16.04.2013 Views

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção,<br />

na quali<strong>da</strong>de de representante <strong>do</strong><br />

Grupo Parlamentar <strong>do</strong> PS, tem a palavra o<br />

Sr. Deputa<strong>do</strong> António Guterres.<br />

O Sr. António Guterres (PS): — Sr. Presidente<br />

<strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>,<br />

Srs. Membros <strong>do</strong>s Órgãos de Soberania, Sras. e Srs. Convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s e,<br />

permitam-me que destaque com particular respeito e afecto, Srs.<br />

Capitães de Abril aqui presentes:...<br />

Aplausos <strong>do</strong> PS.<br />

... Decidi intervir neste debate quan<strong>do</strong> senti a obrigação de<br />

exprimir, em nome de to<strong>do</strong>s os socialistas, o nosso orgulho, como<br />

portugueses, em pertencer ao Portugal de Abril, impulso motiva<strong>do</strong><br />

não tanto pelas caricaturas <strong>do</strong> antigo regime e <strong>da</strong> Revolução que<br />

nos têm servi<strong>do</strong> ultimamente nem sequer por aquilo que de Abril<br />

tem dito os que contra Abril sempre estiveram; impulso que me<br />

veio, sobretu<strong>do</strong>, pela forma envergonha<strong>da</strong> com que de Abril têm<br />

fala<strong>do</strong> muitos <strong>da</strong>queles que, na política ou fora dela, foram <strong>do</strong>s<br />

principais beneficiários <strong>da</strong> Revolução de Abril.<br />

Aplausos <strong>do</strong> PS e <strong>do</strong> Deputa<strong>do</strong> independente Raúl Castro.<br />

Como se Abril tivesse si<strong>do</strong> o preço que to<strong>do</strong>s pagámos pela liber<strong>da</strong>de.<br />

A liber<strong>da</strong>de não tem preço, os direitos humanos não se<br />

compram, não se vendem nem podem ignorar-se. E, por isso,<br />

mesmo que Abril tivesse si<strong>do</strong> o preço <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, teria vali<strong>do</strong> a<br />

pena pagá-lo.<br />

Só que Abril não foi o preço <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, mas a vitória <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de<br />

e <strong>da</strong> paz. Muitos <strong>do</strong>s que me estão a ver e a ouvir, neste<br />

momento, poderiam não estar vivos se com Abril a guerra não<br />

tivesse termina<strong>do</strong>.<br />

Aplausos <strong>do</strong> PS e <strong>do</strong> Deputa<strong>do</strong> <strong>do</strong> PSD Fernan<strong>do</strong> Amaral.<br />

A paz é outro valor que não tem preço e só quem está em guerra,<br />

só quem vive em guerra, a pode apreciar devi<strong>da</strong>mente.<br />

To<strong>do</strong>s gostaríamos que a descolonização pudesse ter corri<strong>do</strong> melhor,<br />

mas não era fácil, não era possível. Feita tarde demais, após 13<br />

anos de guerra, num perío<strong>do</strong> em que aqui, em Portugal, tivemos<br />

de lutar para que a liber<strong>da</strong>de se não perdesse.<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1994<br />

António Guterres<br />

PS<br />

403<br />

Mas, até nesta matéria, os sau<strong>do</strong>sistas <strong>do</strong> antigo regime não têm<br />

qualquer autori<strong>da</strong>de. Mesmo que quisessem hoje agarrar-se ao<br />

princípio, para nós inaceitável, de uma pátria pluricontinental e<br />

indivisível que a Revolução teria traí<strong>do</strong>, já não o podem fazer.<br />

Afinal, sabemo-lo agora, a ditadura, no desespero <strong>do</strong> seu estertor,<br />

também tinha começa<strong>do</strong> a negociar a independência <strong>da</strong>s colónias.<br />

Liber<strong>da</strong>de e paz, mas também criação de condições para uma<br />

economia moderna e desenvolvi<strong>da</strong> no quadro de uma socie<strong>da</strong>de<br />

mais justa e culturalmente aberta e plural. A este respeito, temos<br />

assisti<strong>do</strong> a uma completa mistificação, a ponto de um <strong>do</strong>s mais<br />

altos responsáveis <strong>do</strong> País ter afirma<strong>do</strong>, recentemente, que a<br />

economia portuguesa estaria muito melhor se não fosse o 25 de<br />

Abril. É uma afirmação insólita e sem fun<strong>da</strong>mento.<br />

Em primeiro lugar, porque a economia portuguesa estava a entrar<br />

em profun<strong>da</strong> crise desde finais de 1973. Depois, porque um sistema<br />

corporativo é incompatível com a flexibili<strong>da</strong>de necessária<br />

para se ser competitivo nos tempos de hoje. Também porque, com<br />

uma guerra colonial em rápi<strong>do</strong> agravamento e, com o progressivo<br />

acesso <strong>do</strong>s movimentos de libertação a armas mais sofistica<strong>da</strong>s,<br />

exigin<strong>do</strong> um brutal aumento <strong>da</strong>s despesas militares, teria si<strong>do</strong><br />

inevitavelmente asfixia<strong>do</strong>, mais tarde ou mais ce<strong>do</strong>, o crescimento<br />

económico. Finalmente, porque a ditadura nos impedia a participação<br />

de pleno direito na integração europeia. Ficaríamos<br />

obriga<strong>do</strong>s pelos acor<strong>do</strong>s já assina<strong>do</strong>s a abrir as nossas fronteiras à<br />

concorrência internacional, mas não teríamos ti<strong>do</strong> acesso ao<br />

apoio maciço <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s comunitários.<br />

Houve também quem chegasse a afirmar que, em matéria<br />

económica, o 25 de Abril só tinha aconteci<strong>do</strong> em 1985. Vejamos os<br />

números: de 1974 a 1985, absorven<strong>do</strong> as consequências de <strong>do</strong>is<br />

aumentos brutais <strong>do</strong> preço <strong>do</strong> petróleo, com a per<strong>da</strong> <strong>do</strong> império<br />

colonial e a necessi<strong>da</strong>de de acolher os retorna<strong>do</strong>s, sem fun<strong>do</strong>s<br />

comunitários, antes, com duas ingerências <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> Monetário<br />

Internacional, com os efeitos de um processo revolucionário e de<br />

diversos perío<strong>do</strong>s de instabili<strong>da</strong>de política, mesmo assim — repito —,<br />

de 1974 a 1985 — e espantem-se os Srs. Deputa<strong>do</strong>s —, a economia<br />

portuguesa cresceu em média anual significativamente mais <strong>do</strong><br />

que o conjunto <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de Europeia.<br />

É fácil falar hoje <strong>do</strong>s erros e <strong>do</strong>s excessos <strong>da</strong> revolução. Com<br />

certeza que os houve e conheci-os bem. Ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele que é<br />

hoje o Presidente <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Mário Soares, e de muitos outros,<br />

tive ocasião de lutar em 1974 e em 1975...<br />

Risos <strong>do</strong> PSD.<br />

... para combater esses erros e excessos e para evitar que a democracia<br />

portuguesa soçobrasse e não me recor<strong>do</strong> <strong>da</strong> presença,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!