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conteúdo integral do livro - Assembleia da República

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O Sr. Presidente: — Srs. Deputa<strong>do</strong>s, temos<br />

quórum, pelo que declaro aberta a sessão.<br />

Tem a palavra o representante <strong>do</strong> CDS.<br />

O Sr. Narana Coissoró (CDS): — Sr.<br />

Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>República</strong>, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Presidentes <strong>do</strong> Supremo<br />

Tribunal de Justiça e <strong>do</strong> Tribunal Constitucional, Srs. Membros<br />

<strong>do</strong> Governo, Sr. Prove<strong>do</strong>r de Justiça, Altos Dignatários <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />

Srs. Deputa<strong>do</strong>s, Sras. e Srs. Convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s: No dia 25 de Abril de<br />

1974, que hoje solenemente comemoramos, tratou-se, fun<strong>da</strong>mentalmente,<br />

de recusar a legitimi<strong>da</strong>de de um regime que não <strong>da</strong>va<br />

voz e participação ao pluralismo <strong>do</strong>s projectos e vontades <strong>do</strong>s<br />

ci<strong>da</strong>dãos na decisão <strong>do</strong> processo político, designa<strong>da</strong>mente no que<br />

respeitava ao conceito estratégico nacional secular: a função de<br />

Portugal no ultramar e o destino deste ultramar em face <strong>da</strong>s<br />

exigências <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade <strong>do</strong> século XX.<br />

Mas pode ter-se por certo que a nenhuma <strong>da</strong>s forças que<br />

mol<strong>da</strong>ram o processo revolucionário, nem sequer a qualquer <strong>do</strong>s<br />

intervenientes que pessoalmente assumiram as responsabili<strong>da</strong>des e<br />

o protagonismo histórico <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça irreversível efectua<strong>da</strong>, foi<br />

possível antever a alteração acelera<strong>da</strong> que viria a <strong>da</strong>r-se na<br />

estrutura <strong>da</strong> Europa e <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, mu<strong>da</strong>nça que entrou em ritmo<br />

vertiginoso nos últimos três anos.<br />

O ideal europeu de 1974 an<strong>da</strong>va distante <strong>do</strong> largo passo <strong>da</strong><strong>do</strong><br />

mais tarde no Acto Único <strong>do</strong> Luxemburgo e <strong>da</strong>s mutações decorrentes<br />

<strong>da</strong> imprevista que<strong>da</strong> <strong>do</strong> Muro de Berlim, <strong>da</strong> dissolução em<br />

curso <strong>do</strong> Pacto de Varsóvia, <strong>da</strong> crise <strong>do</strong> Império Soviético.<br />

A ninguém podia ter ocorri<strong>do</strong> o conflito <strong>do</strong> Golfo, nem o<br />

ressurgimento <strong>da</strong> liderança <strong>da</strong> Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s e<br />

<strong>do</strong> seu Conselho de Segurança, a intervenção directora <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>da</strong> América na acção <strong>da</strong> coligação militar que<br />

organizaram.<br />

Nas Jorna<strong>da</strong>s <strong>do</strong> 25 de Abril, basea<strong>da</strong>s num grande ideal<br />

democrático e na condenação e recusa <strong>do</strong> regime <strong>da</strong> Constituição<br />

de 1933, a ninguém poderia ter ocorri<strong>do</strong> a questão actual <strong>da</strong><br />

uni<strong>da</strong>de política europeia em discussão ou a problemática grave<br />

de uma defesa arma<strong>da</strong> europeia.<br />

O futuro democrático que se quis é valorativamente o mesmo,<br />

mas as circunstâncias, em 1991, são radicalmente diferentes,<br />

especialmente naquilo que respeita aos desafios internacionais,<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1991<br />

Narana Coissoró<br />

CDS<br />

377<br />

que hoje já não coincidem com os que enquadravam a conjuntura<br />

portuguesa em 1974.<br />

Será exacto dizer, como tantas vezes se escuta, que o processo<br />

internacional em curso, no qual participamos, quer no que<br />

respeita à uni<strong>da</strong>de política <strong>da</strong> Europa quer no que respeita à<br />

definição de um braço arma<strong>do</strong> <strong>da</strong>s Comuni<strong>da</strong>des, não toca na<br />

soberania, não afecta a área de decisão soberana de Portugal?<br />

Somos frequentemente aconselha<strong>do</strong>s a não mitificar o valor <strong>da</strong><br />

soberania, mas não conhecemos melhor forma de mostrar que<br />

se está a ser vítima dessa mitificação <strong>do</strong> que tentar fazer valer o<br />

conceito de que ela não está em causa, quan<strong>do</strong> é dificilmente concebível<br />

que uma questão de uni<strong>da</strong>de política, seja esta o que for, e<br />

de braço arma<strong>do</strong> de uma uni<strong>da</strong>de política, seja qual for a definição<br />

desse braço arma<strong>do</strong>, possa ter resposta que não afecte o conceito<br />

e o <strong>conteú<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> soberania tal como é classicamente entendi<strong>da</strong>.<br />

Julgamos que, neste fim de século, é o alargamento <strong>da</strong> democracia<br />

que se anuncia aos europeus <strong>do</strong> Atlântico aos Urais, mas é também<br />

a redefinição <strong>da</strong> soberania que está em causa para os grandes e<br />

pequenos países <strong>da</strong> pequena Europa.<br />

Por muito que a semântica política possa ser usa<strong>da</strong> abusivamente<br />

nesta área, estas questões <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de política <strong>da</strong> Europa, <strong>da</strong> defesa<br />

<strong>da</strong> Europa, <strong>da</strong> segurança <strong>do</strong> Atlântico, portanto <strong>da</strong> NATO, <strong>da</strong><br />

UEO, <strong>da</strong> CEE, <strong>da</strong> CSCE, tocam profun<strong>da</strong>mente no conceito<br />

estratégico nacional, na função de Portugal no Mun<strong>do</strong>, na<br />

maneira de ser português, de ser ci<strong>da</strong>dão, de ser europeu.<br />

É por isto que, neste dia, 17º aniversário <strong>do</strong> 25 de Abril, parece<br />

apropria<strong>do</strong> lembrar que o povo e os seus representantes, de acor<strong>do</strong><br />

com o ideal proclama<strong>do</strong> e implanta<strong>do</strong> em 1974, não podem<br />

alhear-se ou ser afasta<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s decisões e <strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong>des<br />

pelas consequências delas, que afectam o futuro <strong>da</strong>s gerações.<br />

Entendemos, assim, que este é o dia certo, o lugar exacto e a<br />

cerimónia apropria<strong>da</strong> para uma chama<strong>da</strong> de atenção: o processo<br />

que diz respeito à uni<strong>da</strong>de política europeia, à segurança <strong>da</strong> CEE,<br />

à segurança <strong>da</strong> CSCE, não pode ser conduzi<strong>do</strong>, como até agora,<br />

com tão escassa participação <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, com<br />

a acção discreta <strong>da</strong> burocracia e o protagonismo ostensivo <strong>do</strong><br />

aparelho governativo.<br />

O 25 de Abril não consente que, na definição <strong>do</strong>s futuros <strong>do</strong> País, não<br />

estejam presentes to<strong>do</strong>s os Órgãos de Soberania, respal<strong>da</strong><strong>do</strong>s pelos<br />

ci<strong>da</strong>dãos completamente informa<strong>do</strong>s, decidi<strong>do</strong>s e concor<strong>da</strong>ntes.<br />

Só assim a exigência <strong>da</strong> democracia participativa, que animou o<br />

25 de Abril, será cumpri<strong>da</strong>. Uma vez mais, a nossa revolução continuará<br />

a ser a matriz <strong>da</strong> revolução democrática global que abrasa<br />

o Mun<strong>do</strong> nesta Primavera de 1991.<br />

Aplausos gerais.

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