conteúdo integral do livro - Assembleia da República
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nacionais, a falta de visão sobre o grande projecto europeu só nos<br />
têm diminuí<strong>do</strong>, em relação às expectativas cria<strong>da</strong>s, tanto aos nossos<br />
próprios olhos de europeus, como aos olhos <strong>do</strong> resto <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong>, que tanto espera <strong>da</strong> Europa.<br />
Aplausos <strong>do</strong> PS.<br />
Fiéis à ideia inicial <strong>do</strong>s pais fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res, devemos ser capazes de<br />
mobilizar os povos <strong>da</strong> União Europeia para as grandes tarefas <strong>da</strong> paz,<br />
<strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, <strong>do</strong> diálogo Norte/Sul, <strong>do</strong> desenvolvimento cultural<br />
e científico, e para a resolução <strong>do</strong>s problemas resultantes <strong>do</strong> desemprego,<br />
<strong>da</strong> crise <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> providência, <strong>da</strong> difusão e consumo <strong>da</strong><br />
droga, de epidemias, como a si<strong>da</strong>. Só com uma nova mentali<strong>da</strong>de é<br />
possível construir a Europa <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos, <strong>da</strong> cultura, <strong>da</strong> ciência, <strong>do</strong><br />
ambiente e <strong>da</strong> paz, prevenin<strong>do</strong> os perigos <strong>do</strong> racismo, <strong>do</strong>s nacionalismos<br />
agressivos, <strong>da</strong> intolerância e <strong>do</strong> regresso ao autoritarismo.<br />
Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong> e Srs. Deputa<strong>do</strong>s:<br />
Durante os vinte anos que nos separam <strong>do</strong> dia inolvidável <strong>do</strong><br />
nosso reencontro com a liber<strong>da</strong>de, o mun<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u tanto e tão<br />
vertiginosamente como se tivessem passa<strong>do</strong> muitas déca<strong>da</strong>s,<br />
senão séculos. Caíram impérios, ruíram concepções que tinha<br />
hegemoniza<strong>do</strong>, desde o princípio <strong>do</strong> século, a inteligência<br />
europeia, a crise económica arrasta-se sem resolução, o<br />
desemprego por to<strong>da</strong> a Europa aumenta, tornan<strong>do</strong>-se uma<br />
ameaça terrível à estabili<strong>da</strong>de de velhas nações, as agressões ao<br />
planeta e à espécie humana tornaram-se mais evidentes aos<br />
olhos de to<strong>do</strong>s.<br />
A ciência e a tecnologia avançaram espantosamente, operan<strong>do</strong><br />
prodígios que mu<strong>da</strong>ram os nossos quotidianos e a nossa relação<br />
com os outros. O mun<strong>do</strong> é um só. A informação é instantânea. As<br />
ciências <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> põem-nos problemas éticos jamais pressenti<strong>do</strong>s.<br />
O renascimento de um novo humanismo que aproveite as conquistas<br />
modernas a favor <strong>do</strong> homem — de to<strong>do</strong>s os homens — é a<br />
grande questão <strong>do</strong> nosso tempo.<br />
O 25 de Abril foi, em muitos senti<strong>do</strong>s, uma revolução pioneira.<br />
Esse facto tem si<strong>do</strong> reconheci<strong>do</strong> por historia<strong>do</strong>res e analistas<br />
internacionais de grande prestígio.<br />
Conseguimos instaurar uma democracia pluralista, vencer os radicalismos<br />
de sinal contrário, entrar na Comuni<strong>da</strong>de Europeia,<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1994<br />
Mário Soares<br />
Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />
412<br />
<strong>da</strong>r a Portugal uma voz respeita<strong>da</strong> no mun<strong>do</strong>. O que se fez nestas<br />
duas déca<strong>da</strong>s foi imenso. Recebemos um País amor<strong>da</strong>ça<strong>do</strong>,<br />
isola<strong>do</strong>, com uma guerra colonial em três frentes, que se perpectuava<br />
sem saí<strong>da</strong> nem glória, um País com um imenso atraso,<br />
a to<strong>do</strong>s os níveis, sem socie<strong>da</strong>de civil autónoma. Instituições<br />
como a censura e a odiosa polícia política fomentavam o me<strong>do</strong>,<br />
a subserviência e a denúncia. O pensamento era policia<strong>do</strong> e<br />
muitas vezes silencia<strong>do</strong>.<br />
Fomos capazes, não obstante os acidentes de percurso, de construir<br />
um Esta<strong>do</strong> de direito, de <strong>da</strong>r voz à socie<strong>da</strong>de e iniciativa aos<br />
ci<strong>da</strong>dãos, de modernizar, até certo ponto, as estruturas económicas<br />
e sociais, de consoli<strong>da</strong>r o poder local, de assegurar a autonomia<br />
aos arquipélagos <strong>do</strong>s Açores e <strong>da</strong> Madeira, de abrir a cultura<br />
e a ciência em diálogo com o que de mais avança<strong>do</strong> se faz no<br />
mun<strong>do</strong>, de criar uma nova consciência de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />
Aprendemos com os erros <strong>da</strong> I <strong>República</strong> e <strong>do</strong> liberalismo, não os<br />
repetin<strong>do</strong>. Herdeiros de uma tradição, que é porventura a mais<br />
genuína <strong>da</strong> nossa história, sabemos que Portugal progride sempre<br />
que retomamos essa inspiração de liber<strong>da</strong>de, de tolerância e a<br />
visão <strong>do</strong> humanismo universalista. Sempre que a negamos, tu<strong>do</strong><br />
an<strong>da</strong> para trás. Os grandes ideais liberta<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Revolução <strong>do</strong>s<br />
Cravos continuam váli<strong>do</strong>s, desafian<strong>do</strong> a nossa capaci<strong>da</strong>de de os<br />
realizar inteiramente ao serviço de to<strong>do</strong>s os portugueses.<br />
Nesta <strong>da</strong>ta de alegria e de júbilo, ponhamos de la<strong>do</strong>, por um<br />
momento, o que legitimamente nos divide, em termos político-<br />
-partidário, e lembremos esse dia em que o País acor<strong>do</strong>u de novo<br />
para a esperança e para a liber<strong>da</strong>de. É nosso dever ser dignos<br />
desse momento único que tivemos a felici<strong>da</strong>de de viver nas nossas<br />
vi<strong>da</strong>s. Honremos os Capitães de Abril.<br />
Saibamos ain<strong>da</strong> transmitir essa mensagem de liber<strong>da</strong>de cria<strong>do</strong>ra<br />
às gerações mais novas, com confiança em nós próprios, nos<br />
jovens, no seu inconformismo, idealismo e vontade de transformar<br />
o mun<strong>do</strong> e de mu<strong>da</strong>r a vi<strong>da</strong>.<br />
Aplausos gerais, de pé.<br />
O Sr. Presidente: — Srs. Deputa<strong>do</strong>s, declaro encerra<strong>da</strong> a<br />
sessão.