conteúdo integral do livro - Assembleia da República
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O Sr. Presidente: — Dou a palavra a um<br />
representante <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Comunista<br />
Português.<br />
O Sr. Octávio Pato (PCP): — Sr. Presidente<br />
<strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr. Presidente <strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Sr.<br />
Primeiro-Ministro, Srs. Conselheiros <strong>da</strong> Revolução, Sr. Presidente<br />
<strong>do</strong> Supremo Tribunal de Justiça, Srs. Ministros, Srs. Deputa<strong>do</strong>s,<br />
Senhoras e Senhores: Comemoramos hoje com profun<strong>da</strong> alegria<br />
e legítimo orgulho a libertação <strong>da</strong> nossa pátria <strong>da</strong> odiosa ditadura<br />
fascista. Comemoramos hoje, sem sombra de dúvi<strong>da</strong>, um <strong>do</strong>s<br />
maiores acontecimentos em to<strong>da</strong> a história <strong>do</strong> povo português: a<br />
conquista <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de.<br />
No momento em que a revolução portuguesa completa três anos é<br />
de inteira e absoluta justiça que, com renova<strong>da</strong> emoção,<br />
saudemos desta tribuna os heróicos capitães de Abril; os valorosos<br />
militares <strong>do</strong> 25 de Abril, a quem cabe o mérito irrecusável de, com<br />
o levantamento militar <strong>da</strong>quela madruga<strong>da</strong> histórica, terem aberto<br />
decisivamente o caminho para a conquista <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> paz<br />
na nossa pátria, pelo que ganharam mereci<strong>da</strong>mente lugar definitivo<br />
no coração de to<strong>do</strong>s os portugueses amantes <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de.<br />
Prestamos senti<strong>da</strong> homenagem e expressamos profun<strong>da</strong> gratidão<br />
a to<strong>do</strong>s os antifascistas, a to<strong>do</strong>s os democratas, a to<strong>do</strong>s os patriotas,<br />
que ao longo de déca<strong>da</strong>s de um combate incerto e difícil, pleno<br />
de heroísmo e de sacrifícios sem conta, empenharam to<strong>da</strong>s as<br />
suas forças e energias, muitos enfrentan<strong>do</strong> as torturas e sacrifican<strong>do</strong><br />
até a própria vi<strong>da</strong>, para que a bandeira <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de<br />
pudesse um dia ondular na terra portuguesa.<br />
A uns e a outros, aos militares patriotas e às forças <strong>da</strong> resistência ao<br />
fascismo, deve o povo português, em parte essencial, o 25 de Abril.<br />
Hoje, três anos passa<strong>do</strong>s, importa sau<strong>da</strong>r, não só os militares<br />
obreiros <strong>do</strong> 25 de Abril, mas importa também sau<strong>da</strong>r to<strong>do</strong>s os<br />
militares que depois se identificaram com o seu espírito e com os<br />
objectivos <strong>da</strong> revolução portuguesa. Importa sau<strong>da</strong>r não apenas<br />
os mais destaca<strong>do</strong>s e activos resistentes ao fascismo, mas também<br />
muitos outros milhares de portugueses que, abertas as portas <strong>da</strong><br />
liber<strong>da</strong>de, vieram também à luta. Uns e outros integram as forças<br />
imensas que, uni<strong>da</strong>s, podem assegurar o feliz prosseguimento <strong>da</strong><br />
democracia portuguesa.<br />
Celebramos hoje o 25 de Abril através <strong>da</strong> presença <strong>do</strong> Presidente<br />
<strong>da</strong> <strong>República</strong>, <strong>do</strong>s militares <strong>do</strong> Conselho <strong>da</strong> Revolução, <strong>do</strong><br />
Governo e <strong>da</strong> voz <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s presentes nesta reunião solene<br />
<strong>da</strong> <strong>Assembleia</strong> <strong>da</strong> <strong>República</strong>, Órgão de Soberania <strong>do</strong> regime<br />
Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />
1977<br />
Octávio Pato<br />
PCP<br />
19<br />
democrático consagra<strong>do</strong> na Constituição e conquista<strong>do</strong> pelo povo<br />
português através <strong>da</strong> Revolução de Abril.<br />
A <strong>da</strong>ta para sempre gloriosa <strong>do</strong> 25 de Abril é hoje igualmente<br />
comemora<strong>da</strong> pelas forças arma<strong>da</strong>s e pelo povo português que nas<br />
ruas e nas praças de Portugal afirma a sua determinação de<br />
defender as liber<strong>da</strong>des e to<strong>da</strong>s as grandes conquistas democráticas.<br />
Conscientes de que o 25 de Abril não pode ser apropria<strong>do</strong> parti<strong>da</strong>riamente,<br />
nem quanto à sua origem, nem quanto ao seu<br />
desenvolvimento, nem quanto à sua projecção no futuro, tu<strong>do</strong><br />
fizemos pela nossa parte para que, em to<strong>da</strong>s as manifestações e<br />
actos comemorativos desta <strong>da</strong>ta de enorme alcance patriótico, os<br />
antifascistas e os democratas portugueses se sentissem viven<strong>do</strong><br />
um clima de fraterni<strong>da</strong>de e de activa soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de democrática.<br />
Estamos certos de que, no seu conjunto, as comemorações <strong>do</strong> 25<br />
de Abril constituirão um muito importante contributo para<br />
aproximar os democratas portugueses na procura de soluções<br />
viáveis para defender a democracia portuguesa e orientar o País<br />
na via <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> paz, <strong>da</strong> independência nacional, <strong>do</strong> progresso<br />
social, com a perspectiva <strong>do</strong> socialismo.<br />
Não é possível evocar o levantamento militar de 25 de Abril, sem<br />
evocar o imediato e poderoso levantamento popular que, convergin<strong>do</strong><br />
com aquele, consoli<strong>do</strong>u a vitória e viria a conquistar,<br />
palmo a palmo, as condições para tornar em conquistas populares<br />
os melhores objectivos <strong>da</strong> acção liberta<strong>do</strong>ra de 25 de Abril.<br />
E recor<strong>da</strong>r esse levantamento popular não é apenas lembrar o<br />
esmaga<strong>do</strong>r apoio e estímulo ao Movimento <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s,<br />
expresso — em termos inesquecíveis — no 1º de Maio de 1974.<br />
É recor<strong>da</strong>r também que os trabalha<strong>do</strong>res, as massas populares, os<br />
democratas, souberam logo nos primeiros dias de liber<strong>da</strong>de tomar<br />
nas suas mãos as mais urgentes tarefas de democratização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
nacional, assumin<strong>do</strong> uma responsabili<strong>da</strong>de e uma participação<br />
activa no desmantelamento <strong>da</strong>s posições fascistas, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> os<br />
primeiros passos para a renovação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> nacional.<br />
Reaccionários e conspira<strong>do</strong>res, man<strong>da</strong>ntes e executantes <strong>do</strong><br />
bombismo terrorista, colabora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> PIDE e Legião, políticos<br />
que não têm nem princípios, nem passa<strong>do</strong>, nem presente<br />
democrático, destaca<strong>do</strong>s explora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>s<br />
Portugueses e vendilhões <strong>da</strong>s riquezas de Portugal ao estrangeiro,<br />
beneficiários <strong>da</strong> exploração colonial, profissionais <strong>da</strong> mentira e<br />
<strong>do</strong> insulto em formato de jornal, conduzem hoje — com uma<br />
impuni<strong>da</strong>de que justifica larga indignação — uma campanha para<br />
fazer crer que a revolução portuguesa tem si<strong>do</strong> uma catástrofe<br />
nacional, uma sucessão de violências inqualificáveis, uma on<strong>da</strong><br />
de irresponsabili<strong>da</strong>de geral, uma afronta à história <strong>do</strong> País e um<br />
descalabro para a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s Portugueses.<br />
Hoje, 25 de Abril, é o momento oportuno para afirmar que, sejam<br />
quais forem as dúvi<strong>da</strong>s e as inquietações que se perfilem no horizonte,<br />
o nosso povo tem razões para estar orgulhoso <strong>do</strong> balanço de