conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o representante<br />
<strong>do</strong> PCP, Sr. Deputa<strong>do</strong> Maia<br />
Nunes de Almei<strong>da</strong>.<br />
O Sr. Maia Nunes de Almei<strong>da</strong> (PCP): — Sr.<br />
Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>República</strong>, Sr. Primeiro-Ministro, Sr. Presidente <strong>do</strong> Supremo<br />
Tribunal de Justiça, Dig.mos Convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s, minhas Senhoras e<br />
meus Senhores, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: Dobra<strong>do</strong>s que são hoje catorze<br />
anos sobre a Revolução de 25 de Abril, podemos reafirmar que<br />
esse feito <strong>do</strong>s valorosos capitães continua e continuará a ser um<br />
exaltante e inesquecível acontecimento <strong>do</strong> nosso passa<strong>do</strong> recente<br />
e fun<strong>da</strong>mentalmente uma linha de rumo democrático e nacional,<br />
que o nosso presente reclama e que o nosso futuro exige.<br />
Os catorze anos passa<strong>do</strong>s não nos fazem esquecer a homenagem<br />
devi<strong>da</strong> e justa aos capitães de Abril, que na sua gesta heróica liqui<strong>da</strong>ram<br />
a mais velha ditadura <strong>da</strong> Europa, pon<strong>do</strong> fim ao mais velho<br />
império colonial <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>.<br />
Nesta homenagem queremos também, manifestar a nossa preocupação<br />
solidária a to<strong>do</strong>s os que são discrimina<strong>do</strong>s precisamente<br />
por que fizeram Abril, lutaram por ele e com ele se continuam a<br />
identificar.<br />
Aplausos <strong>do</strong> PCP, de Os Verdes e <strong>da</strong> ID.<br />
Não esquecemos também os milhares de compatriotas que com sacrifícios<br />
extremos, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> muitas vezes a sua própria vi<strong>da</strong>, lutaram<br />
tenazmente pela liber<strong>da</strong>de e a democracia, ao longo <strong>da</strong> ditadura<br />
fascista de quase meio século, contribuin<strong>do</strong> para que Abril chegasse.<br />
Ao comemorarmos Abril, façamos também um ponto <strong>da</strong> situação,<br />
não tanto no senti<strong>do</strong> de recriminar o passa<strong>do</strong> e as suas sequelas,<br />
mas para saber deles recolher os necessários ensinamentos que<br />
permitam preparar um melhor futuro para os Portugueses.<br />
Não o devemos fazer com um senti<strong>do</strong> de miragem, qual oásis distante.<br />
Mas com espírito de trabalho no presente, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> particular<br />
atenção às reclamações e aspirações <strong>da</strong> nossa juventude, para que<br />
possamos encontrar as necessárias soluções para os problemas <strong>do</strong><br />
futuro. O futuro que é já hoje, e não apenas o amanhã.<br />
Comemorar Abril não pode nem deve ser um acto voluntarista,<br />
ignoran<strong>do</strong> os reais problemas que se colocam à socie<strong>da</strong>de portuguesa,<br />
as entorses a que vem sen<strong>do</strong> sujeito o regime democrático<br />
constitucional e a necessi<strong>da</strong>de de lhe ser <strong>da</strong><strong>da</strong> a devi<strong>da</strong> resposta<br />
e, bem assim, os desafios com que estamos confronta<strong>do</strong>s.<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1988<br />
Maia Nunes de Almei<strong>da</strong><br />
PCP<br />
331<br />
Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>República</strong>, Srs. Deputa<strong>do</strong>s: Falar de Abril neste XIV aniversário é<br />
indissociável <strong>da</strong> referência ao texto constitucional, que acaba de<br />
perfazer <strong>do</strong>ze anos e que alguns querem alterar tão drasticamente<br />
que é impossível não falar de destruição. Importa dizer, hoje, por<br />
isso mesmo, que o texto constitucional, primeiro <strong>da</strong> hierarquia<br />
<strong>da</strong>s leis, veio corporizar e <strong>da</strong>r forma às linhas mestras que<br />
nortearam a acção <strong>do</strong>s capitães de Abril e <strong>do</strong> povo na sequência<br />
<strong>da</strong> revolução <strong>do</strong>s cravos.<br />
A Constituição de Abril veio falar de coisas humanas, como liber<strong>da</strong>de,<br />
justiça, progresso, cultura, ensino, casas, ecologia, saúde,<br />
vi<strong>da</strong> e futuro. E são esses valores e ideais que hoje aqui celebramos,<br />
tantos deles por cumprir e materializar e outros de que<br />
vemos afasta<strong>da</strong> a vontade política de concretização.<br />
Comemoramos a liber<strong>da</strong>de política e o funcionamento democrático<br />
<strong>da</strong>s instituições, desde logo desta <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong> enquanto<br />
representação máxima <strong>da</strong> vontade popular, contra aqueles que<br />
delas apenas têm uma visão retórica, imbuí<strong>do</strong>s que estão de um<br />
espírito de auto-suficiência, narcisismo e prepotência, procuran<strong>do</strong><br />
inverter equilíbrios institucionais entre os Órgãos de Soberania.<br />
Vozes <strong>do</strong> PCP: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Comemoramos as liber<strong>da</strong>des e os direitos <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res,<br />
e desde logo o direito à sua participação, intervenção,<br />
organização e actuação em defesa de interesses legítimos, de que o<br />
direito à greve e à segurança no emprego são expressões máximas,<br />
contra aqueles que nos trabalha<strong>do</strong>res apenas vêem a força <strong>da</strong><br />
mão-de-obra, quais máquinas de uma engrenagem, passíveis de<br />
to<strong>da</strong> e qualquer programação, tenha ela o nome de requisição civil,<br />
processo disciplinar, insegurança no emprego ou mesmo despedimento,<br />
de que seria exemplo significativo a consagração legal<br />
<strong>do</strong> propósito que preten<strong>da</strong> aniquilar direitos fun<strong>da</strong>mentais de<br />
quem trabalha.<br />
Comemoramos a subordinação <strong>do</strong> poder económico ao poder<br />
político democrático, no quadro de uma economia diversifica<strong>do</strong><br />
ao serviço <strong>do</strong> povo e <strong>do</strong> País, dizen<strong>do</strong> não àqueles que <strong>da</strong> economia<br />
só vêem o lucro, que entendem o sector público como inimigo a<br />
abater, que defendem conceitos serôdios de organização capitalista,<br />
ain<strong>da</strong> que rebaptiza<strong>da</strong> de popular.<br />
Comemoramos a consagração de uma nova ordem democrática<br />
nos campos de Portugal, com direito a uma vi<strong>da</strong> digna para os<br />
agricultores e rendeiros.<br />
Comemoramos a reforma agrária enquanto grande realização <strong>do</strong>s<br />
trabalha<strong>do</strong>res rurais <strong>do</strong> Alentejo e Ribatejo e reclamamos que<br />
sejam cria<strong>da</strong>s condições para que a nossa agricultura se possa<br />
desenvolver, acaban<strong>do</strong> com a cruza<strong>da</strong> contra os trabalha<strong>do</strong>res e<br />
impedin<strong>do</strong> que seja reimplanta<strong>do</strong> no País o latifúndio, trave mestra