conteúdo integral do livro - Assembleia da República
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A cooperação militar, deseja<strong>da</strong> pelos países africanos lusófonos,<br />
tem de ser assumi<strong>da</strong> por nós sem complexos, com naturali<strong>da</strong>de e<br />
ela é, em muitos aspectos, um instrumento <strong>da</strong> maior relevância na<br />
política externa portuguesa.<br />
Essa cooperação abrange áreas que vão desde a formação de pessoal<br />
ao apoio <strong>da</strong> reorganização <strong>da</strong>s forças arma<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s países africanos,<br />
a acções de intercâmbio no <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> saúde e <strong>da</strong> formação de um<br />
número significativo de jovens em Portugal, nos estabelecimentos de<br />
ensino e em outras uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s.<br />
Estamos, assim, a contribuir: para fomentar a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong><br />
ideia <strong>da</strong> Instituição Militar como elemento estruturante <strong>do</strong>s<br />
Esta<strong>do</strong>s e <strong>da</strong>s Nações e suporte <strong>do</strong> exercício <strong>da</strong>s instituições<br />
democráticas; e a contribuir, também, para a valorização <strong>do</strong> factor<br />
humano <strong>da</strong>queles países. Qualquer um destes aspectos é vital<br />
para a consoli<strong>da</strong>ção e estabilização <strong>da</strong>s jovens democracias pluripartidárias<br />
<strong>da</strong> África Lusófona.<br />
Noutro plano, Portugal deverá continuar a lutar pela causa de<br />
Timor-Leste, no quadro <strong>do</strong>s esforços <strong>do</strong> Secretário-Geral <strong>da</strong><br />
ONU, com as iniciativas também agora em curso, no cumprimento<br />
<strong>do</strong> seu man<strong>da</strong>to, na procura de uma resolução justa e internacionalmente<br />
aceite <strong>da</strong> questão de Timor-Leste.<br />
O empenhamento de Portugal nesta matéria é, aliás, feito em<br />
coerência com <strong>do</strong>is valores essenciais que estiveram na própria<br />
génese <strong>do</strong> 25 de Abril e são hoje valores de referência <strong>da</strong> actuação<br />
internacional <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> português: a defesa <strong>do</strong> direito <strong>do</strong>s povos<br />
à autodeterminação e a defesa <strong>do</strong>s direitos humanos.<br />
Sras. e Srs. Deputa<strong>do</strong>s, Minhas Senhoras e Meus Senhores: O 25 de<br />
Abril marcou também uma importante viragem nas opções<br />
estratégicas <strong>do</strong> País. Hoje é, de novo, chega<strong>do</strong> o momento de pensar<br />
estrategicamente o futuro de Portugal, avalian<strong>do</strong> com rigor<br />
alguns factores que o condicionam a curto prazo.<br />
A escassa dimensão <strong>da</strong> retoma económica, o ajustamento aos<br />
critérios de convergência nominal, o aumento <strong>da</strong> pressão concorrencial<br />
externa e a abertura <strong>da</strong> Conferência Intergovernamental<br />
e a pendência de <strong>do</strong>ssiers tão sensíveis como o alargamento, a terceira<br />
fase <strong>da</strong> União Económica e Monetária e a definição <strong>da</strong>s perspectivas<br />
financeiras depois de 1999 são matérias que aconselham<br />
a identificação rigorosa <strong>da</strong>s linhas de orientação que nos<br />
devem nortear e, ao mesmo tempo, a necessi<strong>da</strong>de imperiosa de<br />
formular as bases de uma concertação estratégica.<br />
O presente exige opções claras e atempa<strong>da</strong>s, um apura<strong>do</strong> senti<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> interesse nacional, determinação na condução <strong>da</strong>s<br />
políticas e, sobretu<strong>do</strong>, pe<strong>da</strong>gogia na explicação <strong>da</strong>s suas consequências.<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1996<br />
Jorge Sampaio<br />
Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong><br />
453<br />
As reformas necessárias não podem ser feitas ignoran<strong>do</strong> os<br />
impactos sociais negativos que conjunturalmente provocam,<br />
porque assim se geram factores de conflituali<strong>da</strong>de que acabarão<br />
também eles por constituir obstáculos adicionais à mu<strong>da</strong>nça. Mas<br />
também é impossível olhar apenas ao curto prazo, porque a intervenção,<br />
como sabemos, dispersa e avulsa se acaso impede o<br />
agravamento de tensões adia, porventura irremediavelmente, as<br />
opções de fun<strong>do</strong>. É sobre elas que se deverá acor<strong>da</strong>r uma<br />
concertação estratégica, como disse.<br />
É necessário, assim, que os agentes políticos e os parceiros sociais<br />
aceitem as responsabili<strong>da</strong>des inerentes aos desafios que se colocam<br />
ao País. A resistência à necessi<strong>da</strong>de de concertação estratégica<br />
tem como única consequência introduzir um obstáculo adicional<br />
ao processo de mu<strong>da</strong>nça.<br />
Exige-se, hoje, uma atitude de ajustamento positivo, de determinação,<br />
de confiança. Penso que para garantir esse desafio<br />
Portugal necessita de preparar, por um la<strong>do</strong>, as condições para<br />
uma competição aberta e, por outro, de assegurar em paralelo<br />
condições para o controlo social e político <strong>da</strong>s consequências de<br />
um merca<strong>do</strong> concorrencial aberto.<br />
Não acredito na possibili<strong>da</strong>de de garantir uma economia moderna e<br />
competitiva na próxima déca<strong>da</strong> sem o desenvolvimento de políticas<br />
de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de que lidem com o problema <strong>da</strong>s tensões sociais<br />
provoca<strong>da</strong>s pelo processo de modernização.<br />
A capaci<strong>da</strong>de de construir o futuro de Portugal como país moderno,<br />
competitivo e socialmente equilibra<strong>do</strong> depende, em grande medi<strong>da</strong>:<br />
<strong>da</strong> definição de um justo equilíbrio entre a convergência nominal e<br />
a convergência real no âmbito <strong>da</strong> União Europeia; <strong>da</strong> articulação<br />
entre as políticas de emprego, formação e educação, fun<strong>da</strong>mental<br />
para melhorar as condições estruturais <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong>de<br />
económica e proteger as condições de controlo social <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça;<br />
e <strong>da</strong> relação importantíssima entre a coesão nacional, as políticas de<br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e o sistema de segurança social.<br />
Hoje é necessário uma valorização digna <strong>do</strong> princípio <strong>da</strong> mobili<strong>da</strong>de,<br />
<strong>da</strong> aprendizagem permanente, <strong>da</strong> polivalência, <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de<br />
de a<strong>da</strong>ptação à mu<strong>da</strong>nça.<br />
Não é possível pensar no futuro, permitam-me que volte a este<br />
ponto, sem aceitar que esta reali<strong>da</strong>de requer pessoas com novos<br />
padrões de qualificação. Não basta uma reforma no sistema de<br />
educação formal e até de a estabilizar, é preciso aceitar que os<br />
sistemas de formação profissional estão a ganhar um carácter permanente<br />
e passam a ser decisivos para a a<strong>da</strong>ptação constante ao<br />
merca<strong>do</strong> de emprego.