conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
conteúdo integral do livro - Assembleia da República
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
com a reali<strong>da</strong>de, também actual, desta <strong>Assembleia</strong>. Daí a necessi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> sua dissolução.<br />
Aplausos <strong>do</strong> PSD.<br />
Se o novo acto eleitoral decorrer sob o signo <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça e <strong>da</strong><br />
reconstrução <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, parece evidente que os inconvenientes,<br />
sempre de ponderar, de eleições intercalares serão largamente<br />
supera<strong>da</strong>s pela aquisição de uma autêntica estabili<strong>da</strong>de<br />
governativa.<br />
Ao Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong> importa menos quem governa e mais<br />
como se governa. Esta afirmação, aqui produzi<strong>da</strong> há um ano,<br />
mantém to<strong>do</strong> o peso de uma síntese já transporta<strong>da</strong> de Mouzinho<br />
<strong>da</strong> Silveira. Deverá ser, pois, indiferente ao Presidente <strong>da</strong><br />
<strong>República</strong> procurar antever a maioria ou as maiorias que se formarão<br />
após um acto eleitoral.<br />
Já, porém, não será indiferente ao Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong> saber<br />
se antes <strong>da</strong> dissolução <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> os parti<strong>do</strong>s se comprometem<br />
a participar somente em governos com apoio parlamentar<br />
majoritário, estável e coerente. Este compromisso, pela nossa<br />
parte, aqui fica adianta<strong>do</strong>, mas sem qualquer desejo incontrola<strong>do</strong> de<br />
acesso ao Poder. Apenas o contributo para a tão fala<strong>da</strong> e deseja<strong>da</strong><br />
estabili<strong>da</strong>de governativa.<br />
Bem sabemos que os Portugueses preferem a razão e a prudência<br />
à linguagem <strong>da</strong> emoção e <strong>da</strong>s promessas demagógicas que, como<br />
as <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, são impossíveis de cumprir. E por assim ser,<br />
admitimos que o actual Governo continue, ain<strong>da</strong> que só para<br />
preparar eleições, mas desde que seja assegura<strong>do</strong> um mínimo de<br />
respeito pelas formações partidárias e a satisfação de algumas<br />
necessi<strong>da</strong>des fun<strong>da</strong>mentais.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Não se percebe, por exemplo, como é que o<br />
Governo ain<strong>da</strong> não providenciou, antes mesmo de aprova<strong>do</strong> novo<br />
Orçamento, pela aprovação de uma lei que regule aspectos essenciais<br />
como os <strong>da</strong> cobrança de impostos indirectos com taxas<br />
novas, o <strong>do</strong> financiamento às autarquias locais e outros. Não se<br />
percebe também como é que o Governo, ou parte dele, procura<br />
instalar a sua máquina de propagan<strong>da</strong> como se pudesse concorrer<br />
como tal a novas eleições.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Apesar de tu<strong>do</strong>, o PSD, consciente <strong>da</strong>s suas responsabili<strong>da</strong>des,<br />
não se colocará, para já, em posição de hostili<strong>da</strong>de ao IV<br />
Governo, mas também não o apoiará. Aguar<strong>da</strong>rá com sereni<strong>da</strong>de a<br />
evolução <strong>do</strong> processo político, e se na<strong>da</strong> for feito para regenerar as<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1979<br />
Menéres Pimentel<br />
PSD<br />
87<br />
instituições democráticas, então, sim, usará de to<strong>do</strong>s os meios constitucionais<br />
ao seu alcance para combater a apatia que tomou conta<br />
de grandes faixas de diversas classes sociais.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Assumirá as responsabili<strong>da</strong>de que lhe cabem e não<br />
receará to<strong>da</strong>s as campanhas que meios oficiais ou governamentais<br />
lhe desencadearem.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Mais valerá perder a populari<strong>da</strong>de fácil <strong>do</strong> que<br />
comparticipar em processos degenerativos. O caminho «para a<br />
recuperação material e para a ordem cívica» não pode correr o<br />
risco de «acabar na miséria e no caos». Mas não é com contemporizações<br />
fáceis nem com subserviências inúteis que se evitará<br />
esta miséria e este caos.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — O projecto de salvação nacional prometi<strong>do</strong> em 25 de<br />
Abril terá de ser assegura<strong>do</strong> pela concórdia e pela conciliação,<br />
mas não por cedências. Cedências a qualquer tipo de intromissões<br />
militares no poder democrático civil. Cedências a qualquer tipo<br />
de demagogia fácil encoberta por pretenso realismo não efectiva<strong>do</strong>.<br />
Cedências a forças sectárias e não patrióticas. Cedências à tentação<br />
<strong>do</strong> acesso fácil ao Poder. Cedências à imorali<strong>da</strong>de, à falta de<br />
transparência <strong>do</strong>s processos de actuação, à ambigui<strong>da</strong>de de um<br />
Governo dito apartidário, mas em que parte dele parece aposta<strong>do</strong><br />
em projectos político-partidários. Será no terreno <strong>da</strong> confrontação<br />
democrática que se poderão definir as capaci<strong>da</strong>des técnico-<br />
-políticas e que se deverão regenerar as instituições democráticas.<br />
Estas não se desgastam quan<strong>do</strong> servi<strong>da</strong>s por pessoas capazes e<br />
<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s de representativi<strong>da</strong>de.<br />
A legitimação popular é condição <strong>da</strong> sobrevivência democrática.<br />
O individualismo conduz ao sectarismo, ao afrontamento e não ao<br />
confronto saudável e, portanto, democrático.<br />
Vozes <strong>do</strong> PSD: — Muito bem!<br />
O Ora<strong>do</strong>r: — Só se pode confrontar quem dispuser de um mínimo<br />
de legitimi<strong>da</strong>de democrática adquiri<strong>da</strong> pelo sufrágio. Qualquer<br />
outra atitude representará arrogância insuportável em democracia.<br />
Há que recuperar a imagem <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s perante a opinião pública,<br />
mas para tanto será indispensável conferir-lhes a oportuni<strong>da</strong>de<br />
máxima dessa recuperação. Não é através de pretensas acções<br />
pe<strong>da</strong>gógicas, oriun<strong>da</strong>s de quem não possui inserção popular; não