conteúdo integral do livro - Assembleia da República
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O Sr. Presidente: — Tem a palavra o representante<br />
<strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Social-Democrata.<br />
O Sr. Menéres Pimentel (PSD): — Sr. Presidente<br />
<strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> e Srs.<br />
Deputa<strong>do</strong>s, Sr. Primeiro-Ministro e Srs. membros <strong>do</strong> Governo,<br />
Srs. Conselheiros <strong>da</strong> Revolução, Srs. Presidente <strong>do</strong> Supremo<br />
Tribunal de Justiça e Procura<strong>do</strong>r-Geral <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Srs.<br />
Convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s: É importante celebrar o 25 de Abril, mas comemorá-lo<br />
com sereni<strong>da</strong>de, reflexão e sobrie<strong>da</strong>de eis o que importará mais<br />
neste momento. Sereni<strong>da</strong>de e sobrie<strong>da</strong>de que não dispensam a<br />
ver<strong>da</strong>de. Pelo contrário, exigem-na.<br />
Neste quadro tentarei, pois, ser sincero.<br />
Circunstâncias de vária ordem obrigaram, por motivos patrióticos, à<br />
viabilização inicial de um Governo que, apesar de constitucional<br />
e legítimo, não emana <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s políticos que integram — ou<br />
deviam integrar completamente — esta <strong>Assembleia</strong>. Circunstâncias<br />
de vária ordem conduziram, não pelos mesmos motivos, a que<br />
cerca de um quinto <strong>do</strong>s actuais Deputa<strong>do</strong>s representassem, aqui,<br />
tão-somente as suas próprias personali<strong>da</strong>des.<br />
Vozes de Deputa<strong>do</strong>s independentes ex-PSD: — Não apoia<strong>do</strong>!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Estes factos excepcionais, quan<strong>do</strong> não testa<strong>do</strong>s por<br />
evidente capaci<strong>da</strong>de política, ou por serie<strong>da</strong>de de processos,<br />
exigem soluções de igual excepção ou de mu<strong>da</strong>nça.<br />
A excepção política resulta, como é evidente, de uma anormali<strong>da</strong>de<br />
no funcionamento <strong>da</strong>s instituições. E é sempre esta<br />
degenerescência <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> político que urge estar atento para<br />
intervir no momento em que a regeneração ain<strong>da</strong> é possível. A<br />
escolha deste tempo de intervenção constitui, pois, tarefa delica<strong>da</strong><br />
em jovens democracias como a nossa. A delicadeza e a gravi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> opção interventora e democrática não devem contribuir,<br />
através de demora excessiva, para a tentativa de compatibilizar o<br />
que é írreconciliável. De igual mo<strong>do</strong>, deverá evitar-se a contemporização<br />
ou convivência com a degenerescência. Estas atitudes<br />
só podem interessar a quem deseje o desgaste progressivo <strong>da</strong>s<br />
instituições democráticas, a quem, com receios, por vezes acomo<strong>da</strong>tícios,<br />
não suporte a ver<strong>da</strong>deira confrontação democrática, ou<br />
seja, a consulta popular.<br />
Os sociais-democratas, aqui exclusiva e legitimamente representa<strong>do</strong>s,<br />
pelo Grupo Parlamentar <strong>do</strong> PSD, não perfilham a tibieza<br />
como processo político nem temem dizer a ver<strong>da</strong>de em momentos<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1979<br />
Menéres Pimentel<br />
PSD<br />
85<br />
difíceis como o actual. Sempre desejaram clareza nos processos,<br />
limpidez nas atitudes, sinceri<strong>da</strong>de e frontali<strong>da</strong>de, nas palavras.<br />
Repudiam fáceis, conformismos, situacionismos ou demagogias.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Há um ano, V. Exª, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>...<br />
Vozes <strong>do</strong> PS: — Ah! Ah!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — ... nesta <strong>Assembleia</strong>, teve oportuni<strong>da</strong>de de afirmar<br />
que o momento não autorizava que acto idêntico decorresse sem a<br />
sombra de perigos, que ameaçavam a obra incompleta <strong>da</strong><br />
Revolução. Se o Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, em 1978 falou com esta<br />
frontali<strong>da</strong>de, para que, a fé <strong>do</strong>s portugueses pudesse ser recupera<strong>da</strong>,<br />
ninguém estranhará que, na actual conjuntura, utilize o mesmo<br />
processo linear. Seja qual for a análise crítica <strong>do</strong> Presidente <strong>da</strong><br />
<strong>República</strong>, por mais erra<strong>da</strong> ou frustrante que nos possa parecer,<br />
ninguém duvi<strong>da</strong>rá ao que suponho, <strong>da</strong> sua intenção democrática.<br />
Esta certeza confere-me, assim, uma total tranquili<strong>da</strong>de para lhe<br />
transmitir e a to<strong>do</strong>s os portugueses as nossas preocupações. Será <strong>do</strong><br />
exame destas que poderá nascer a nova esperança.<br />
Como V. Exª disse, também há um ano, o acto <strong>do</strong> 25 de Abril foi<br />
legítimo e autêntico pela intenção democrática que lhe estava subjacente<br />
e o seu programa claramente estabelecia e impunha. Só por<br />
isso a esmaga<strong>do</strong>ra maioria <strong>do</strong>s portugueses esteve com a revolução<br />
liberta<strong>do</strong>ra. Mas, o povo não precisava que tivessem persisti<strong>do</strong> em<br />
libertá-lo com a força e, portanto, sem a razão democrática.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Foi indispensável a violência liberta<strong>do</strong>ra em 25 de<br />
Abril de 1974, mas já foram reprováveis as atitudes unilaterais<br />
toma<strong>da</strong>s em momentos posteriores designa<strong>da</strong>mente a partir de 12<br />
de Março de 1975. Só que forças sectárias pretenderam — e conseguiram,<br />
embora parcialmente — alterar o programa democrático<br />
entregue ao País no dia 26 de Abril e <strong>da</strong>í a necessi<strong>da</strong>de de outro<br />
25 de Abril liberta<strong>do</strong>r que ocorreu, como é reconheci<strong>do</strong>, geralmente,<br />
em 25 de Novembro. Pelas atitudes corajosas e democráticas<br />
toma<strong>da</strong>s por V. Exª, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, nessa <strong>da</strong>ta a<br />
maioria absoluta <strong>do</strong>s portugueses não hesitou em elegê-lo em<br />
1976 para o exercício <strong>da</strong>s pesa<strong>da</strong>s mas honrosas funções de<br />
Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>. Eleição esta que lhe permitiu, com to<strong>da</strong><br />
a legitimi<strong>da</strong>de, afirmar em 25 de Abril de 1978 que o Presidente<br />
<strong>da</strong> <strong>República</strong>, eleito por sufrágio universal, tirava «o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu<br />
man<strong>da</strong>to, directamente, <strong>da</strong> vontade de quantos nele votaram e que<br />
tinham em comum a fideli<strong>da</strong>de aos valores <strong>da</strong> democracia pluralista<br />
e <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de direito capaz de responder às necessi<strong>da</strong>des