conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o representante<br />
<strong>do</strong> PRD, Sr. Deputa<strong>do</strong> Marques<br />
Júnior.<br />
O Sr. Marques Júnior (PRD): — Sr. Presidente<br />
<strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>,<br />
Sr. Primeiro-Ministro, Sr. Presidente <strong>do</strong> Supremo Tribunal de Justiça,<br />
Srs. Membros <strong>do</strong> Governo, Srs. Deputa<strong>do</strong>s, Srs. Convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s,<br />
minhas Senhoras, meus Senhores: Doze anos depois, o 25 de<br />
Abril continua vivo — e bem vivo.<br />
A cerimónia que hoje nos reúne é disso prova expressiva:<br />
Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong> e deputa<strong>do</strong>s, representantes legítimos <strong>do</strong>s<br />
Portugueses, únicos Órgãos de Soberania que emanam directamente<br />
<strong>da</strong> vontade popular, estão to<strong>do</strong>s reuni<strong>do</strong>s para celebrar essa<br />
<strong>da</strong>ta liberta<strong>do</strong>ra.<br />
E para lá de divergências ideológicas, político-partidárias, julgo<br />
que to<strong>do</strong>s reconhecemos, embora nem to<strong>do</strong>s porventura com a<br />
mesma veemência ou convicção, que a Revolução de 1974 é<br />
um marco maior na história <strong>do</strong> nosso país, raiz e fun<strong>da</strong>mento<br />
<strong>do</strong> nosso regime democrático, que já ninguém ousa pôr em<br />
causa.<br />
Mas expressivo é também que por to<strong>do</strong> o País se multipliquem as<br />
manifestações de júbilo e as festas populares que demonstram<br />
exuberantemente que o 25 de Abril está profun<strong>da</strong>mente enraiza<strong>do</strong><br />
no coração <strong>do</strong> nosso povo.<br />
E é natural que assim seja. É natural que só aqueles que têm alma<br />
de tiranos, ou de escravos, sejam sau<strong>do</strong>sos de um regime ditatorial<br />
que durante 48 anos oprimiu e explorou os Portugueses. Nunca,<br />
aliás, será demais lembrá-lo. Sobretu<strong>do</strong>, porque os jovens que<br />
hoje têm vinte ou vinte cinco anos, aquan<strong>do</strong> <strong>do</strong> 25 de Abril tinham<br />
oito ou treze anos, e por isso, em geral, ignoram completamente<br />
o que foi o fascismo. E é indispensável que o saibam. Aliás, para<br />
se alcançar a importância e o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> 25 de Abril, para se<br />
compreender como tantos de nós o vivemos com paixão e com<br />
alegria, até às lágrimas, tem de se saber a situação que anteriormente<br />
se vivia.<br />
E essa situação era de tirania, de guerra colonial, de exploração,<br />
de polícia política, <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> único, <strong>da</strong> censura; essa situação era<br />
a de violação mais frontal de to<strong>do</strong>s os direitos <strong>do</strong> homem, <strong>da</strong>s<br />
perseguições, <strong>da</strong>s arbitrarie<strong>da</strong>des de to<strong>da</strong> a ordem, <strong>da</strong> tortura, até<br />
<strong>do</strong> assassínio; a situação era a de os Portugueses serem prisioneiros<br />
ou exila<strong>do</strong>s na sua própria pátria, priva<strong>do</strong>s de direitos,<br />
liber<strong>da</strong>des e garantias, «orgulhosamente sós», viven<strong>do</strong> sob o jugo<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1986<br />
Marques Júnior<br />
PRD<br />
285<br />
de um regime obsoleto, anacrónico e totalitário, condena<strong>do</strong> por<br />
to<strong>do</strong>s os países democráticos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
A 25 de Abril de 1974, o movimento <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s, culminan<strong>do</strong><br />
e coroan<strong>do</strong> a longa e difícil luta de to<strong>do</strong>s os resistentes e<br />
democratas portugueses, derrubou o regime ditatorial e ilegítimo e,<br />
de imediato, restituiu aos ci<strong>da</strong>dãos a liber<strong>da</strong>de e as liber<strong>da</strong>des. De<br />
imediato, abriram-se as portas <strong>da</strong>s prisões políticas, acabou a<br />
famigera<strong>da</strong> PIDE/DGS, extinguiram-se a censura e to<strong>da</strong>s as outras<br />
restrições à liber<strong>da</strong>de de expressão, reconheceu-se o direito <strong>do</strong>s<br />
povos irmãos <strong>da</strong>s colónias à autodeterminação e à independência,<br />
consagraram-se os direitos de associação, reunião, greve, formação<br />
de parti<strong>do</strong>s políticos, eliminaram-se leis e limitações injustificáveis e<br />
injustifica<strong>da</strong>s em vários <strong>do</strong>mínios <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, valorizou-se o<br />
trabalho, instituiu-se um salário mínimo nacional, voltaram os<br />
exila<strong>do</strong>s e os Portugueses reconquistaram a eminente digni<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> pessoa humana, a guerra deixou de ser o único horizonte para os<br />
jovens e para tantos homens deste país, os irmãos, as noivas, os filhos,<br />
os pais deixaram de ter de chorar os seus familiares distantes ou<br />
mortos, a paz e a liber<strong>da</strong>de, bens supremos, voltaram às nossas<br />
ci<strong>da</strong>des, aos nossos campos, às nossas casas.<br />
Houve, de certo, com o decorrer <strong>do</strong>s tempos, erros, excessos,<br />
desvios. Mas, no cômputo global, e analisa<strong>do</strong> a esta distância, tem<br />
de se concluir que, após uma ditadura tão longa e tão brutal,<br />
ain<strong>da</strong> que aparentemente ou externamente tempera<strong>da</strong> pela<br />
«brandura <strong>do</strong>s nossos costumes», nunca houve uma revolução tão<br />
bela, tão generosa e tão fraterna como a <strong>do</strong> 25 de Abril.<br />
Aplausos gerais.<br />
Que os cravos, e cravos nos canos <strong>da</strong>s espingar<strong>da</strong>s, se tivessem<br />
transforma<strong>do</strong>, aqui e em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, no símbolo <strong>da</strong> nossa revolução<br />
é, em si mesmo, extremamente significativo. E se a<br />
imagem <strong>do</strong>s cravos sofreu, como é natural, a degra<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> uso,<br />
se à força de ser utiliza<strong>da</strong> perdeu a força <strong>do</strong> que é novo, nem por<br />
isso o símbolo que eles representam diminui de intensi<strong>da</strong>de, de<br />
senti<strong>do</strong>, eu diria mesmo, de cor e de perfume, florin<strong>do</strong> sempre<br />
jovens em ca<strong>da</strong> mês de Abril.<br />
Por isso, o PRD deseja, antes de tu<strong>do</strong>, lembrar e sau<strong>da</strong>r to<strong>do</strong>s os<br />
«Capitães» <strong>do</strong> MFA, to<strong>do</strong>s os militares de Abril, desde os mais<br />
conheci<strong>do</strong>s que simbolizamos nos ex-Conselheiros <strong>da</strong> Revolução<br />
aqui presentes...<br />
Aplausos gerais.<br />
... aos mais anónimos, e qualquer que seja hoje a sua posição, com a<br />
certeza que a eles lhes devemos, em primeira linha, to<strong>da</strong> a liber<strong>da</strong>de<br />
e a digni<strong>da</strong>de reconquista<strong>da</strong> pela nossa Pátria e pelo nosso povo.<br />
E se, infelizmente, algumas vezes esses militares e o seu órgão