é maior que<br />

ontem, e amanhã será seguramente maior que hoje. Esperança<br />

numa alternativa capaz de mobilizar to<strong>do</strong>s os que acreditam na<br />

liber<strong>da</strong>de, na soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e na justiça.<br />

To<strong>do</strong>s os que defendem sem necessi<strong>da</strong>des de esconder os programas<br />

e os princípios, o prima<strong>do</strong> <strong>da</strong> pessoa humana e os seus direitos<br />

fun<strong>da</strong>mentais e que acreditam que só a economia de merca<strong>do</strong><br />

possibilita o aproveitamento mais racional <strong>do</strong>s nossos recursos e o<br />

enriquecimento individual e colectivo. To<strong>do</strong>s os que assumem,<br />

sem vergonha, os valores fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> nossa identi<strong>da</strong>de<br />

nacional;<br />

To<strong>do</strong>s os que consideram que só o revigoramento <strong>da</strong>s nossas convicções<br />

morais nos poderá transportar de novo para o futuro;<br />

To<strong>do</strong>s os que estão dispostos a assumir o risco <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça, contra<br />

a estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> estagnação e <strong>do</strong> me<strong>do</strong>;

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!