conteúdo integral do livro - Assembleia da República
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Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1989<br />
Carmen Pereira<br />
Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> Nacional Popular <strong>da</strong> Guiné-Bissau<br />
resolução <strong>do</strong>s conflitos regionais e, de um mo<strong>do</strong> geral, no clima<br />
político mundial, é a expressão clara <strong>da</strong> esperança que anima os<br />
Homens e Mulheres de to<strong>da</strong>s as latitudes e fun<strong>da</strong>menta a consciência<br />
e a firmeza <strong>do</strong>s esforços colectivos tendentes a definir um<br />
mun<strong>do</strong> melhor.<br />
O culminar em Dezembro último <strong>do</strong> processo negocial entre<br />
Angola, Cuba e a África <strong>do</strong> Sul, sob a mediação <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s <strong>da</strong> América, com a assinatura <strong>do</strong>s acor<strong>do</strong>s de Nova Iorque<br />
sobre o Su<strong>do</strong>este Africano foi, neste contexto, unanimemente aplaudi<strong>do</strong><br />
pela comuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s Nações como ilustração eloquente <strong>do</strong><br />
prevalecimento <strong>da</strong> razão e <strong>do</strong> diálogo sobre os radicalismos e as<br />
intransigências de outrora.<br />
Foi assim que a Humani<strong>da</strong>de também sau<strong>do</strong>u o desencadeamento,<br />
em 1 de Abril deste ano, <strong>do</strong> processo de implementação <strong>do</strong> plano<br />
<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a independência <strong>da</strong> Namíbia.<br />
Embora acontecimentos preocupantes tenham desde então<br />
ensombra<strong>do</strong> de certo mo<strong>do</strong> o cenário político <strong>da</strong>quela região, suscitan<strong>do</strong><br />
interrogações sobre as possibili<strong>da</strong>des reais de salvaguar<strong>da</strong><br />
<strong>do</strong>s frágeis equilíbrios consegui<strong>do</strong>s através <strong>do</strong>s vários compromissos<br />
que balizaram as negociações quadriparti<strong>da</strong>s ao longo <strong>do</strong> ano de<br />
1988, continuamos confiantes no êxito final <strong>da</strong>s justas reivindicações<br />
<strong>do</strong> povo namíbio à autodeterminação e independência.<br />
Na linha <strong>do</strong> papel que vem desempenhan<strong>do</strong>, estamos convictos<br />
que a ONU — eixo fun<strong>da</strong>mental em torno <strong>do</strong> qual se articula o<br />
plano sobre a Namíbia, aliás concebi<strong>do</strong> e a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> sob os seus<br />
auspícios — saberá velar, utilizan<strong>do</strong> para o efeito to<strong>do</strong>s os meios<br />
políticos e jurídicos ao seu alcance, pelo cumprimento <strong>integral</strong><br />
<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s que visam assegurar a transição pacífica <strong>da</strong>quele<br />
território para a independência.<br />
Não poderíamos deixar de salientar neste contexto a acção de<br />
primeira ordem desempenha<strong>da</strong> neste processo pela <strong>República</strong><br />
Popular de Angola e sau<strong>da</strong>r a sua coragem, lucidez e compreensão<br />
clara <strong>do</strong>s grandes desafios coloca<strong>do</strong>s à África Austral, ao continente<br />
africano e ao mun<strong>do</strong>.<br />
O empenho e a abnegação <strong>do</strong> povo angolano irmão não terão si<strong>do</strong><br />
vãos, porquanto permitem hoje vislumbrar novas e anima<strong>do</strong>ras<br />
perspectivas de paz naquela região.<br />
Gostaríamos também de manifestar a nossa firme soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />
ao povo irmão de Moçambique no seu esforço de Reconstrução<br />
Nacional e no seu combate aos actos de desestabilização e destruição<br />
leva<strong>do</strong>s a cabo pelos bandi<strong>do</strong>s arma<strong>do</strong>s apoia<strong>do</strong>s pelo<br />
regime racista de Pretória.<br />
350<br />
Estamos convictos de que a eliminação definitiva <strong>do</strong> apartheid a<br />
que, em última instância, cabe a responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> situação de<br />
guerra, tensão e instabili<strong>da</strong>de que reina no cone sul <strong>do</strong> continente<br />
africano será brevemente uma reali<strong>da</strong>de e que vencerão na África<br />
<strong>do</strong> Sul as forças <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, democracia e justiça social.<br />
Pairan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> sobre ele uma cortina de silêncio Timor Leste<br />
continua afasta<strong>do</strong> <strong>da</strong> corrente positiva de diálogo e concertação<br />
que levou, nos últimos anos, a progressos substanciais na via <strong>da</strong><br />
afirmação <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong>s povos a dispor livre e soberanamente<br />
<strong>do</strong> seu destino.<br />
Das vozes que se têm levanta<strong>do</strong> em condenação à violação <strong>do</strong>s direitos<br />
mais elementares <strong>do</strong> povo <strong>da</strong>quele território, figura a <strong>do</strong><br />
Portugal democrático empenha<strong>do</strong> a assumir a plenitude <strong>da</strong>s suas<br />
responsabili<strong>da</strong>des de potência administrante legal de Timor Leste.<br />
Os cinco países africanos de língua oficial portuguesa, reuni<strong>do</strong>s em<br />
Bissau na Cimeira de 1988, manifestaram o seu apreço pela firme<br />
posição de Portugal em relação a este território, encorajan<strong>do</strong>-o a<br />
prosseguir na busca de soluções que garantam a salvaguar<strong>da</strong> <strong>do</strong>s<br />
interesses legítimos e a integri<strong>da</strong>de <strong>do</strong> povo de Timor Leste.<br />
Sau<strong>da</strong>mos esta atitude de Portugal que honra e dignifica este país<br />
amigo e a que este aerópago — a <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong> — tem<br />
servi<strong>do</strong> de palco privilegia<strong>do</strong>.<br />
Srs. Deputa<strong>do</strong>s, por ocasião <strong>da</strong> cimeira de Bissau deixámos<br />
inequivocamente expressa a vontade <strong>do</strong>s nossos povos de Angola,<br />
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe<br />
em estreitar as relações com o povo português que aqui tão dignamente<br />
representais.<br />
Permitam-me que expresse o meu reconhecimento pelo mo<strong>do</strong><br />
como há bem pouco tempo vós, os representantes <strong>do</strong> povo amigo<br />
de Portugal, destes a vossa confirmação a um acor<strong>do</strong> assina<strong>do</strong><br />
entre os governos de Portugal, e <strong>do</strong> meu país, prova <strong>do</strong> apoio<br />
unânime de to<strong>da</strong>s as forças políticas em aprofun<strong>da</strong>r o relacionamento<br />
entre os nossos povos.<br />
Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, neste lugar, onde estão<br />
reuni<strong>do</strong>s os eleitos <strong>da</strong>s forças políticas que representam to<strong>do</strong> o povo<br />
português, queremos em nome <strong>do</strong> povo guineense, render uma profun<strong>da</strong><br />
homenagem ao povo português que compreenden<strong>do</strong> a<br />
evolução irreversível <strong>da</strong> História, decidiu percorrer com os nossos<br />
povos, um novo caminho de paz, liber<strong>da</strong>de e amizade.<br />
Que seja longa e firme a amizade entre os nossos povos.<br />
Aplausos gerais de pé.