16.04.2013 Views

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

conteúdo integral do livro - Assembleia da República

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

mal contamina os grandes corpos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e alastra <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res aos empresários, numa feu<strong>da</strong>lização ou num individualismo<br />

que bloqueiam a renovação e a modernização <strong>do</strong> País.<br />

Ora, a democracia tem de ser também um sistema de organização<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, um ordenamento mais exigente, uma<br />

responsabili<strong>da</strong>de acresci<strong>da</strong>, uma eficácia maior na solução <strong>do</strong>s<br />

problemas concretos. A democracia tem que demonstrar na prática,<br />

e não só na teoria, a sua superiori<strong>da</strong>de real como sistema político.<br />

Vozes <strong>do</strong> PS: — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — Se nestes 8 anos a ditadura tivesse prossegui<strong>do</strong>,<br />

ain<strong>da</strong> hoje as famílias portuguesas, os jovens e os elementos <strong>da</strong>s<br />

forças arma<strong>da</strong>s viveriam o drama de uma guerra que se prolongava<br />

fora <strong>do</strong> tempo, fora <strong>da</strong> razão e fora <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>.<br />

Vozes <strong>do</strong> PS: — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — A variação <strong>do</strong>s governantes não existiria, as correntes<br />

de opinião não teriam consistência, os sindicatos e as comissões de<br />

trabalha<strong>do</strong>res não exerceriam qualquer acção fiscaliza<strong>do</strong>ra.<br />

A comunicação social e a criação literária e artística continuariam<br />

ameaça<strong>da</strong>s pela censura.<br />

Os opositores e dissidentes seriam persegui<strong>do</strong>s, encarcera<strong>do</strong>s ou<br />

exila<strong>do</strong>s. A autonomia regional <strong>do</strong>s Açores e <strong>da</strong> Madeira e o poder<br />

local democrático não estariam consoli<strong>da</strong><strong>do</strong>s nem através deles se<br />

teria realiza<strong>do</strong> o cau<strong>da</strong>l de melhoramentos regionais e locais no<br />

que respeita à água, à luz, aos esgotos, às estra<strong>da</strong>s e caminhos, à<br />

habitação ou ao desporto.<br />

A segurança social persistiria em ignorar enormes estratos <strong>da</strong><br />

população trabalha<strong>do</strong>ra. A maior parte <strong>do</strong> País ver-se-ia ain<strong>da</strong><br />

excluí<strong>da</strong> <strong>da</strong> rede de saúde pública e <strong>do</strong>s cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s médicos. Os<br />

transportes públicos não praticariam tarifas de alcance social.<br />

Quantas pessoas estariam ain<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>s de férias ou <strong>do</strong>s meios<br />

mínimos de subsistência, ou <strong>do</strong> direito à obtenção de um simples<br />

passaporte, ou <strong>do</strong> acesso às mais elementares necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong><br />

consumo, ou <strong>da</strong> simples facul<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>rem a sua opinião sem o<br />

receio de por tal facto serem incomo<strong>da</strong><strong>do</strong>s, vexa<strong>do</strong>s, marginaliza<strong>do</strong>s<br />

ou persegui<strong>do</strong>s?<br />

Quantos trabalha<strong>do</strong>res se veriam impedi<strong>do</strong>s de ascenderem a<br />

graus mais eleva<strong>do</strong>s de formação académica ou até universitária,<br />

em virtude <strong>da</strong> falta de condições nas empresas e nas escolas para<br />

a efectivação de tal desejo?<br />

Como não seria mais severa a subi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s preços, sem sequer a<br />

possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pressão sindical!<br />

Como persistiria o clima autoritário e de me<strong>do</strong> dentro <strong>da</strong>s<br />

empresas e <strong>da</strong> Administração Pública e o obscurantismo, que<br />

nos impedia de ver cinema, observar os acontecimentos, esco-<br />

Sessão solene comemorativa <strong>do</strong> 25 de Abril<br />

1982<br />

Jaime Gama<br />

PS<br />

205<br />

lher sem constrangimento a literatura, os jornais ou as revistas!<br />

Como não seriam menos autónomas instituições como a Igreja, as<br />

forças arma<strong>da</strong>s ou as forças de segurança, a magistratura ou a<br />

diplomacia, os quadros técnicos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> ou os próprios jornalistas.<br />

Vozes <strong>do</strong> PS: — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — Em que situação de maior controle ou de dependência<br />

perante o arbítrio <strong>do</strong>s poderes públicos e <strong>da</strong>s decisões <strong>do</strong><br />

crédito não estariam a grande maioria <strong>do</strong>s industriais, <strong>do</strong>s comerciantes<br />

e <strong>do</strong>s agricultores?<br />

E quantos presos políticos ou exila<strong>do</strong>s continuariam a ser controla<strong>do</strong>s<br />

por um aparelho repressivo e ignóbil e bem mais dispendioso<br />

no seu aparato <strong>do</strong> que qualquer instituição livre <strong>da</strong><br />

democracia representativa?<br />

Vozes <strong>do</strong> PS e <strong>da</strong> UEDS: — Muito bem!<br />

O Ora<strong>do</strong>r: — Um regime desses não <strong>da</strong>ria a menor perspectiva de<br />

realização pessoal ou de esperança colectiva ao povo português e<br />

os sau<strong>do</strong>sistas <strong>do</strong> seu regresso não têm qualquer autori<strong>da</strong>de<br />

política ou moral para <strong>da</strong>r lições à democracia portuguesa.<br />

Aplausos <strong>do</strong> PS, <strong>do</strong> PSD, <strong>do</strong> CDS, <strong>do</strong> PPM, <strong>da</strong> ASDI e <strong>da</strong> UEDS.<br />

Muito há ain<strong>da</strong> por fazer e a atitude própria <strong>do</strong> pluralismo é a<br />

constante insatisfação com a obra realiza<strong>da</strong>, a crítica exaustiva aos<br />

erros cometi<strong>do</strong>s, a melhoria constante <strong>da</strong>s metas e <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s.<br />

Projecta<strong>do</strong> para democratizar, descolonizar e desenvolver, o 25 de<br />

Abril consumou o essencial de um programa democratiza<strong>do</strong>r e<br />

descoloniza<strong>do</strong>r, mas ain<strong>da</strong> se não sal<strong>do</strong>u por resolver a questão de<br />

desenvolvimento. Os índices preocupantes <strong>da</strong> estagnação agrícola e<br />

industrial, o aumento <strong>da</strong>s importações e a quebra <strong>da</strong>s exportações,<br />

o agravamento <strong>do</strong> défice <strong>da</strong>s contas públicas e o elevadíssimo sal<strong>do</strong><br />

negativo <strong>da</strong> balança de transacções correntes, a falta de uma<br />

política de estímulo ao investimento e o peso <strong>da</strong>s taxas de juro, a<br />

constante desvalorização <strong>do</strong> escu<strong>do</strong> e o plafond <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> externa, a<br />

subi<strong>da</strong> continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s preços e os níveis alarmantes <strong>do</strong> desemprego,<br />

to<strong>do</strong>s estes factores de forte incidência económica e social representam<br />

anomalias na concretização de um projecto de reforma e de<br />

progresso.<br />

O que tem vin<strong>do</strong> a ocorrer no campo <strong>do</strong> ensino, <strong>do</strong>s transportes, <strong>da</strong><br />

saúde e segurança social, <strong>do</strong> trabalho, <strong>do</strong> ambiente e quali<strong>da</strong>de de<br />

vi<strong>da</strong>, <strong>do</strong> urbanismo e <strong>da</strong> habitação ou <strong>da</strong>s comunicações não abona,<br />

por outro la<strong>do</strong>, em favor de um programa de desenvolvimento<br />

destina<strong>do</strong> à satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des básicas <strong>do</strong> povo português.<br />

Se se quer <strong>da</strong>r ao regime democrático uma dimensão<br />

concreta e positiva, torna-se imperioso não deixar degra<strong>da</strong>r por

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!